Por roberta.campos
'Não me acho sexy', diz Camila Queiroz Divulgação

Rio - Camila Queiroz sonhava ser angel da famosa marca de lingerie Victoria’s Secret e chegou a passar pelo rigoroso processo de seleção para fazer parte do cobiçado casting. “Eu fiz teste. Não para o desfile, para as campanhas. Mas eles são muito exigentes com o corpo, é um trabalho difícil”, avisa a atriz, que está no ar em ‘Êta Mundo Bom!’, como Mafalda.

Se não deu sorte por lá, por aqui, ironicamente, foi com o papel de Angel que a paulista de Ribeirão Preto saiu, da noite para o dia, do anonimato e alcançou um sucesso meteórico na novela das 23h ‘Verdades Secretas’, de Walcyr Carrasco. Não bastasse o desafio de interpretar uma aspirante a modelo, que virou garota de programa e amante do padrasto, Camila, de cara, precisou tirar a roupa e protagonizar cenas de nudez e de sexo — para veterano nenhum colocar defeito — em sua estreia na televisão.

“Eu não podia ter começado de forma melhor. Me doei muito, mais do que 100%, me entreguei e vivi cada segundo intensamente. O nu nunca vai ser fácil, é difícil para qualquer pessoa se expor nesse grau. Tem gente que tem mais facilidade, outras não. Eu não tinha. Mas, a partir do momento que eu entendi que a história daquela menina precisava ser contada daquela maneira, fiquei mais calma com a situação. Os meus parceiros de cena foram incríveis”, lembra.

Dona de uma beleza natural, Camila ainda não se vê como um mulherão: “Não me acho sexy. Acho que tem meninas mais sexy do que eu.” A personagem aguçou o imaginário do público, mas ela diz que soube se impor e, com isso, evitou cantadas de mau gosto: “Nunca deixei chegar nenhum comentário ofensivo, maldoso.” Só que não demorou muito para Camila virar alvo das revistas masculinas para posar nua. “Recebi convites da ‘Playboy’ e da ‘VIP’, mas não tem a ver comigo. Não é um sonho fazer um ensaio nu. Sou introvertida em relação ao corpo”, frisa.

De ninfeta a caipira, a atriz mostrou a que veio e chegou para ficar, sem cair nas armadilhas da fama. “É muito fácil se perder, ficar deslumbrada, porque é muita gente falando que você é a melhor. Se eu acreditar nisso estou ferrada, porque eu não sou. Tenho que conquistar meu pedacinho todos os dias. É tudo uma grande ilusão”, constata.

Madura para a pouca idade, 22 anos, a paulista, antes de ganhar status de protagonista e ostentar uma estreia bem-sucedida, passou por maus bocados na carreira de modelo. Desde almoçar macarrão instantâneo a jantar biscoito de água e sal. “Já fiz muito trabalho de graça. Meu primeiro cachê foi algo em torno de R$ 400. Só o aluguel do apartamento era R$ 600. Já me roubaram comida, roupa... O mundo da moda é ingrato. A gente, muito cedo, aprende a se virar sozinha. Eu não tive adolescência.”

Triângulo amoroso: Mafalda entre Zé dos Porcos (Anderson Di Rizzi) e Romeu (Klebber Toledo)Divulgação


Escolada, Camila valoriza cada centavo que ganha: “Nunca tive dinheiro sobrando para comprar uma bolsa cara, uma joia. Não fui criada com esses luxos. Todo dinheiro que recebo, até hoje, é para conforto e família.” Ela também não se deixou seduzir pelas tentações do universo fashion: “Era tudo muito fácil, festas, bebidas... Drogas, eu nunca tive curiosidade de experimentar. Sempre fui muito focada. Demorei cinco anos para ir à minha primeira balada em São Paulo. Não deixei minha casa para isso. Deixei para conquistar meu lugarzinho, para ganhar meu dinheiro.”

No campo sentimental, a atriz toma as rédeas da situação e diz nunca ter sofrido uma decepção amorosa, como sua personagem na novela das seis. “Não passei por isso, mas acho que mentira e traição fazem mais mal para quem fala e faz do que para quem recebe. A gente tem que evoluir e saber perdoar. Guardo para mim o que me machuca.”


Humilhação mesmo, ela só passou em sua época nas passarelas. Hoje, com o nome supervalorizado no mercado publicitário e conhecida nacionalmente, é Camila quem dá as cartas e se recusa a trabalhar para certas grifes. “Por acharem que modelo é cabide e esquecer que a gente é ser humano. Eu tinha 15 anos, pesava uns 53 kg e escutava que era gorda. Era cruel. Já me espetaram toda com alfinetes por maldade. Agora, como atriz, o comportamento é completamente diferente, mesmo estando alguns quilos (uns 5 kg) acima do peso. Se naquela época eu era gorda, hoje o que eu sou para eles? Não vendo uma marca que eu não concordo com a política”, enfatiza.

Na emissora, a artista também teve que lidar com olhares atravessados de alguns veteranos. “Preconceito sempre tem, né? É uma pena, porque assim como eles eu estou me esforçando para fazer o melhor, com amor ao ofício sempre. Não foi nada de graça. Lutei para estar aqui e fiz muitos testes até ser aprovada. Não entrei na Globo para ser celebridade, entrei para ser atriz, acima de qualquer vaidade”, ressalta ela, que não poupa nem a invejada cabeleira se o papel valer a pena: “Eu raspo a cabeça se a personagem merecer. Para a Mafalda não estou fazendo sobrancelha, nem as unhas.”

A atriz como a modelo Angel%2C de 'Verdades Seretas'Divulgação



Aos 20 anos, a caipira está descobrindo sua sexualidade. Em casa, Camila conta que não se sentia à vontade para falar sobre sexo. Foi na escola que ela tirou suas dúvidas: “Somos três filhas, e a gente nunca teve tanta liberdade. Era na sala de aula que eu me informava. Óbvio que se a gente perguntasse para os nossos pais eles iriam responder, mas sempre fomos muito tímidas.”

O primeiro beijo, ela lembra, foi no teatro. “Aos 16 anos, após assistir a uma peça. Depois namoramos por uns quatro anos. Nunca fui namoradeira”, reforça a paulista, que namora o modelo Lucas Cattani há três anos. “A gente deseja a felicidade um do outro, não tem inveja, quer o melhor. Acho que amar é isso, é não precisar ficar provando em rede social que você gosta o tempo todo, é ajudar a crescer e isso a gente soube fazer bem. É um exercício diário. Ele foi tranquilo (com as cenas de sexo). Eu seria mais ciumenta. Canceriana, né?”

Assim que a produção chegar ao fim, Camila pretende investir nos estudos. Por não se sentir apta, recusou uma proposta de trabalho internacional: “Recebi um convite para fazer um longa lá fora, mas achei melhor adiar porque eu sei que estou começando agora. Não quero dar um passo maior do que a perna. Tudo no seu tempo. Filme é uma coisa que é eternizada, quero estar preparada.”

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