Por daniela.lima

Rio - Uma multidão toma as ruas do Rio para protestar contra a corrupção. Em meio à passeata, um grupo de black blocs entra em confronto com a polícia. Tiro, porrada e bomba! Com imagens das grandes manifestações do ano passado fundidas a cenas de ficção, é assim que começa a minissérie ‘Plano Alto’, que estreia hoje, às 23h30, na Record. Às vésperas da eleição, a trama do autor Marcílio Moraes mostra, em 12 capítulos, os bastidores da política, com direito a escândalos, orgias, traições e até um assassinato, mas sem citar políticos e partidos reais. 

Minissérie 'Plano Alto' vai usar cenas reaisDivulgação


“Procurei focar mais nos mecanismos do poder, nos bastidores, na engrenagem que movimenta a luta pelo poder”, explica Marcílio, que foi militante nos anos 60 e não acredita que algum político vista a carapuça e fique incomodado. “Todos os lados que estão na luta política podem assistir à minissérie sem se sentirem atacados ou acusados”, garante.

A série conta a história de três gerações de políticos contestadores, que representam manifestantes de diferentes épocas do país: o governador Guido Flores (Gracindo Jr.), que participou da luta armada nas décadas de 60 e 70; seu filho, o deputado federal João Titino (Milhem Cortaz), que foi cara-pintada da era Collor, e o neto Rico (Bernardo Falcone), que acaba se envolvendo com black blocs. Bem cotado para se candidatar à Presidência da República, Guido fica encurralado quando é acusado de desvio de verbas públicas, e uma Comissão Parlamentar de Inquérito é aberta para apurar as denúncias contra ele.

“Ele não é corrupto”, afirma Gracindo Jr., que atribui a um antigo assessor do gabinete do governador a culpa pelos desfalques. “O governador vai à CPI, mas não há provas, só suspeitas. Mas, se um assessor faz algo errado, ele tem que ser o responsável.”

João Titino (Milhem Cortaz)%3A deputado federal combativo%2C filho de Guido%2C foi cara-pintada Divulgação

Na juventude, Gracindo foi ligado ao Partido Comunista e chegou a ser impedido de falar na Rádio Nacional por soldados do Exército quando criticava a ditadura, em 30 de março de 1965. Hoje, apesar de estar indeciso de seu voto no domingo, o ator ainda mostra otimismo com o país. “Minha atuação política não é mais tão presente, mas meu pensamento é o mesmo. Ainda acredito num Brasil melhor, com pessoas mais conscientes.”

O discurso de Milhem Cortaz também é de esperança. O ator conta que seu personagem representa um tipo de político raro, mas que ainda existe por aí. Apesar da relação distante com o pai, João Titino é um fiel aliado do governador. “Ele é um cara que acredita na política e tem milhares de boas intenções. Eu acredito também, lógico! Meu nome é Milhem, que em árabe significa esperança, que é a última que morre. Tenho muita esperança no meu país. Se não acreditasse, já teria ido embora daqui”, diz o ator.

Em 1992, Milhem foi um dos jovens caras-pintadas que saíram às ruas para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor. No entanto, ele confessa que ficou desapontado com os protestos de junho do ano passado. “Fui a uma manifestação na Faria Lima, em São Paulo, e foi muito decepcionante. Parecia uma rave. As pessoas tiravam foto, tocavam violão, vendiam CD, namoravam, queriam fazer foto comigo. Pensei: ‘Não estou aqui pra passear, estou pra protestar’. Achei a manifestação confusa.”

Bernardo Falcone, Carla Diaz, que interpreta a estudante de jornalismo e ativista Lucrécia, e Mariah Rocha, que dá vida à ambiciosa jornalista Paula, gravaram cenas de manifestações no Centro do Rio e na cidade cenográfica da Record. As sequências contaram com mais de 300 figurantes e 50 dublês. “Era bem real e assustador. A gente chegava no set e falava: ‘O Caveirão está aí.’ A equipe tinha o maior cuidado para a gente não se machucar”, conta Bernardo, que, junto às atrizes, fez uma preparação de um mês com a equipe de dublês de Jorge Só.

Rico é preso injustamente logo na primeira manifestação, mas solto por influência do pai e do avô. A partir daí, ele se engaja na luta contra a violência policial e vira black bloc. O mesmo acontece com Lucrécia, que acaba se envolvendo com o rapaz. “Não precisei de laboratório. Quando saíram notícias de que eu faria uma black bloc, integrantes do grupo me procuraram para falar de suas ideias e seus ideais. A Lucrécia representa milhões de pessoas que foram às ruas por um Brasil melhor”, destaca Carla Diaz, que participou de uma manifestação pacífica ano passado.

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