Por tabata.uchoa

Rio - Solar, o Rio de Janeiro, que completa 450 anos hoje, nasceu para ser protagonista... de novela. Inspiradora para muitos autores, a cidade que já emprestou as suas formas desconcertantes e o jeito único do seu povo para inúmeras produções está prestes a voltar para o horário nobre da Globo. E o Leme foi o cantinho do Rio escolhido para ser cenário de ‘Babilônia’, nova novela das 21h, que estreia dia 16 de março. No morro que dá nome à trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, vive a advogada Paula, papel da ‘cariúcha’ Sheron Menezzes.

“Sou uma mistura de carioca com gaúcha. Mesmo antes de pensar em ser atriz, eu queria morar no Rio. Via as imagens da cidade nas novelas e ficava encantada. Eu vim para o Rio para trabalhar, para fazer ‘Esperança’ (2002), e não quis mais ir embora. Não era contratada da Globo, mas avisei para a minha mãe que não ia voltar para Porto Alegre (RS) e que ia ficar no Rio. E fiquei!”, orgulha-se a atriz.

Atores e autores contam por que a cidade%2C cenário de vários folhetins%2C é maravilhosaDivulgação


Carioca de carteirinha, Gilberto Braga ambientou todas as suas obras no Rio por um motivo muito simples. “Só morei aqui, essa é a cidade que eu gosto. O povo que eu conheço é o carioca”, diz. Já a escolha do Leme para ser o habitat dos personagens de ‘Babilônia’ é mais complexa. “O Leme é o bairro carioca que tem três classes: os pobres no morro, a classe média nas ruas internas e ricos na Avenida Atlântica”, explica o autor, que mora no Arpoador.

O carioca Ricardo Linhares não vê como problema nem as dificuldades de se gravar em meio à correria da cidade. “Antes de a novela estrear, é mais simples gravar nas locações, porque há mais tempo para a logística da produção. Com a novela no ar, complica bastante o deslocamento do elenco e a reserva dos locais. Mas todo esse esforço vale a pena quando vemos as imagens. O Rio é solar. E ‘Babilônia’ é 100% carioca. As imagens da praia do Leme são radiantes”, vibra.

Coautor de ‘Babilônia’, João Ximenes Braga é outro entusiasta da Cidade Maravilhosa. “Sou carioquíssimo. Tenho tatuado na panturrilha direita o calçadão de Copacabana e na panturrilha esquerda um grafismo da Praça da Cinelândia. O Rio é o cenário mais bonito que o caos podia ter encontrado para se instalar”, filosofa Ximenes Braga.

Sheron Menezzes já elegeu o seu point preferido na Cidade Maravilhosa. “É muito gostoso ir à noite na Pedra do Leme com os amigos. Eu não bebo, mas a galera toma uma cerveja gelada.” Mais Rio, impossível!

‘BABILÔNIA’

Camila Pitanga, protagonista da nova novela das 21h, é a personificação da mulher carioca. “A Regina é a cara do Rio por trabalhar em uma barraca de praia e por ter a malemolência, a simpatia e a irreverência das cariocas”, diz João Ximenes Braga. Já Ricardo Linhares elege outro personagem como representante do perfil do carioca em ‘Babilônia’. “O Luís Fernando (Gabriel Braga Nunes) é um cara que se acha esperto, relaxadão, que sempre dá um jeitinho para se safar dos problemas. É uma atualização do clássico malandro carioca. Ele é do bem, mas é transgressor e só pensa em si mesmo. Nunca esquenta a cabeça com problemas. E troca qualquer compromisso por um mergulho no mar do Leme”, adianta. Gilberto Braga faz coro com Linhares. “Luís Fernando é a cara do Rio.”

ZONA NORTE COMO CENÁRIO

A Tijuca dos anos 50 foi retratada por Gilberto Braga em ‘Anos Dourados’. Na minissérie, o autor contou a história de Lurdinha (Malu Mader), normalista do tradicional Instituto de Educação, e Marcos (Felipe Camargo), estudante do Colégio Militar. Através do amor do casal protagonista, o autor abordou temas como a repressão sexual e a hipocrisia da sociedade carioca da época. Criado em Vila Isabel e morador do Arpoador, Gilberto Braga é um apaixonado pela cidade. “O Rio de Janeiro é a melhor cidade do mundo. Se eu pudesse dar um presente para a cidade nesse aniversário de 450 anos, seria o fim da violência, que está assustadora”, alerta o autor.

RETRATO DA LIBERDADE

Como na maioria das suas obras, Gilberto Braga ambientou ‘Pátria Minha’ na Zona Sul carioca. A cidade serviu de cenário para abordar um tema sempre atual: corrupção. Na trama, Alice (Cláudia Abreu) era uma estudante idealista que fazia oposição ao poderoso Raul Pelegrini (Tarcísio Meira), o dono de um conglomerado de empresas, comprometido com negócios inescrupulosos. Longe das questões políticas, a jovem tinha a mãe, Natália (Renata Sorrah), como sua melhor amiga. Fruto de uma produção independente, Alice tinha liberdade para conversar abertamente com a mãe sobre tudo. Sexo e outros temas considerados tabus estavam sempre no papo da duas. Os momentos de lazer de mãe e filha eram na Lagoa Rodrigo de Freitas. Quando andavam de patins, Alice e Natália levavam à cena um modismo da época.

SURFISTAS EM CENA

Antonio Calmon e Walther Negrão criaram uma história que tinha a praia como protagonista. O surfista Gaspar (Nuno Leal Maia) e os seus cinco filhos estavam sempre no mar. Saldanha (Evandro Mesquita), o dono do quiosque, ganhava a vida em meio a um cenário paradisíaco. Evandro se lembra bem do tempo que fez a novela ‘Top Model’. “Foi demais, era muito legal gravar na Praia da Macumba. Passar o dia inteiro na praia era muito bom, mas me me deixou marcas. Tomei 23 pontos com uma pranchada que levei surfando antes de uma gravação”, recorda. Evandro lembra ainda do inseparável parceiro de cena. “Apesar do Nuno ser de Santos, ele fazia muito bem um carioca. Mas eu sou carioca da gema mesmo. Cresci no Arpoador, gosto de tudo, das praias, das montanhas e, claro, do povo carioca, que recebe muito bem todas as pessoas que vêm de fora.”

QUASE SEM QUERER

Criar personagens cariocas e desnudar seus romances, tragédias e comédias no Rio aconteceu na vida de Carlos Lombardi por acaso. “Escrevi ‘Quatro Por Quatro’ se passando em São Paulo, mas, como a Globo precisava produzi-la a toque de caixa, ambientei a história no Rio, para agilizar as gravações. Mudei a construção dos personagens, o modo de eles falarem. O resultado é que a Babalu (Letícia Spiller) e o Raí (Marcello Novaes) ficaram descaradamente cariocas. Eles eram pra fora e se julgavam espertos, ou seja, eram a síntese do carioca”, diz Carlos Lombardi.

O LEBLON DE MANECO

O paulistano Manoel Carlos não só captou a alma do carioca depois de se mudar para o Rio, como escolheu a cidade para ambientar as suas tramas conhecidas pela contemporaneidade. O autor ainda transformou o Leblon em uma marca registrada. Era no bairro que Maria Eduarda (Gabriela Duarte), de ‘Por Amor’, e tantas outras personagens, celebravam a alegria ou lamentavam as tristezas da vida. Maneco e Leblon são praticamente a mesma ‘pessoa’.

PISTA EM COPACABANA

Camila Pitanga roubou a cena na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares na pele de uma garota de programa que fazia ponto na Avenida Atlântica. “Quase todos os personagens moravam em Copacabana. Foi ótimo mostrar o dia a dia do bairro. Uma cena marcante para mim foi quando a prostituta Bebel veio da Bahia, crente que mudaria de vida, e descobre que caiu na lábia do cafetão Jáder (Chico Diaz). Sem dinheiro nem lugar para ir, ela dorme nas areias da Praia de Copacabana. E acorda no maior susto, com uma bola de vôlei batendo na sua cara”, recorda Linhares.

GAROTA DA LAJE

A devoção ao Santo Guerreiro e o dia a dia dos moradores do Complexo do Alemão foram os ingredientes principais da novela de Glória Perez. O figurino das moradores da comunidade logo chamou a atenção. Lurdinha (Bruna Marquezine) abusa dos shorts curtos e dos decotes ousados. E as cenas de biquíni eram responsáveis por elevar a temperatura da TV. Tomar banho na laje fazia parte da rotina de Lurdinha, que transformou sua intérprete em símbolo sexual. Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues) era outra que exibia sua boa forma no Alemão.

O SUBÚRBIO CARIOCA foi retratado no bairro fictício do Divino, reduto da família do jogador de futebol Tufão (Murilo Benício), que depois de se consagrar no Flamengo criou o Divino Futebol Clube. Rico, Tufão caiu na lábia da perigosa Carminha (Adriana Esteves) e levou fama de marido traído. Criado na Zona Sul do Rio, o autor João Emanuel Carneiro foi fiel ao retratar os costumes de um bairro inspirado em Madureira, com a sensualidade da periguete Suelen (Isis Valverde), o comércio popular e o baile charme.

RIO ANTIGO

As transformações que a cidade sofreu no início do século XX foram destaque na novela de João Ximenes Braga e Cláudia Lage. “O que me inspira mais no Rio é o caos. Esse caos urbano está muito claro em ‘Lado a Lado’, com os cortiços acabando, o início das favelas e, ao mesmo tempo, os ex-barões do café morando em mansões lindíssimas. Todo esse caos que começou na época de ‘Lado a Lado’ culminou com o que a gente está mostrando em ‘Babilônia’”, diz Ximenes Braga.

ENCANTAMENTO

A chegada dos monges budistas (vividos por Caio Blat, Ângelo Antônio e Fábio Yoshihara) ao Rio foi uma cena simbólica de ‘Joia Rara’, de Duca Rachid e Thelma Guedes, que era ambientada em 1934. “O Rio é cenário das minhas novelas porque é uma cidade admirada no mundo e que é o mais perfeito retrato do Brasil urbano. É uma cidade que me inspira pelo seu charme. A parte ruim é que o público cobra muito a verossimilhança do local”, diz Duca Rachid.

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