A Sala Baden Powell se encontra fechada há quase um anoReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 11/02/2025 13:41 | Atualizado 11/02/2025 14:05
Rio — O palco da Sala Baden Powell, em Copacabana, Zona Sul do Rio, está prestes a completar um ano sem receber espetáculos. O espaço, inaugurado em 2000 no prédio do antigo cinema Ricamar, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 360, sempre se destacou como um dos grandes centros culturais da região, abrigando shows e peças de teatro. Incomodados com o fechamento do local, moradores do bairro e produtores culturais cobram providências da prefeitura em prol da retomada das atividades.
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O presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães, lamenta que o local esteja parado. "É um empreendimento muito importante. Ela tinha uma programação cultural muito intensa, principalmente para o público da terceira idade. A gente não consegue entender o porquê do fechamento. Em 2021, a sala passou por uma reforma. Eu sei porque estive na reabertura. Depois, teve a questão da desapropriação, e fechou. Não teve nenhuma explicação. Por que fechou? Estamos tendo uma grande dificuldade, com a Secretaria [Municipal de Cultura], para entender o porquê disso", cobra.
A desapropriação da Baden Powell foi publicada no Diário Oficial do Município em 7 de março de 2024. Na época, a prefeitura argumentou que a medida era "necessária para evitar que a cidade perca um equipamento cultural de grande relevância". "As negociações para renovação do contrato de locação do imóvel tinham chegado a um impasse, na medida em que os proprietários exigiam um reajuste de mais de 100% do valor do aluguel, e se recusaram a realizar obras estruturais de sua responsabilidade", detalhou o órgão na ocasião.
O imbróglio gerado com a desapropriação seria uma das causas para o problema. Horácio Magalhães argumenta, no entanto, que "o fato é que pouco depois da desapropriação, a sala ficou fechada". Ele afirma ainda não conseguir, através da associação de moradores, contato com as autoridades para esclarecer a situação.
Horácio também comenta que Copacabana está sofrendo com a diminuição de espaços culturais. "O bairro, com o passar dos anos, perdeu muitos empreendimentos culturais, envolvendo teatros. A gente vê o fechamento da Sala como um prejuízo para a vida cultural não apenas do bairro, mas da Zona Sul de um modo geral. Ficamos preocupados quando vemos um espaço público como esse fechado. É uma perda. Recentemente, tivemos a reinauguração do Teatro Glaucio Gill, que já carecia de uma reforma, e está com uma programação muito legal", pondera.
A Sociedade Amigos de Copacabana publicou um texto em seu perfil no Instagram mencionando a ausência de programação e cobrando respostas.
Quem também lamenta o fechamento é o produtor cultural e radialista João Luiz Azevedo. Ele, que realizou 124 shows no local entre 2018 e 2019, considera a paralisação um "absurdo". "É muito ruim para a vida cultural da cidade e, em especial, de Copacabana. Lembro que tinha um painel com a divulgação de todos os shows do mês e muita gente comprava ingressos para várias apresentações. Eram pessoas, na sua maioria, da terceira idade de Copa que adoravam ir aos espetáculos ali."
Segundo João Luiz, Copacabana tem sofrido com a desativação de espaços importantes que promoviam a arte. "Atualmente temos apenas o Glaucio Gill, que foi reaberto este mês. Somente o Teatro Claro, que funciona muito bem, com uma programação privilegiada. No passar dos anos, perdemos o Teatro da Praia, o Teatro Posto 6, o Teatro Alaska, o Teatro Villa-Lobos, pelo incêndio, o Teatro Princesa Isabel", lamenta.
O ator e preparador vocal Jorge Maya já trabalhou em espetáculos na Baden Powell e confessa que não sabia do fechamento. "É lamentável, porque infelizmente, aqui no Rio, tivemos a questão, por exemplo, do [teatro] Villa-Lobos, que está fechado há anos. Copacabana é um dos bairros com o público de terceira idade mais ativos, e que fazia parte da sala. Ela tem o acesso de transporte muito bom, por aplicativo, ônibus, metrô. Isso acaba sendo um grande impacto para a cultura, de um modo geral, até porque a sala era diversa. Não era só teatro. Tinham musicais, comédia… Então perde, até porque no Rio, infelizmente, não temos tantos espaços culturais assim."
Ele também explica que a sala de ensaios do espaço é uma ótima opção para a classe. "Nós temos uma carência muito grande de espaços com uma boa estrutura para ensaiar. Eu já utilizei esse ambiente, ensaiando trabalhos sem serem feitos na sala. É um espaço muito bom para estar desativado. É lamentável. Eu não sabia que ela estava fechada, e nem os motivos", diz.
O perfil da Sala no Facebook publicou pela última vez em março de 2020, explicando que as programações seriam canceladas por causa da pandemia do coronavírus. Na página de compras de ingressos para eventos em teatros da prefeitura, a Baden Powell aparece com o aviso de "indisponibilidade" de vendas. Nesta segunda-feira (10), equipe de O DIA esteve no local e se deparou com a porta fechada.
Batizado em homenagem a um dos maiores compositores e músicos da cultura brasileira, o espaço recebeu o título de patrimônio imaterial do Rio em 2015. A Sala conta com um teatro de 485 lugares e duas salas multiuso, além da Sala de Leitura Alfredo Machado. Em seu palco, foram encenadas peças antológicas, como "Orlando Silva, o Cantor das Multidões", com Tuca Andrada, e "As Mulheres de Gray Gardens", com Suely Franco. 
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Cultura afirmou que "a Sala Municipal Baden Powell está em funcionamento". "As salas de ensaio estão abertas de terça a domingo, das 10h às 21h e a Sala de Leitura Alfredo Machado, de terça a sexta-feira, das 10h às 14h. A sala de espetáculos está fechada para manutenção no sistema de climatização do teatro", conclui o comunicado.
* Colaborou Raphael Perucci
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