Denise Fonseca perder mais um dia de trabalho após problemas com trens da SuperVia
Denise Fonseca perder mais um dia de trabalho após problemas com trens da SuperViaArquivo Pessoal
Por Jessyca Damaso
Rio - A vida de quem depende do transporte público para trabalhar no Rio de Janeiro não é fácil. Nesta sexta-feira, a SuperVia interrompeu, por quase 5 horas, a circulação de trens no ramal Gramacho e nas extensões Vila Inhomirim e Guapirim, por conta de um corpo encontrado nos trilhos da estação Saracuruna, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Com isso, muitos passageiros perderam um dia de trabalho, como é o caso de Denise Fonseca, de 55 anos, que precisou voltar para casa porque não tinha como pegar outra condução. Desempregada, ela deixou de ganhar R$ 100 em um dia de faxina que conseguiu como bico.
"Deixei de ganhar R$ 100 hoje porque só tinha passagens de ida e volta. Esse trem aqui de Saracuruna é muito ruim, não funciona direito e está sempre com problema. Quando não é roubo de cabos, é corpo nos trilhos ou descarrilhamento. Quase todo dia tem um problema. Não dou sorte, sempre no dia que tenho que sair para trabalhar, fico na mão, sem ganhar dinheiro", lamentou Denise, que está desempregada há nove meses.
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Denise contou que essa semana conseguiu um bico em um salão de cabeleireiro localizado no Méier, Zona Norte do Rio, para limpar o estabelecimento. No entanto, os problemas no transporte a prejudicaram.
"A dona do salão me contratou para cobrir as férias de uma moça que trabalha todos os dias, mas ela pediu para que eu fosse trabalhar às terças e sextas. Na terça, não pude ir porque teve problema de descarrilhamento em Jardim Primavera. Liguei [para a patroa] e ela aceitou que eu fosse na quarta. Tinha que voltar hoje, mas não consegui ir porque só tinha dinheiro de passagem para ir e voltar de trem, fazendo baldeação. Aí tive que ligar para ela e estou aguardando resposta para saber se posso ir amanhã. Ela disse que só pode me pagar R$ 100 a diária, sem a passagem, e eu só tinha o dinheiro a continha, já tinha até comprado o bilhete".
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Nesta quinta-feira, O DIA havia revelado o drama de passageiros que precisam pegar o trecho Gramacho-Saracuruna. Moradores da região pedem a conclusão das obras de duplicação dos trilhos, prometida há quase 10 anos e jamais finalizada, além de melhorias na infraestrutura das estações. À época, a obra, orçada em R$ 50 milhões, previa a construção de 11 quilômetros de malha férrea e dois pátios de manobra. A conclusão estava prevista para junho de 2013.
De acordo com o gestor de logística Douglas Mendonça, se a obra estivesse pronta, os usuários não sofreriam com a suspensão dos trens.

"Em caso de duplicação, a circulação não teria sido suspensa em sua totalidade. Se tivesse a segunda linha, na segunda-feira, quando o trem descarrilhou, e hoje, quando teve essa fatalidade, aconteceriam somente atrasos. Porque você teria duas linhas, uma estaria bloqueada, porém o trem sentido Gramacho ou Saracuruna circularia na segunda linha", disse Douglas, que criou, há dois anos, um grupo no Whatsapp para usuários do ramal trocarem informações sobre a circulação do trens.
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Para Denise, a vida dos trabalhadores seria muito mais fácil se eles não precisassem fazer baldeação.
"Eu trabalhava como cuidadora de idosos, fazendo plantão de 48 horas. Depois que a senhora que eu cuidava faleceu, fiquei sem trabalho. Já apareceu outras oportunidades depois dessa, mas como moro em Saracuruna, a maioria das pessoas não querem dar passagem ou falam que moro muito longe. Já perdi vários trabalhos na Zona Norte do Rio por conta de passagem e e ter que pegar esse trem aqui para fazer baldeação. Creio que se esse trem fosse direto, seria melhor para todos que trabalham na Zona Sul, Zona Norte, Zona Oeste e Centro da Cidade. Mas como esse trem faz baldeação é muito ruim. Para pegar um ônibus aqui em Saracuruna para Caxias é quase uma hora, o trem é mais rápido e acaba sendo o melhor transporte para gente".
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Em nota, a SuperVia informou que "vem realizando investimentos no sistema ferroviário de acordo com as prioridades dos sistemas, avaliações operacionais e oportunidades de melhoria da prestação do serviço. Esta avaliação abarca os 270km de via com 104 estações, se fazendo necessária uma avaliação de prioridades".
Denise e seu marido, também desempregado, moram numa quitinete em Saracuruna. Ela disse que atualmente o tio do seu marido é quem paga seu aluguel de R$ 300. "Também tenho uma amiga aqui em Saracuruna que, de vez em quando, me dá cesta básica. Quando aparece um bico para eu e meu esposo fazer, a gente faz. As vezes aceitamos o trabalho até sem dar passagem, porque a gente precisa".