Por daniela.lima

Rio - Seja rico ou seja pobre, pode chegar. “O ‘Esquenta’ não é só uma roda de samba. É como um almoço de domingo, com todos os tipos de convidados e assuntos”, define Regina Casé, saturada da imagem de que explora o povão e só frequenta festas em comunidades cariocas. 

Na coletiva de imprensa%2C para apresentação da nova temporada%2C foi montada uma exposição de fotos que o público postou no Instagram assistindo ao programaPatrícia Satavis


Se o Papa é pop, Regina também é, e não nega. Do morro ao asfalto, o que a apresentadora gosta mesmo é de misturar: “Quando alguém vai me criticar, diz logo: ‘Ela adora favela, mas mora no Leblon’. Eu nasci em Copacabana, o que posso fazer? Vender tudo para morar na favela? Sempre posto (nas redes sociais) fotos das minhas férias. Fico hospedada no melhor hotel de Paris e não tenho por que esconder. Tenho mil amigos ricos e mil amigos pobres. Liberdade, pra mim, é gostar de uma pessoa e ir à casa dela independentemente da cor da pele, se ela tem grana ou não. O que eu prego no meu programa não é que só é legal quem mora na favela. O que eu quero é ir ao samba e ao restaurante caríssimo. Acho que a gente tem que ter o melhor de todos os mundos”, constata a apresentadora.

“Tem gente que fala: ‘Regina, como você consegue entrar nesses lugares? Como tem tantos amigos pretos?’ Se você tiver amigos indistintamente, sem perguntar quanto eles ganham, onde moram; se têm assuntos em comum e se gosta de estar com eles... em um ano você terá milhões de amigos pretos, ricos, pobres. Agora, se você só andar com os colegas da época do colégio e com pessoas do mesmo bairro, aí só terá amigos iguais”, analisa. 

Regina Casé com o marido%2C Estevão Ciavatta%2C e o filho RoqueAg News


Mas ela não se põe apenas como vítima de um estereótipo. Regina admite que também foi preconceituosa quando esteve no baile de gala da amfAR, fundação sem fins lucrativos de pesquisa sobre a Aids, em São Paulo, semana passada. “Achei que fosse passar batida, que ninguém fosse falar comigo sobre o ‘Esquenta’. Mas aquelas mulheres grã-finas vieram me perguntar sobre o programa. Elas conheciam tanto que eu fiquei surpresa... É um ambiente que eu não frequento, não conheço aquelas pessoas, e foi uma ilusão achar que só falo para a classe C. Todos se sentem representados no meu programa. Esse é o segredo do ‘Esquenta’ ser tão quente”, esclarece.

Aos poucos, ela acredita que vem quebrando barreiras sociais com a atração. “Quem tem muita grana e que não conhece aquele universo morre de curiosidade. Todas essas senhoras finíssimas estão descobrindo um continente, um mundo de músicas e pessoas. Quando vou ao Celeiro (restaurante caro no Leblon), elas comentam: ‘Quanto tempo eu perdi sem conhecer o Péricles, sem um CD do Arlindo (Cruz). E olha que são mulheres chiques, que andam com bolsa Hermès (que custam de R$ 30 mil a R$ 190 mil). E o contrário também, porque quem não teve acesso à informação para conhecer as maravilhas que existem no mundo dos ricos está interessadíssimo”, defende Regina, que exemplifica: “Um dia, quando acabou uma gravação e eu ia para a vernissage da Beatriz Milhazes, no Paço Imperial, chamei todo mundo, Xande, Mumuzinho... Eles ficaram fascinados e eu descobri que nunca tinham ido numa galeria ou num museu. E eles não estão ilhados na favela, são artistas, mas tão segmentados que nunca tinham vivido aquilo. A gente faz essa ponte.”

E, como em coração de mãe sempre cabe mais um, Regina, aos 60 anos, depois de ter uma filha formada, Benedita Casé, de 24 (do casamento com o artista plástico Luiz Zerbini), resolveu reviver as dores e delícias da maternidade. Sem alardear em capas de revistas, ela adotou com o marido, Estevão Ciavatta, o pequeno Roque Casé Ciavatta, de 8 meses. “Eu sempre quis adotar, em todas as viagens que fiz, não só no Brasil. Sempre visitei abrigos. Mas vou te dizer, isso bateu mesmo em Moçambique, na África. Às vezes, não sabia para quem devolver a criança, nem queria, elas estavam soltas, sem ter quem cuidar. No programa, a gente aborda esse assunto toda hora, e isso foi me dando cada vez mais vontade também”, conta.

O desejo de adoção resistiu ao longo período que durou o processo. Foram oito anos até o casal conseguir na Justiça o direito de criar uma criança: “Tiramos uma licença de três ou quatro anos nesse período, porque meu marido sofreu um acidente muito grave (de cavalo, em 2008). Mesmo assim, foi um processo bem lento. A lei toma cuidado para defender as crianças, e com razão, mas acho que pode melhorar muito, para ser mais ágil”, deixa claro.
Para ela, é uma bênção poder ser mãe de novo. “Estou apaixonada. Nem parece meu filho, parece meu namorado. Fico contando os minutos para chegar em casa. Se vejo uma foto, meu coração dispara. Ele já foi ao ‘Esquenta’ várias vezes, ao Carnaval, Roque vai para tudo quanto é lugar comigo e segura a onda. O batizado dele foi católico, com bênçãos de várias religiões, como candomblé, budismo, evangélica. Queria que todos os meus amigos comungassem do mesmo sentimento. E ele não chorou. Minha vida é puxada, mas Roque vai comigo para onde eu for. Foi uma sorte grande para ele e para a gente esse encontro”, vibra.

Xande de Pilares continua nesta temporada do 'Esquenta'Divulgação


Outro ‘filho’ de Regina é o dominical, que volta à grade da Globo, hoje, com dois quadros novos: ‘O que Queremos para o Brasil’, com participações de Gilberto Gil e Gisele Bündchen, e ‘Visita Musical’, que promoverá um intercâmbio entre cantores. Em um deles, a funkeira Valesca Popozuda vai ensinar Tom Zé a dar beijinho no ombro. Dividido em módulos, o novo cenário móvel terá elevador e escada rolante, e mudará de acordo com o tema: “É quase uma escola de samba desfilando toda semana”, compara um dos criadores da atração, Hermano Vianna. Às vésperas da Copa do Mundo, haverá cinco programas ao vivo. “Ainda vamos entregar para a final. Dá um medinho, mas dá um gás. Estou apavorada”, diz Regina.

Ela aproveitou o lançamento da quarta temporada do ‘Esquenta’, em São Paulo, para inaugurar a exposição de fotos tiradas por telespectadores enquanto assistiam ao programa, ano passado. Todas postadas nas redes sociais. “Esse foi o jeito mais fácil de ver quem está me vendo”, comenta.
O fato de ser uma das poucas mulheres a apresentar um programa no domingo não mexe com o ego dela: “Nem lembro que sou mulher. Costumo dizer que sou um negão de 16 anos. Para estar no lugar que a gente está, tem que ser bom de briga. Acho chata a programação segmentada, programas só para criança, ou só para mulheres. O ‘Esquenta’ se propõe a variar os assuntos. Festa boa tem que ter a gordona, a bichinha, o preto, o branco, o pessoal da terceira idade.” 

FAMÍLIA QUENTE

Em time que está ganhando não se mexe. Por isso, a trupe de Regina Casé continua a mesma na quarta temporada do ‘Esquenta’. Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Péricles, Mumuzinho e Leandro Sapucahy seguem no comando musical. Já Luane Dias foi promovida a ‘consultora de moda’. No quadro #Luane, o internauta manda uma foto para ela avaliar o look. MC Ludmilla é a única que não faz parte do elenco fixo, mas é a nova aposta da apresentadora: “Ela é o Mumuzinho de saia.”

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