Por marlos.mendes

Caos nas finanças do estado e, consequentemente, na vida dos servidores. Está cada vez mais indefinido quando o crédito do salário de março — e até mesmo o de abril — ocorrerá para 208 mil funcionários do Executivo que padecem sem recursos para sobreviver. A situação vai piorar hoje, quando a União bloqueará R$ 95 milhões das contas, bagunçando ainda mais os cofres do Rio, que sofreram diversos confiscos nas últimas semanas.

Artistas do Theatro Municipal farão ato-concertoAcervo pessoal / Edifranc Santos

Vítimas dessa grave crise, mais de 100 artistas do corpo de baile, coro e orquestra do Theatro Municipal do Rio farão uma manifestação artística hoje, ao meio-dia, na escadaria do local, na Cinelândia. Eles sofrem não só à espera do salário de março, do décimo terceiro, e com a imprevisibilidade do futuro, mas também ao ver o centenário palco agonizando sem recursos.

Há 36 anos no Municipal e, atualmente, diretora do balé, a bailarina Ana Botafogo participará do ato. Ela lamenta as dificuldades que todos têm passado e disse que chegou ao ponto de muitos servidores, tanto artistas quanto técnicos, não terem dinheiro para trabalhar. O cenário é similar ao de outras categorias.

"Temos bailarinos jovens que começam a procurar o sol em outro lugar e será triste perdê-los”, declarou a artista que acrescentou: “Fizemos sacrifícios, levamos alegrias enquanto nossas famílias estavam com dificuldades. Mas está mais insustentável desde novembro. Recebemos o salário a cada dois meses e as contas já estão comprometidas. Nossa manifestação artística é de paz, mas sobretudo para dizer à população: estamos aqui, mas estamos sofrendo".

Primeiro solista do balé do Municipal e presidente da Associação de Bailarinos do local, Edifranc dos Santos, 36 anos, relata que, em seu caso, é uma família dependendo do salário do estado. Ele é casado com a primeira bailarina do Theatro, Claudia Mota, 42, que tem um filho.

Edifranc conta que Cláudia faz trabalhos artísticos fora do Municipal para garantir o sustento. Ele também se diz “ciente” do quadro falimentar do Rio, mas pede que se dê previsibilidade. “O governo precisa criar meios para garantir nem que seja o parcelamento. Sem previsão é um horror. As contas não deixem de chegar e vêm acompanhadas de juros. As instituições não se compadecem do servidor”, pontua.

O presidente do Sindicato da Ação Cultural do Estado do Rio (Sintac), Pedro Olivero também é cantor do coro do Municipal. Ele diz que a maioria faz ‘bicos’ para sobreviver: “Há artista fazendo comida, bolo, faxina e assim por diante”.

O sindicalista também ressalta a preocupação dos 208 mil servidores com o salário de abril, diante da necessidade de se priorizar a Segurança. “A violência aumentou e se não tiver dinheiro para pagar os servidores da Segurança vão acabar tirando dinheiro dos 208 mil funcionários”, lamenta.

A indefinição do que pode acontecer nos próximos dias é comentada nos corredores do Palácio Guanabara. Por enquanto, não há como confirmar nenhum pagamento, sendo que a categoria com maior probabilidade de ser paga dia 15 (décimo dia útil) é dos ativos da Educação. A pasta paga seus funcionários (incluindo o Degase) com recursos do Fundeb.

A Secretaria de Fazenda informou que os arrestos determinados pela Justiça e bloqueios da União, “somados à frustração nas receitas de tributos”, inviabilizaram a divulgação do calendário de pagamentos de março. São necessários R$ 581 milhões para pagar este grupo.


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