Por felipe.martins

Rio - Em discurso contundente feito nesta terça-feira no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff chamou o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, de chefes do golpe. “Não sei direito qual é o chefe e qual é o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz com desvio de poder e abusos inimagináveis deste processo de impeachment. O outro, esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse”, atacou Dilma Rousseff.

A assessoria do vice-presidente Michel Temer, que no dia anterior havia dito que o vazamento teria ocorrido “sem querer”, ontem informou que Temer não comentaria o discurso de Dilma por não ter assistido ao mesmo, apesar de ter sido divulgado por todos os meios de comunicação.

Michel Temer e Dilma Rousseff no Palácio do Planalto%3A desde o início do ano%2C Dilma tem tentado se aproximar do viceReuters

Dilma considerou os últimos acontecimentos, sobretudo o discurso gravado por Temer, preocupantes. De acordo com a presidente, o país vive “tempos estranhos e preocupantes, tempos de golpe, farsa e traição”. Dilma disse também que Temer e Cunha já conspiram abertamente contra ela, e que os dois são responsáveis pelas piores práticas dentro do Congresso.

A presidente citou o áudio distribuído na segunda-feira com um discurso de Temer como se estivesse prestes a assumir em seu lugar. “Ontem (segunda), utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração. Ao longo da semana, acusaram-me de usar expedientes escusos para recompor a base de apoio do meu governo, me julgando pelo seu espelho, pois são eles que usam tais métodos. Caluniam enquanto leiloam posições no gabinete do golpe, no governo dos sem-voto. Ontem ficou claro que existem, sim, dois chefes do golpe, que agem em conjunto e de forma premeditada”, disse a presidente.

Depois das declarações de Dilma, o presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR) disse lamentar que a presidente esteja “perdendo o equilíbrio”. “Lamento que a presidente esteja perdendo a serenidade e tentando culpar outras pessoas pelo desacerto do seu próprio governo”, disse.

IMPEACHMENT SEM HAVER CRIME É GOLPE, DIZ CHICO ALENCAR

O deputado federal Chico Alencar é opositor do governo Dilma desde o início da gestão, mas se coloca contra o impeachment da presidente, que para ele é um golpe contra a democracia brasileira.

1. Por que o senhor é contra o impeachment?

— Por ser uma pedalada jurídico-legislativa a partir de um processo que tem o pecado original de ser acolhido por uma chantagem do Eduardo Cunha.

2.O senhor não considera pedalada fiscal motivo suficiente para o impeachment da presidente?

— Nem eu, nem a maioria dos deputados, que diziam isso abertamente aqui na Câmara há alguns meses. Eles diziam, e lamentavam, que crédito suplementar para pagamento de benefício, as tais pedaladas, nunca foram motivo para nada. Mas agora mudaram de opinião por chantagem e conveniência política. Não tem crime por parte da Dilma. Tem é cinismo por parte de gente que nunca em sua história teve compromisso com a ética e agora quer posar de arauto da moralidade. É muita cara-de-pau.

3. O senhor considera o processo de impeachment um golpe contra a democracia?

—Claro. Ninguém que é a favor do impeachment é contra a corrupção. Muito pelo contrário. Querem apenas a chave do cofre. A conquista do voto popular nos custou muito para a gente jogar no lixo assim. Impeachment não é um cacho de banana que você compra ali na esquina. Impeachment está previsto na Constituição, sim, mas em caso de crime. Não tem crime. Sem crime é um golpe.

Impeachment é golpe, diz AlencarABr

FOI DILMA QUE ESCOLHEU TEMER, LEMBRA MIRO TEIXEIRA

Ex-ministro das Comunicações no primeiro governo Lula, o deputado federal Miro Teixeira (Rede- RJ) é favorável ao impeachment da presidente Dilma, mas aposta suas fichas na realização de eleições para o cargo. Para Miro, a Justiça Eleitoral acabará cassando a chapa Dilma/Temer, eleita em 2014. 

1. Por que o senhor é a favor do impeachment?
- Fui convencido pela voz da presidente Dilma, quando ela ofereceu ao Lula usar o ofício da nomeação para a Casa Civil, em caso de necessidade. Sou contra a prisão do Lula. Mas sou contra a falsificação de documentos públicos. A Justiça não pode ser obstruída. Mas quero lutar pelas eleições diretas.

2.Mas no caso de afastamento de Dilma, quem toma posse é o Michel Temer.

-Não para aí a votação do impeachment. Existem quatro ações no TSE, uma delas da Rede, em que pedimos a declaração de fraude e da ilegalidade da chapa eleita. E pelo Código Eleitoral, a eleição direta pode ocorrer a qualquer tempo. Exceto se faltarem seis meses para o fim do mandato .

Foi a Dilma quem escolheu o Temer, lembra TeixeiraCarlo Wrede / Agência O Dia

3. A presidente diz que o Temer conspira

- Não sou advogado do Temer. Mas quem escolheu o Temer como vice foi a própria Dilma.

4. Em uma gravação, Temer fala como se já estivesse certo que vai assumir a presidência

-Acho que ele distribuiu deliberadamente essa gravação. É uma espécie de carta aos brasileiros, como Lula fez em 2002. Só que esta carta aos brasileiros é high tech.

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