Rio - A realização de um ato cultural em plena Cinelândia, na tarde desta terça-feira, foi a forma que funcionários do Theatro Municipal do Rio de Janeiro encontraram para cobrar a regularização dos salários atrasados. O protesto, que começou por volta de meio dia, contou com apresentações do grupo de bailarinos e músicos da casa e reuniu um grande número de observadores em frente às escadarias da entrada principal. A rua Evaristo da Veiga chegou a ter o trânsito bloqueado por cerca de uma hora por conta do grande número de pessoas que ali se reuniram, dentre as quais artistas e simpatizantes que manifestaram apoio ao movimento e criticaram o que chamam de “desrespeito do estado com a cultura nacional”. Segundo funcionários, os vencimentos mensais não são pagos desde fevereiro e o décimo terceiro salário referente ao ano passado ainda não foi creditado na conta dos profissionais.
O Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Públicas da Ação Cultural do Rio de Janeiro (SINTAC-RJ), que representa os artistas e o corpo administrativo do teatro, afirma que muitas apresentações, incluindo o ballet ‘O Lago dos cisnes’, do russo Tchaikovsky, foram canceladas e a ópera ‘Norma”, de Vicenzo Bellini, precisou ser transformada em concerto como consequência da crise financeira. Segundo o presidente do SINTAC-RJ, Pedro Olivero, caso os salários não sejam regularizados, as atividades no teatro correm o risco de ser paralisadas. “Muitos bailarinos estão sem dinheiro para arcar com os custos de passagem e alimentação. Temos funcionários que já foram despejados e outros que estão passando fome”, ressaltou. Segundo ele, o Theatro Municipal conta com 550 colaboradores, entre artistas, produtores e corpo administrativo. O orçamento anual da casa gira em torno de R$ 50 milhões, dos quais R$ 2 milhões mensais são destinados ao pagamento dos funcionários.
Em auxílio aos funcionários que estão com dificuldades para comprar alimentos básicos, o SINTAC-RJ iniciou uma campanha de arrecadação de ítens não perecíveis. Os alimentos a serem doados podem ser deixados no prédio anexo do Theatro Municipal, na Avenida Almirante Barroso. A bailarina Shirley Pereira, de 61 anos, conseguiu arrecadar cerca de 800 quilos de alimentos com produtores culturais parceiros. Ela, que iniciou as aulas de ballet aos oito anos, nunca deixou de participar de espetáculos. “Nunca vi o Theatro Municipal em uma situação de penúria como essa. Durmo à base de calmantes e sinto muita vergonha desse momento, pois nunca imaginei ter de lutar para sobreviver”, desabafou.
A bailarina Tarsila Pellegrino, de 31 anos, se juntou ao público nas escadarias e cobrou o pagamento dos salários aos profissionais, mesmo não fazendo parte do quadro de empregados do teatro. “Acho um absurdo o estado fazer isso com o principal ponto de cultura do Rio”, lamentou. A bailarina Ana Botafogo, considerada um dos maiores nomes da dança contemporânea, também esteve presente no ato e cobrou uma postura do governo. “Sabemos levar alegria e encantamento ao público, mas estamos vivendo em meio à tristeza e à angústia. Estamos pedindo que olhem por nós”, cobrou.
A Secretaria de Estado de Cultura informou que o atraso do pagamento da folha do funcionalismo não é um problema exclusivo dos profissionais que atuam no Theatro Municipal e que vem negociando uma ajuda financeira com o governo federal.