Publicado 19/08/2022 10:18
A data foi criada depois que mulheres lésbicas, frequentadoras de um famoso Ferro”s Bar, reduto de grupos LBT +, em São Paulo, foram proibidas de distribuir a publicação Chanacomchana, voltada para mulheres homossexuais. As ativistas e criadoras do impresso foram expulsas do bar no dia 19 de agosto de 1983, dando início ao maior movimento pelo reconhecimento dos direitos das mulheres lésbicas no Brasil.
Quase 40 anos depois, as lutas e desafios continuam os mesmos, e a falta de leis específicas para o público LGBTI+ continua sendo um dos grandes entraves para a implementação de políticas públicas que possam garantir direitos no mercado de trabalho, na educação e na socialização desta parcela, cada vez mais expressiva, da sociedade. Sobre esses desafios, O DIA ouviu, com exclusividade, a Socióloga e Professora Carol Quintana.
Quase 40 anos depois, as lutas e desafios continuam os mesmos, e a falta de leis específicas para o público LGBTI+ continua sendo um dos grandes entraves para a implementação de políticas públicas que possam garantir direitos no mercado de trabalho, na educação e na socialização desta parcela, cada vez mais expressiva, da sociedade. Sobre esses desafios, O DIA ouviu, com exclusividade, a Socióloga e Professora Carol Quintana.
O DIA: A sra. falou que não existem estatísticas sobre o quantitativo de pessoas homossexuais no Brasil. Em que medida isso afeta a política pública para esses grupos?
Carol Quintana: Para termos ações públicas nas mais diferentes áreas da sociedade é fundamental conhecer dados sobre quantas pessoas se autodeclaram gays, lésbicas, transexuais, entre outros. Não há política pública para esse público.
O DIA: Como professora, quais são as maiores dificuldades que a sra. percebe junto aos alunos LGBTQI+?
Carol Quintana: Bem, primeiramente é o bullying, a discriminação que começa, muitas vezes, na própria família e se estende para o ambiente escolar. Há muitos casos de abandono escolar por conta de situações de constrangimento, seja por parte de colegas ou até mesmo de professores. Por isso, acredito que a única forma de combatermos a intolerância é através da educação como forma de esclarecimento.
Carol Quintana: Para termos ações públicas nas mais diferentes áreas da sociedade é fundamental conhecer dados sobre quantas pessoas se autodeclaram gays, lésbicas, transexuais, entre outros. Não há política pública para esse público.
O DIA: Como professora, quais são as maiores dificuldades que a sra. percebe junto aos alunos LGBTQI+?
Carol Quintana: Bem, primeiramente é o bullying, a discriminação que começa, muitas vezes, na própria família e se estende para o ambiente escolar. Há muitos casos de abandono escolar por conta de situações de constrangimento, seja por parte de colegas ou até mesmo de professores. Por isso, acredito que a única forma de combatermos a intolerância é através da educação como forma de esclarecimento.
O DIA: A Unesco, agência das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura, criou a Escola sem Homofobia, projeto para formação de professores visando prepará-los para a escola inclusiva. Por que não houve continuidade dessa iniciativa no Brasil?
Carol Quintana: Acredito que a bancada fundamentalista religiosa no Congresso tenha sido responsável pela desarticulação dessa proposta. O movimento foi usado pela Direita de forma deturpada criando o conceito pejorativo de "kit gay", atribuído ao material impresso de esclarecimento sobre o que é ser LGTBI+. Isso teve uma imagem muito negativa e distorcida junto à sociedade e prejudicou enormemente as tentativas de promover o debate nas escolas e a conscientização dos estudantes, foi um grande prejuízo.
O DIA: Qual o impacto emocional de se descobrir nessa condição para o adolescente?
Carol Quintana: Esses jovens sofrem muito de transtornos psicológicos, justamente em uma fase tão difícil como a adolescência. Entendo que se trata de uma questão importantíssima de saúde mental, de políticas públicas, uma vez que é o maior índice de suicídios é na população LGBTI+.
O DIA: A sra. falou que muitas mulheres se dizem lésbicas quando na verdade são homens trans. Como é isso?
Carol Quintana: Na verdade, existe uma confusão entre o que é identidade de gênero, sexo biológico e opção sexual. Na mulher lésbica, ela se identifica com o gênero feminino e este corresponde ao seu sexo biológico, apenas a opção sexual é por mulheres. Já a mulher dita “homem trans”, ela não se identifica com seu sexo biológico.
O DIA: As políticas públicas na área de saúde deveriam ser diferentes para a mulher lésbica?
Carol Quintana: Sim, com certeza. Não se discute a saúde da mulher lésbica. A incidência de HPV e de hepatite é muito grande entre o público lésbico e isso não é divulgado. Muitas mulheres sentem vergonha de assumir sua condição homossexual ao ir ao ginecologista, por exemplo.
O DIA: Na campo da segurança pública, como a sra. percebe as agressões contra as mulheres lésbicas?
Carol Quintana: Houve um aumento de mais de 200% nos assassinatos dessas mulheres nos últimos dois anos. O lesbocídio se diferencia do feminicídio, pois o primeiro é determinado pela opção sexual da vítima. O maior exemplo foi o assassinato da Luana Barbosa, negra, lésbica, caminhoneira. Assassinada por policiais no interior de São Paulo em 2016. Os policiais continuam soltos e o caso foi arquivado pela Justiça Militar de São Paulo.
O DIA: Quais são os tipos mais comuns de discriminação que as lésbicas sofrem?
O DIA: A sra. falou que muitas mulheres se dizem lésbicas quando na verdade são homens trans. Como é isso?
Carol Quintana: Na verdade, existe uma confusão entre o que é identidade de gênero, sexo biológico e opção sexual. Na mulher lésbica, ela se identifica com o gênero feminino e este corresponde ao seu sexo biológico, apenas a opção sexual é por mulheres. Já a mulher dita “homem trans”, ela não se identifica com seu sexo biológico.
O DIA: As políticas públicas na área de saúde deveriam ser diferentes para a mulher lésbica?
Carol Quintana: Sim, com certeza. Não se discute a saúde da mulher lésbica. A incidência de HPV e de hepatite é muito grande entre o público lésbico e isso não é divulgado. Muitas mulheres sentem vergonha de assumir sua condição homossexual ao ir ao ginecologista, por exemplo.
O DIA: Na campo da segurança pública, como a sra. percebe as agressões contra as mulheres lésbicas?
Carol Quintana: Houve um aumento de mais de 200% nos assassinatos dessas mulheres nos últimos dois anos. O lesbocídio se diferencia do feminicídio, pois o primeiro é determinado pela opção sexual da vítima. O maior exemplo foi o assassinato da Luana Barbosa, negra, lésbica, caminhoneira. Assassinada por policiais no interior de São Paulo em 2016. Os policiais continuam soltos e o caso foi arquivado pela Justiça Militar de São Paulo.
O DIA: Quais são os tipos mais comuns de discriminação que as lésbicas sofrem?
Carol Quintana: Existe a hiperssexualização, fetichização, como se fôssemos objeto do desejo de fantasias eróticas de homens, e existe também diferença no mercado de trabalho. Por exemplo, uma lésbica mais feminina consegue se inserir em lojas de roupa, o mesmo não aconteceria se ela tivesse um aspecto mais masculino.
O DIA: Ainda sobre a violência contra o público lésbico, a sra. comentou sobre o estupro corretivo. Como é esse tipo de violência?
O DIA: Ainda sobre a violência contra o público lésbico, a sra. comentou sobre o estupro corretivo. Como é esse tipo de violência?
Carol Quintana: O estupro já é uma grande violência, mas, nesse caso, o homem quer “corrigir” a opção sexual. Existem frases ouvidas por essas vítimas como “agora você vai aprender a gostar de homem”. Revelando ainda mais o aspecto machista e intolerante da nossa sociedade.
O DIA: Como a sra. percebe o movimento lésbico em Teresópolis?
Carol Quintana: O coletivo LGBTerê é um movimento de muita força no nosso município, a começar porque na direção estamos eu, lésbica, e a Ágata Gisele, uma mulher trans, que se identifica como travesti. Normalmente, os movimentos LGBTQI+ são liderados por homens gays. Então, ter duas mulheres na condução do movimento já é uma grande conquista para Teresópolis.O DIA: Como tem sido a recepção por parte do poder público de Teresópolis quanto às questões lésbicas?
Carol Quintana: Eu protocolei um documento com mais de 600 assinaturas junto à Câmara Municipal de Teresópolis reivindicando políticas públicas para os grupos LGBTI+, mas não obtive nenhuma resposta.
O DIA: A Rocket Poc tem se mostrado como uma grande festa desse grupo. Em que medida a sra. entende esse tipo de evento?
O DIA: A Rocket Poc tem se mostrado como uma grande festa desse grupo. Em que medida a sra. entende esse tipo de evento?
Carol Quintana: A Rocket Poc é a maior festa LGBTI+ em Teresópolis. Este ano trouxemos até a Inês Brasil. Acredito que a importância deste tipo de evento está em permitir um espaço mais seguro para a sociabilidade desse público, pois há poucos espaços acolhedores na cidade.
O DIA: A sra. não acha que espaços específicos acabam por segregar ainda mais?
O DIA: A sra. não acha que espaços específicos acabam por segregar ainda mais?
Carol Quintana: Sim, sem dúvida. Mas por existir ainda muito preconceito, em espaços mais específicos para esse público as pessoas se sentem mais seguras. Nesse sentido, a festa Rocket Poc cumpre esse papel social e cultural. É preciso ocupar esses espaços.
O DIA: Recentemente houve a situação do casal de lésbicas que sofreu discriminação em um restaurante de Teresópolis no Dia dos Namorados. Qual é sua análise sobre o caso?
O DIA: Recentemente houve a situação do casal de lésbicas que sofreu discriminação em um restaurante de Teresópolis no Dia dos Namorados. Qual é sua análise sobre o caso?
Carol Quintana: Foi um caso claro de homofobia. Elas foram segregadas durante um evento de comemoração na frente de outras pessoas. Evidentemente, o restaurante usou de outros expedientes para convencer a opinião pública de ter havido um mal entendido.
O DIA: Foi aprovado em primeira instância na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, o último projeto da vereadora Marielle Franco sobre o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, comemorado no dia 29 de agosto, ao calendário do município do Rio. Em que medida isso representa uma vitória para o movimento lésbico?
Carol Quintana: Representa uma vitória na medida em que será mais um viés político para o Estado na luta pelos direitos da mulher lésbica. E também tem uma importância ainda maior por ter sido proposto pela vereadora Mônica Benício, viúva da Marielle Franco, negra, lésbica, vereadora assassinada por denunciar a milícia no Rio e ativista do movimento lésbico.
Carol Quintana: Representa uma vitória na medida em que será mais um viés político para o Estado na luta pelos direitos da mulher lésbica. E também tem uma importância ainda maior por ter sido proposto pela vereadora Mônica Benício, viúva da Marielle Franco, negra, lésbica, vereadora assassinada por denunciar a milícia no Rio e ativista do movimento lésbico.
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