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Quanto você vale? Para você mesmo, com certeza vale muito. E para os outros? Você é visto como uma pessoa que tem valor para sua família, seus amigos, na empresa onde trabalha? Vamos colocar a pergunta de outra maneira: se você morresse hoje, faria falta? Para quem? E por quanto tempo? Desculpe se estou sendo duro. Mas o julgamento das pessoas é, em geral, até mais. Não adianta bater no peito e dizer, eu fiz isso, eu fiz aquilo. Ou então a clássica frase: 'as pessoas é que não reconhecem meu valor'.

Conversa fiada. Dizem que ninguém é insubstituível. Todos podem ser substituídos, claro. Morreu, partiu, mudou. É preciso encontrar outra pessoa. Mas, se quer saber, seja numa empresa ou numa família, quem faz falta... faz falta. O Usain Bolt é mais rápido e a equipe da Jamaica seria menos competitiva sem ele. O U2 não seria o mesmo sem Bono Vox. E qual foi o produto inovador que a Apple lançou depois da morte do Steve Jobs?

Nas empresas, é fácil ver quem é descartável. Em geral, pessoas que têm medo de tirar férias, pois receiam que alguém note que não fazem falta. Se algum novo talento é contratado, se sentem ameaçadas. Vão perguntar para o chefe: ele veio ocupar minha vaga, corro risco de ser demitido? Já os competentes não se amedrontam. A ideia nem passa pela cabeça deles. Sabem que se faltarem a operação entra em risco.

Neste novo milênio, a questão ficou mais séria. Muitos trabalhadores estão valendo menos, sim. Simplesmente porque podem ser substituídos por robôs. Máquinas e mais máquinas estão tomando postos de trabalho. Não faltam, não conversam, não ficam doentes. Não recebem salário, FGTS e podem ser descartados sem multa trabalhista. Aliás, também não entram na Justiça para requerer horas de trabalho, indenizações, etc. Além de competir com os colegas, temos este novo e terrível desafio. É preciso se qualificar mais, estudar, se envolver com a mudança. E nada está garantido.

Mas não se apavore. Nós humanos resolvemos problemas há milhares de anos. Vamos continuar resolvendo. É preciso buscar valor onde ele se encontra. Onde? Na nossa incrível capacidade de sermos criativos, inovadores, perceptivos. E mais: na nossa capacidade de amar, de se envolver com nossos semelhantes, seres sociais que somos. Hoje, não basta criar uma empresa de sucesso. É preciso fazer isso respeitando os outros — homens e mulheres — de forma que não detone o meio ambiente, e que dê lucro e benefícios não só para você, mas para a comunidade onde sua iniciativa se insere. É possível.

A concentração de renda está aumentando e os ricos só estão ficando mais ricos. Mas não precisa ser assim. Os benefícios da tecnologia precisam ser repartidos entre todos. Em Atenas, há dois mil anos, 40 mil cidadãos não trabalhavam. Homens que viviam para a política e para a estética. Tinham alta qualidade de vida porque tinham seis escravos cada, em média. Esta devia ser a função das novas máquinas. Nos dar liberdade e tempo para contemplar a existência, fazer amigos, curtir a vida. Por que não? Parece uma utopia, mas não é impossível. Veremos. Falando em valor, aqui me despeço desta coluna. Acho que estou na 'muda', com mais perguntas a oferecer do que respostas... Claro que isso me deixa inseguro e cheio de dúvidas. Mas, quer saber? Isso é bom. Espero que você tenha gostado e aproveitado alguma coisa. Pra mim, valeu. Boa sorte!

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