Por lucas.cardoso
Lula na sacada de sua casaEfe

Brasília - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou à Operação Lava Jato, em depoimento coercitivo prestado no dia 4 de março, que fica 'chateado de ver um delegado de Polícia Federal se preocupar com pedalinho'. O petista se referiu aos brinquedos encontrados no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, usado por ele e sua família.

A propriedade é alvo de investigação da força-tarefa da Lava Jato. Os procuradores suspeitam que empreiteiras que formaram cartel para esquema de corrupção na Petrobras entre 2004 e 2014 bancaram reformas milionárias do sítio e também de um tríplex no Condomínio Solaris, no Guarujá. "Eu fico chateado de ver um delegado de Polícia Federal se preocupar com pedalinho (ininteligível)", afirmou Lula.

"Eu só tenho uma preocupação aqui, é lhe dar oportunidade para o senhor responder isso", disse o delegado da PF que interrogou o petista. "É o pedalinho", retrucou o ex-presidente. Os dois pedalinhos do lago do sítio, que custaram R$ 5.600, foram encomendados e pagos pelo subtenente do Exército Edson Antonio Moura Pinto, que trabalha na Assessoria Especial da Presidência destacado para atender o ex-presidente.

A nota fiscal foi emitida pela Ipe Fibra de Vidro Ltda, localizada em São Lourenço, Minas Gerais. O documento indica local para entrega dos pedalinhos Estrada Clube da Montanha, Atibaia, endereço do sítio Santa Bárbara, que o Ministério Público suspeita pertencer a Lula, o que é negado por sua defesa.

Durante o depoimento, o delegado da PF questionou: "O senhor tem conhecimento se a dona Marisa ou algum familiar seu comprou algum bem como, volto a dar o exemplo, o barco, e mandou entregar no sítio?", o ex-presidente afirmou que não sabia. O responsável pelos questionamentos novamente mencionou os pedalinhos e o presidente então afirmou que ela, sua esposa, Marisa, teria comprado. "E o barco?", questionou o delegado.

O ex-presidente respondeu. "Certamente que a dona Marisa adoraria ver os netos dela e outras crianças que fossem lá possivelmente passear naquilo". O sítio está em nome de Fernando Bittar - filho do ex-prefeito de Campinas Jaco Bittar (PT) - e do empresário Jonas Suassuna, sócio de um dos filhos de Lula. A família do ex-presidente usa frequentemente o sítio, que foi totalmente reformado em 2011, após sua compra.

Durante o depoimento, a defesa de Lula fez uma intervenção. "Se a linha de investigação é que o sítio é do presidente e não dos reais proprietários, isso é prova documental, ou seja, o senhor tem aí a escritura, o senhor tem o cheque que comprou o sítio. O fato de frequentar, de ter pedalinho, de ter barco? Nós somos profissionais do Direito, isso não transfere propriedade, isso a imprensa pode explorar, mas nós, operadores do direito, não podemos explorar isso".

O delegado da Polícia Federal afirmou que aquela era uma 'oportunidade' para que Lula esclarecesse a questão. A defesa do ex-presidente questionou o delegado. "Qual seria o crime que o senhor estaria investigando por ter um barco e um pedalinho?". O delegado então responde, "o mesmo que eu falei desde o início, que apura o registro da propriedade do sítio e aqui o ex-­presidente está esclarecendo".

A 24ª fase da Operação Lava Jato deflagrada pela Polícia Federal levou o ex-presidente para prestar depoimento.Foto%3A Taba Benedicto / Parceiro / Agência O Dia

Lula ,mais uma vez se mostrou desconfortável com a situação, entretanto o delegado prossegue e finaliza, "eu só estou lhe dando oportunidade de esclarecer o que tem sido publicado e o que realmente é verdade".

A defesa do ex-presidente alegava a todo momento que existem documentos comprovando a não responsabilidade do mesmo pelas propriedades investigadas. Também foi colocado em questão, a temporalidade dos fatos. O condutor das investigações, confirmou que o motivo para colher o depoimento era de que,  haviam dúvidas a serem esclarecidas e, que por direito Lula poderia não responder. Finalizou o petista,  "agora, se eu não responder mais é porque eu me sinto envergonhado de falar no pedalinho".

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