Por Bernardo Costa

Mesmo com sensível queda nos índices de desemprego e aumento de contratações com carteira assinada, o número de trabalhadores por conta própria segue em ascensão no país. Diante desse cenário, traçado em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), analistas do órgão apontam para uma possível mudança estrutural no mercado de trabalho provocada pela chamada 'economia dos aplicativos', que passou a gerar renda para milhões de brasileiros.

A análise do instituto que chamou atenção para a nova dinâmica foi apresentada na Carta Conjuntural para o 4º trimestre deste ano, divulgada no dia 12. No estudo, verificou-se que o segmento de transportes foi o que registrou maior aumento de participação de trabalhadores por conta própria no 3º trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2018: 17,5%, ou 312.622 trabalhadores no país. Hoje, o segmento, que engloba os serviços de entrega de alimentos e transporte de passageiros por aplicativo, gera renda para dois milhões pessoas no país, segundo o Ipea.

"Mesmo com o mercado em recuperação, verificamos aumento de trabalhadores por conta própria especialmente no segmento de transportes. Acreditamos que seja reflexo da consolidação dos aplicativos. O crescimento de pessoas trabalhando nesses serviços está relacionado à mudança de comportamento dos consumidores e às dificuldades de conseguir emprego", aponta a pesquisadora Andréia Lameiras, do Ipea.

A falta de oportunidades no mercado de trabalho foi o que fez Hamilton da Silva Júnior, de 23 anos, ingressar no serviço de entrega de refeições por aplicativo.

"Vaga com carteira assinada não está tendo. Tive que entrar no aplicativo para pagar as contas. Ainda sobra um dinheirinho, mas é muito cansativo. Faço 10 entregas e chego a pedalar cerca de 30 km por dia", conta Hamilton, que trancou faculdade de administração e pretende cursar produção cultural no próximo ano: "Até lá pretendo deixar o trabalho com o aplicativo. Mas, no momento, o serviço está compensando".

Segundo Andréia Lameiras, a maior parte das pessoas hoje atua nos aplicativos de forma temporária, mas há um contingente que irá permanecer nesses serviços de forma mais prolongada. "Sabemos que muitos não irão retornar para suas profissões de origem. Isso porque encontraram maior flexibilidade nos aplicativos e até mesmo renda superior a que ganhavam anteriormente", diz.

É o caso de Raphael Alves, de 29 anos. Ele trabalhava como entregador em farmácia e alega que, com os aplicativos, consegue renda maior: "Para mim, está valendo a pena e pretendo prosseguir. Além de ganhar mais, recebo semanalmente. Se o gás acaba, não preciso esperar o mês terminar para poder comprar outro", diz Raphael.

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