Por gabriela.mattos

Brasília - O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, disse ontem que a situação política no Brasil é “mais do que preocupante” e apontou problemas éticos, jurídicos e políticos no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. De acordo com Almagro, há uma preocupação na OEA com a questão ética do julgamento pelo Congresso.

“Aqui temos uma pessoa que não tem nenhuma acusação, nenhum julgamento, nenhuma referência judicial, e entre os que a vão julgar encontramos nesse Congresso indiciados, acusados, suspeitos. Definitivamente na dimensão ética temos esse inconveniente também”, afirmou. “É mais que preocupante”.

Questionado se a OEA poderia tomar alguma atitude contra o Brasil, o secretario-geral afirmou que é cedo ainda e será necessário esperar pela segunda-feira para ver o resultado da votação pelo plenário da Câmara. Alertou, no entanto, que o Brasil poderá apelar à Carta Democrática da organização, se achar necessário.

O secretário-geral da OEA%2C Luiz Almagro%2C se reuniu ontem com a presidente Dilma Rousseff%2C em BrasíliaLula Marques/ Agência PT

A Carta prevê que, no caso de um país romper com a estabilidade democrática, pode ser suspenso da Organização. No caso, uma entidade, um jurista ou qualquer brasileiro pode provocar a OEA para que avalie a situação do país.

Ontem, o mais importante jornal dos Estados Unidos, o ‘The New York Times’,apontou na mesma direção. Publicou extensa reportagem em que destaca que o impeachment contra Dilma está sendo liderado por políticos que enfrentam uma série de acusações como corrupção, fraude eleitoral e até abusos de direitos humanos. “O que revela a hipocrisia entre os líderes brasileiros no debate nacional”, diz o texto que ressalta que a presidente não é acusada de roubar dinheiro público. “Uma raridade”, diz o jornal.

Com o título ‘Dilma Rousseff alvo no Brasil de legisladores que enfrentam seus próprios escândalos’, a reportagem nota que, no processo, a presidente brasileira “não enfrenta acusação de corrupção”. “Em vez disso, ela é acusada de usar dinheiro dos gigantescos bancos públicos para cobrir lacunas no Orçamento, danificando a credibilidade econômica do Brasil”.

"A senhora Rousseff, então, é uma raridade entre as grandes figuras políticas: Ela não é acusada de roubar dinheiro para ela mesma”, diz a reportagem do ‘Times’.

Em contraponto, a reportagem cita vários parlamentares favoráveis à saída de Dilma que enfrentam problemas nesse tema. O deputado Eduardo Cunha, por exemplo, é classificado como “o poderoso presidente da Câmara que lidera o esforço pelo impeachment e está em julgamento no Supremo Tribunal Federal sob a acusação de que embolsou US$ 40 milhões em propinas”.

Pronunciamento cancelado

A presidente Dilma decidiu cancelar o pronunciamento que faria ontem à noite em rede nacional de rádio e TV. Segundo fontes do Palácio do Planalto, o governo ainda vai avaliar se a fala da presidente vai ser exibida hoje ou amanhã ou se vai apenas ser divulgada nas redes sociais.

Inicialmente, a Secretaria de Comunicação do Governo planejara exibir o pronunciamento às 20h20 de ontem. O ato, às vésperas da votação do processo de impeachment na Câmara, fez com que o Solidariedade entrasse na Justiça para questionar se a presidente poderia usar o expediente para fins pessoais.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, esteve com Dilma no Palácio do Planalto e alertou para o fato de que eles poderiam ter problemas no futuro caso o pronunciamento fosse exibido.

Também havia o temor, entre aliados da presidente, de que a fala de Dilma causasse uma onda de panelaços e protestos, o que poderia criar um efeito negativo e influenciar deputados indecisos a votar a favor do impeachment amanhã.

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