Rio - A segunda morte por febre amarela no Estado do Rio — um idoso de 69 anos, morador de Silva Jardim, na Região dos Lagos, que havia tomado a vacina contra a doença 11 dias antes — acende um alerta. Afinal, a vacina pode levar à morte? Em que casos?
“Foi uma fatalidade infeliz. Por isso temos tanto cuidado em recomendar a vacina para maiores de 60 anos. Em cada 3 milhões de doses da vacina da febre amarela, pode haver um evento adverso grave (morte). E os idosos têm o dobro de risco de sofrer um evento adverso grave”, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, Isabella Ballalai.
A Secretaria Municipal de Saúde de Silva Jardim confirmou a morte e informou que um novo teste indicará se o homem foi vítima da febre amarela silvestre ou da vacinal — esta última provocada como reação ao próprio imunizante. O município faz divisa com Casimiro de Abreu, onde sete pessoas contraíram a versão silvestre da doença, entre elas, Watila dos Santos, que morreu em 11 de março.
O paciente de Silva Jardim morreu na quinta-feira, no Complexo Hospitalar de Niterói, onde estava internado, mas só ontem saiu o resultado do exame positivo para febre amarela. Os exames iniciais deram negativo para dengue, zika e chikungunya. De acordo com a secretária de Saúde, Tereza Abrahão Fernandes, o homem apresentou os sintomas dias depois de tomar a vacina. Ele chegou a ser atendido na Policlínica do município, mas foi transferido para Niterói, onde o quadro se agravou.
“Ele era hipertenso em uso de medicação regular e apresentava desmaios. Passou por investigação neurológica, que não apontou a causa dos desmaios. Ele tinha um atestado de médica particular para tomar a vacina. Segundo a família, ele estava consciente dos riscos, mas queria se prevenir contra a febre amarela”, afirmou Tereza.
Para Isabela Ballalai, a recomendação médica para a vacina foi correta, uma vez que o homem residia em região de risco. “É uma decisão difícil. Não devemos cacinar à toa, mas quando o risco de contrair a doença é mais alto, a vacina pode ser recomendada para maiores de 60 anos. Dependa da região onde está”.
A Secretaria estadual de Saúde (SES) não incluiu a morte do paciente de Silva Jardim no informe epidemiológico da febre amarela, divulgado ontem. A SES confirma até agora nove casos: sete em Casimiro de Abreu, com uma morte; um em São Fidélis, no Norte Fluminense, e um em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos.
Fiocruz já estudava vetores do vírus no Parque Atalaia
Moradores do entorno do Parque Municipal Atalaia, em Macaé, foram vacinados ontem após a morte de dois macacos da espécie bugio. Com vasta área de Mata Atlântica, o parque está fechado para visitação desde 16 de março, quando foi confirmado o primeiro caso de febre amarela no estado.
Os dois corpos foram encontrados em estado avançado de decomposição e por isso não foi possível fazer análise nos órgãos (baço, coração e fígado) para confirmar se foram vítimas da doença.
Duas equipes da Fiocruz estarão hoje em Macaé para, com apoio da equipe do Parque Atalaia e da Guarda Ambiental, fazer uma varredura na mata e colocar armadilhas para capturar mosquitos a serem estudados em laboratório. Desde 2015, a região serrana de Macaé e o Parque Atalaia vêm servindo de base de uma pesquisa da Fiocruz sobre a febre amarela silvestre. O estudo analisa o risco da reemergência da foco da doença e tem como foco os mosquitos Haemagogus e Sabethes, vetores do vírus.
Desde outubro mais de 70 primatas foram encontrados mortos no estado. Três tiveram a comprovação de febre amarela: dois em São Sebastião do Alto e um em Campos dos Goytacazes. A SES não divulga o número oficial de amostras de primatas mortos com suspeita da doença que estão sendo analisadas.
Caso suspeito assusta em Caxias
A suspeita de que uma moradora de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, tenha contraído febre amarela deixou a população preocupada e aumentou a corrida pela vacina. “Eu não ia tomar a vacina, tinha receio, mas mudei de ideia. Esta semana vou consultar um médico para pedir autorização”, disse a aposentada Maria Souza, 73.
A prefeitura já intensificou a vacinação e a unidade de saúde do bairro recebeu mais 750 doses somente para hoje. O secretário municipal de Saúde José Carlos de Oliveira tranquilizou os moradores: “Ainda não temos nada confirmado, não há motivo para ter medo”.
Segundo ele, a paciente, de 31 anos, apresentou sintomas comuns a outras doenças. “Ela não viajou nos últimos tempos. É pouco provável que esteja com febre amarela”, disse. A mulher está internada desde domingo na UTI do Hospital de Saracuruna. Os exames ficam prontos em sete dias.