Pietro Fittipaldi carrega no sobrenome o peso do seu avô Emerson, bicampeão de Fórmula 1, e também o sonho de manter a tradição da família na categoria. Piloto de testes da Haas aos 22 anos, o brasileiro nascido nos Estados Unidos já participou de cinco testes e tem trabalhado bastante nos simuladores da equipe americana. Com passagens por Fórmula Indy, WEC (Mundial de Endurance), Super Fórmula japonesa, além dos títulos de categoria de acesso da Nascar, de World Series V8 e de Fórmula Renault britânica, o próximo passo é conseguir uma vaga na principal categoria do automobilismo em 2020.
Pietro pode ser o primeiro brasileiro no grid desde 2017, quando Felipe Massa se aposentou, e o quarto Fittipaldi na categoria. Além do avô Emerson, o tio-avô Wilson e o primo Christian também já correram na categoria. Para isso, dividirá a temporada 2019 entre a Haas e competirá no DTM (campeonato alemão de turismo), pela WRT Audi, para conseguir a pontuação necessária para tirar a superlicença, que permitirá disputar os GPs de Fórmula 1.
O DIA - Como tem sido a experiência na Fórmula 1? O que tem sentido mais facilidade e qual a maior dificuldade?
Pietro Fittipaldi - Estou bem satisfeito porque consegui cumprir bem meus primeiros testes, além de passar e receber bons feedbacks da equipe. A Haas está começando muito bem a temporada 2019 e fico contente em poder ajudar no desenvolvimento do carro. Facilidade é com certeza o entrosamento com a equipe e bom relacionamento no box. A dificuldade é sempre o próximo desafio que está por vir. Acredito que o caminho pra chegar na Fórmula 1 é difícil, mas para se manter nela é ainda mais complicado. Vou lutar sempre para me manter lá.
Nesse primeiro momento você trabalha bastante com simulador. Está satisfeito com o que tem apresentado?
Estou satisfeito, sim. Tenho feito vários testes, acompanho de perto os finais de semana de GPs e também participo das reuniões nos boxes. Eu trabalho bastante no desenvolvimento do carro no simulador, treinei na pré-temporada e fiz recentemente o teste no Bahrein. Já completei mais de 180 voltas pela Haas, aproximadamente 3 GPs, e meu objetivo inicial é seguir ajudando a equipe no desenvolvimento do carro.
A equipe tem elogiado seu retorno técnico. Considera o ajuste de carro como seu ponto mais forte?
É difícil falar de apenas um ponto forte, mas tenho certeza de que a equipe tem gostado bastante das minhas avaliações, e isso tem ajudado no acerto dos carros para os finais de semana de corrida. Meu objetivo é que meu ponto mais forte seja minha performance em corrida e vou trabalhar para que isso aconteça.
Em entrevista ao O DIA em setembro de 2015 você disse que tinha o objetivo de chegar à Fórmula 1 em três anos. Você foi anunciado pela Haas em novembro de 2018 e testou no mesmo ano. Está satisfeito?
Eu cheguei à Europa com 16 anos e morei sozinho por três ou quatro anos, passando por diversas categorias. Esse amadurecimento pessoal e profissional me ajudou muito a chegar até aqui. A partir do momento em que você se torna um piloto profissional, você sempre busca novos objetivos como pódios, vitórias e títulos, mas chegar na Fórmula 1 já é um grande objetivo para muitos pilotos. Poucos têm essa oportunidade, então me sinto bastante confiante para realizar o meu trabalho na Haas. Sei que essa é uma chance única na minha carreira e também o passo mais difícil a ser dado antes de chegar a ser um piloto titular.
Você ainda não tem a superlicença para competir na Fórmula 1. Como anda o processo?
Só quem pode fazer o pedido da Superlicença é uma equipe de Formula 1. Minha prioridade agora é fazer um bom trabalho e mostrar meu potencial. Acredito que no momento certo a minha licença deve sair.
Seu sobrenome é de peso na Fórmula 1. Como foi trazê-lo de volta? As pessoas conversam com você sobre isso nos circuitos?
Elas conversam comigo em todas as pistas que eu vou. Fui muito bem recebido e o carinho do público é sempre especial de receber. Muito lembram das histórias dos pilotos da minha família e fico feliz em levar isso adiante na Fórmula 1.
O que seu avô Emerson tem conversado com você sobre esse seu início na Fórmula 1?
Meu avô ficou muito feliz. Ele sempre me dá conselhos motivadores e costuma dizer para mim e para o meu irmão, Enzo (também piloto), que estamos no caminho certo de uma longa carreira no automobilismo. Ele fala para fazermos as coisas com paixão e levo isso comigo para as pistas. Ele sempre está por perto passando sua experiência, mas gosta que eu aprenda um monte de coisas por conta própria. Ele acredita que você precisa aprender com seus próprios erros. Depois de cada sessão ou teste, ele me liga porque quer sempre se manter atualizado.
Você sofreu um grave acidente em Spa pela WEC. Temeu pelo futuro no automobilismo?
Após o procedimento cirúrgico eu ainda sentia dores, fiz até provas na Indy com um pouco de incômodo, mas estou 100% depois um longo processo de fisioterapia. Agradeço muito a todos da minha família e aos médicos que me acompanharam nessa fase difícil da minha carreira. Eu estou bem recuperado, mas em nenhum momento eu temi pela minha carreira.
Qual é o próximo passo que pretende dar na Fórmula 1? Espera estar no grid em 2020?
Ainda é muito difícil saber, tudo vai depender do meu progresso dentro da Haas, mas quero ser piloto titular da Fórmula 1 em breve.
Além de Fittipaldi, os testes no Bahrein tiveram um Schumacher na pista (Mick, filho do heptacampeão Michael). É bom dividir essa pressão com outro sobrenome de peso? Vê uma disputa no futuro entre os dois?
Na Fórmula 1 nós sempre dividimos a pista com nomes e sobrenomes de peso. Desejo muito sucesso ao Mick, ele é um piloto que vem colecionando conquistas nos últimos anos e espero disputar corridas com ele e os principais pilotos do mundo. Eu acho bacana essa história de famílias que deram certo na categoria, como foi o caso do Graham Hill e do Damon Hill, por exemplo. As conquistas e as histórias transcendem gerações e vimos isso agora que a Fórmula 1 completou 1000 Grandes Prêmios.