Rio - Edir Macedo, pastor, líder da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record lançou nesse domingo o Jejum de Jesus, um decreto no qual pede aos fiéis que abram mão da diversão, da informação e parem de assistir à televisão durante 40 dias a partir de 10 de junho.
"Nós vamos começar o jejum de Jesus, um jejum de informação, de rádio, televisão, distrações e diversões. Enfim, nós estamos propondo que vocês tenham esta experiência com Jesus para que se tornem novas criaturas", diz ele em vídeo publicado na conta oficial da Universal no Youtube.
De acordo com a assessoria de imprensa da Universal, o motivo do jejum é a inauguração do Templo de Salomão, em São Paulo. “É uma data histórica para a Universal e todos os que têm apoiado este projeto nos últimos quatro anos. Esta é a razão do Jejum de Jesus. Na Bíblia, o jejum e o período de 40 dias são marcos de uma nova etapa na vida dos que creem. E nós cremos que o Templo de Salomão iniciará uma nova etapa para a Universal e para o Brasil.”
No vídeo, Edir Macedo sugere formas curiosas de se realizar o jejum. Ele prega o sacrifício midiático e tecnológico durante quarenta dias, período em que, por coincidência ou não, será realizada a Copa do Mundo, exibida exclusivamente pela Globo.
“Nós estaremos fora da Copa por completo. Sem futebol, sem diversão, sem cinema, sem televisão. Você terá direito apenas a assistir a séries sobre Jesus, os milagres de Jesus. Filmes bíblicos que falem de Jesus”, deixando claro que um de seus focos é atingir a audiência da concorrente e a cobertura da Copa do Mundo, da qual a Record está fora.
Novela 'Vitória' estreia neste período
A medida deve atingir em cheio a audiência da nova novela da emissora, "Vitória", a partir da segunda semana de exibição da trama, prevista para estrear em dois de junho. Segundo informações do representante da igreja esse não é um problema deles. "A Universal não toma decisões espirituais baseadas na audiência de qualquer canal de televisão."
De acordo com uma pessoa da produção da trama, no RecNov, no Rio de Janeiro, nenhuma orientação ou manual de regra foi estipulado ainda para o caso e todos seguem trabalhando e atuando normalmente. O que corre nos bastidores é o desânimo de atingir as expectativas, a audiência esperada pela emissora e o prazer de fazer um trabalho de sucesso. “Estamos sendo boicotados antes mesmo de começar.”
Na sede da Record em São Paulo, no bairro da Barra Funda, cerca de três mil funcionários e prestadores de serviço foram pegos de surpresa com a ação do patrão e líder religioso. Apesar de não haver notificações nos corredores da emissora, a noticia se espalhou rápido.
Uma seguidora da Igreja Universal que trabalha no local explica que foram dadas opções aos fiéis que não podem deixar de assistir à televisão por conta de suas funções na empresa. “Como o jejum não é obrigatório e só fará quem quiser, quem optar por seguir e não puder ficar fora da TV, como eu, pode cumprir o jejum de outra forma, como abrindo mão do cinema, do rádio e até de música e comida”, explicou ela, que preferiu não ser identificada com receio de possíveis represálias.
A atriz Flávia Monteiro é uma das contratadas da emissora, e está no elenco de “Vitória” e da próxima série da emissora “Plano Alto”. Ela, que desconhecia o jejum, afirma que não vai fazer parte.
“Não faço parte da igreja, minha religião é outra, então só trabalho na empresa do Edir Macedo. Da minha parte vou continuar assistindo à televisão e fazendo minhas coisas, principalmente porque vivo de televisão, da divulgação do meu trabalho e da mídia”, disse ela, que não consegue ponderar o quão ruim para a emissora e a novela uma decisão desta pode se tornar.
“Não sei se afeta nós atores, porque nosso trabalho continuará a ser feito. Porém, se as pessoas seguirem à risca estas orientações, vai prejudicar, sim, a novela. Espero que no global, tudo acabe bem no assunto audiência."
O iG entrou em contato com a assessoria de imprensa da Record, porém, até o momento da publicação desta reportagem, não houve retorno.