Por gabriela.mattos

Rio - As Forças Armadas deixaram a Rocinha, na Zona Sul, no início da manhã desta sexta-feira. A presença dos 950 militares foi solicitada há uma semana, após o estado pedir ajuda por conta dos confrontos armados entre traficantes rivais. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que está satisfeito com a atuação das equipes, já que o objetivo do governo federal era acabar com a guerra na favela.

No entanto, horas após o anúncio do ministro, houve um confronto na localidade conhecida como 'Vila Verde' e um suspeito foi morto. Seis homens armados atiraram contra uma viatura do Batalhão de Choque e houve troca de tiros. Wilian Lopes de Oliveira, de 22 anos, foi baleado, chegou a ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rocinha, mas não resistiu.

Forças Armadas saíram da Rocinha após uma semana na comunidadeMárcio Mercante / Agência O DIA / Arquivo

Com o suspeito, os policiais apreenderam uma pistola Glock, um carregador com 24 munições, R$ 72 e um celular. Já os outros bandidos conseguiram fugir. A ocorrência foi encaminhada para a Delegacia de Homicídios da Capital (DH).

Antes de deixarem o local, os militares deixaram uma mensagem de agradecimento para os moradores. Eles colaram cartazes nos postes dizendo que "colaboração dos moradores foi importante para o trabalho deles".

As opiniões de moradores estão divididas sobre a saída das Forças Armadas. O clima é de tensão na favela nesta sexta. Em algumas partes, é possível ver pichações do Comando Vermelho, facção de Rogério 157. "Os militares poderiam ter ficado por mais tempo. Agora, a sensação de paz acabou. Pode ter certeza, a guerra voltará", disse uma moradora, de 50 anos, do Largo do Boiadeiro.

Já um auxiliar administrativo, que mora na comunidade há 36 anos, afirmou que, com a saída do Exército 'a vida voltará ao normal'. "Eles estavam deixando os moradores apreensivos. Tínhamos medo deles entrarem em nossas casas, revirarem tudo como se fôssemos bandidos. Agora, acho que a vida vai voltar ao normal. Vamos seguindo a vida", contou.

Testemunhas destacaram que as bocas de fumo da comunidade continuaram funcionando mesmo com a presença dos militares. Segundo relatos, um homem, conhecido como 'Bambu', está sob o comando da boca na localidade 'Roupa Suja' e é o braço direito de Rogério 157. Além disso, ele teria planos para trazer o traficante 'Canelão', que foi expulso da Rocinha quando a facção Amigos dos Amigos (ADA) entrou na favela.

Tortura a jovens

?O último dia com a presença das Forças Armadas na favela foi marcado pelo resgate de dois jovens que estavam sendo torturados por traficantes. De acordo com o Comando Militar do Leste, dois adolescentes de 16 anos foram salvos por Fuzileiros Navais após terem sido torturados por quase 1 hora por traficantes da quadrilha de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem.

Em nota, a Secretaria de Segurança informou que uma das vítimas usava um boné com a inscrição 'Jesus é dono desse lugar'. A frase faz alusão à quadrilha do Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que aparece em fotos utilizando um cordão de ouro com a inscrição.

A disputa pelo tráfico de drogas local entre entre as quadrilhas de Nem e de Rogério 157 é o motivo dos tiroteios que deixaram moradores reféns na favela. Os autores do crime já foram identificados.

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