Rio - O racha entre favoráveis e contrários ao governo de Dilma Rousseff ganhou um novo capítulo na internet. A criação, pelo blogueiro Rodrigo Constantino, de uma “lista de artistas, intelectuais e jornalistas petralhas” — que, segundo ele, deveriam ser “boicotados” por apoiar Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula —, tem provocado fortes reações nas redes sociais. Logo após a primeira postagem, com 58 nomes, na última quarta-feira, foi criada uma petição pública online sugerindo que pessoas insatisfeitas com o post se “autoincluíssem” na lista — até ontem à noite, 4.850 pessoas assinavam o documento.
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Para o sociólogo e cientista político Paulo Baía, ao criar a lista Constantino contribui para acirrar o clima de ódio e intolerância no país. “Não é apenas um grave erro; estamos vivendo um período de radicalização em que a tolerância e a liberdade de expressão estão em risco pela violência simbólica que um ato público como este representa em uma conjuntura de conflitos e polarização”, avaliou.
Flávia Oliveira, comentarista da ‘Globonews’, diz que a lista agrava o risco de agressões e ameaças a jornalistas nas redes sociais e nas ruas. “É combustível suficiente para incendiar mentes fascistas, autoritárias e ditatoriais num momento crítico da democracia brasileira”. E cobra um alerta ao blogueiro: “Gostaria de ver sindicatos de jornalistas, Fenaj, ABI e Abraji se posicionando seriamente contra essa aberração”.
Ex-blogueiro da revista ‘Veja’, hoje com espaço fixo no site de ‘O Globo’, Constantino foi denunciado no Facebook e teve seu perfil suspenso por uma semana após a lista em seu blog pessoal. E então resolveu provocar mais uma vez. No dia seguinte, publicou uma segunda lista —esta com 766 nomes, em ordem alfabética — fornecida, segundo ele, pelos próprios “cúmplices da quadrilha”. Um dos citados, o jornalista Luis Nassif entrou no clima do deboche. “Não encontrei meu nome na segunda. Fiquei muito chateado e penso em processar o Constantino se ele de fato excluiu meu nome da segunda lista”, disse ao ‘Portal Imprensa’.
Paulo Baía relacionou o discurso de Constantino ao movimento conhecido nos Estados Unidos com macarthismo — prática de acusar alguém de subversão ou de traição sem respeito pelas evidências. “O macarthismo acabou com suicídios, mortes e prisões de intelectuais adeptos de uma cultura livre e democrática. Corremos esse risco de anomalia social e política com listas como essa”, alertou. Constantino, aliás, veste a carapuça. “Eu não me importo de ser o McCarthy do Brasil”, diz.
Na petição online ‘Pela inclusão do meu nome na lista do Constantino’, os organizadores afirmam que “por injustiça ou incompetência”, milhares de nomes de artistas, acadêmicos e intelectuais “que também se engajam diariamente na luta pela democracia” foram esquecidos. Irônico, Constantino rebateu: “Eu tendo o maior trabalho para juntar, compilar os nomes de artistas e ‘intelectuais’ que defendem o indefensável PT, e os próprios cúmplices da quadrilha divulgam abertamente a lista completa, facilitando bastante o meu lado”.
O primeiro ‘index’ criado por Constantino é ‘liderado’ por Chico Buarque e reúne, entre outros, o escritor Luís Fernando Veríssimo, o humorista Marcelo Adnet, o apresentador Jô Soares e as cantoras Alcione e Beth Carvalho.