São Gonçalo: Depois do episódio, o policial se encontra afastado das atividades para tratamentoDivulgação
Publicado 03/10/2025 13:43
São Gonçalo - Dados do Anuário Brasileiro da Segurança 2025, divulgado recentemente apontam uma alta nos casos de suicídio entre policiais, superando até o número de agentes mortos em confrontos. O índice revela uma crise silenciosa de saúde mental que atinge as forças de segurança de todo país.
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Engana-se quem pensa que as estatísticas mentem ou que os casos podem estar longe de acontecer com um ente querido. A profissão policial possui particularidades que podem agravar o adoecimento psíquico, como o contato contínuo com situações de perigo, assédio moral, cobrança por metas, escalas abusivas, como a obrigatoriedade de trabalho em dias de folgas gerando uma sobrecarga física e mental, além do afastamento das relações familiares e insegurança jurídica, por exemplo.
Foi o caso da empresária Luana Souza, que se viu diante de uma situação de crítica com o esposo, policial militar do Rio de Janeiro. Segundo ela, o militar já vinha apresentando sinais de crise de ansiedade e depressão, conforme os laudos emitidos por profissionais da própria instituição. Ao término de um destes prazos para retomada das atividades, o militar apresentou nova crise, tendo atendado contra a própria vida dentro de casa. O caso aconteceu na noite da última terça-feira, em São Gonçalo, quando o mesmo chegou a ser socorrido por vizinhos, que rapidamente o levaram ainda desacordado para uma emergência hospitalar próxima e conseguiram impedir o ato.
“De que adianta a Polícia Militar fazer campanhas de conscientização e prevenção, que na verdade são vazias? A eficácia do cuidado à saúde mental não pode esbarrar com as burocracias do sistema. A tropa está doente e precisa se calar, pois os militares ainda são vistos como números por seus comandos que não podem baixar o efetivo. Precisei ver meu esposo atentando contra a vida por não suportar mais os conflitos internos para pedir ajuda de forma coletiva, não apenas por ele, mas por todos nesta mesma condição sanitária e com demanda de ajuda. Não vou me calar com tamanha falta de empatia que pode custar a vida de alguém. Assim como aconteceu conosco, várias famílias de policiais militares enfrentam o mesmo problema”, disse.
Segundo ela, a perícia médica da junta militar de Sulacap teria se negado a homologar o atestado e laudo de afastamento temporário emitido pelo hospital particular que efetuou os primeiros socorros, alegando que o Código Internacional de Doenças (CID) já era reincidente em um período inferior a 60 dias e que sendo assim, nada poderia ser feito até que o militar conseguisse uma nova consulta psiquiátrica com médicos da corporação, marcado para o mês seguinte.
“Um verdadeiro descaso e hipocrisia. É inaceitável que uma pessoa doente com risco de morte tenha que brigar contra as burocracias internas, estando ainda sujeito a punições disciplinares, visto que os atestados não homologados resultam em faltas, que podem acarrear nas prisões administrativas. Onde estão as urgências quando o assunto principal é a vida? Assim como a tropa sofre com os regimentos, os profissionais da saúde mental também, ao terem diagnósticos muitas vezes críticos, esbarrando com a inviabilidade de baixa em massa para não comprometer o efetivo. São apenas números”, relatou a esposa do militar.
Segundo a família, o mesmo já havia formalizado um pedido desesperado de ajuda, mas até então, ignorado. Depois do episódio, o policial se encontra afastado das atividades para tratamento. A família disse que irá entrar com um processo por negligência e omissão contra a corporação.
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