Por karilayn.areias
Rio - Desde 1980, o produtor, gaitista e arranjador Rildo Hora não soltava um disco como cantor — o último, lançado naquele ano, foi ‘Rildo Hora e Sérgio Cabral’, só com composições da dupla. De volta ao microfone, ele vem acompanhado da filha Patrícia Hora no CD ‘Eu e Minha Filha’, no qual relembra antigas composições e repassa material que ficou engavetado. E vai continuar a cantar.
Patrícia (E) e Rildo Hora%3A voz em músicas enviadas para letristasDivulgação

“Já estou compondo o volume 3 da série de CDs com minha filha. E está sendo bem legal cantar com ela. Não é porque é minha filha, não, mas...”, brinca. Patrícia lembra que é seu primeiro disco, mas que, desde a adolescência, nunca parou de cantar. “Comecei como backing vocal aos 14 anos, na banda do Martinho da Vila. Fiz um vocal em ‘Seu Balancê’, do Zeca Pagodinho, que acabou chamando a atenção de muita gente”. Atualmente, ela trabalha com o pai botando voz nas demos que Rildo envia para letristas.

As primeiras composições de Rildo foram gravadas nos anos 60 (entre as mais conhecidas, ‘Menino Triste’, por Wilson Simonal, e ‘O Bem do Amor’, com Elis Regina, ambas de 1963). De lá para cá, rolaram sucessos ocasionais como ‘Os Meninos da Mangueira’, uma das composições da safra com Sérgio Cabral (gravada originalmente por Ataulfo Jr. em 1976 e resgatada para ‘Eu e Minha Filha’). Ele admite que bateu certa tristeza pelo pouco reconhecimento como compositor que teve nos últimos anos. “Mas comecei a produzir discos da Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, e não iria ocupar a vaga de um compositor que sempre sonhou em ter música gravada por eles. Compus para esses artistas quando me pediram, ou quando eram parceiros meus, como no caso do Martinho”, recorda.

O repertório do CD resgata mais um sucesso feito com Cabral (‘Visgo de Jaca’), parcerias com Dona Yvonne Lara (‘Coração Apaixonado’) e Martinho da Vila (‘Anda, Sai Dessa Cama’, feita para a peça infantil ‘Você Não Me Pega’). Do baú de composições de Rildo, na voz dele e de Patrícia, saem canções como ‘Gotas de Sal’, (parceria com Zélia Duncan, e com participação da própria), ‘Canção de Amor dos Beatles’ (feita com Ronaldo Bastos), ‘A Mulher Madura’ (com Affonso Romano de Sant’Anna). E uma parceria póstuma com Carlos Drummond de Andrade, ‘Verdade’, feita para um projeto do jornalista Célio Albuquerque, ‘Cantando Drummond’, que nunca saiu.

“Ficou uma canção curta, mas uma espécie de suíte popular, com várias partes”, diz Rildo. O arranjador e produtor tinha tido um breve contato com Drummond quando incluiu um poema dele na contracapa de ‘Rosa do Povo’, disco de 1976 de Martinho que produziu.
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“Para pedir autorização a Drummond, fui numa livraria que ele frequentava e deixei recado. Ele não gostava de usar telefone, mas me ligou, falei do que se tratava e ele liberou. Desliguei o telefone e falei: ‘Hoje não atendo mais ninguém!’”, brinca. “Quando passo pela estátua dele em Copacabana, sempre coloco a mão nela”.