Rio - A presidente afastada, Dilma Rousseff, comparou ontem seu processo de impeachment com a tentativa de golpe na Turquia. Para uma plateia de estudantes e professores em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, Dilma criticou também o governo interino de Michel Temer.
“Um dos maiores argumentos dos golpistas é que nós não vivemos o golpe, porque não há armas, não há tanques nas ruas, não há tiroteio”, disse a presidente. “A Turquia sofreu um golpe tipicamente militar. Lá, você tem a tentativa de tirar o governo. Aqui nós temos um golpe parlamentar, que alguns chamam de golpe frio. Se você imaginar que num golpe militar você tem um machado atacando a árvore da democracia, no golpe parlamentar, você tem um parasita atacando essa árvore”, afirmou Dilma .
Para ela, por trás de seu impeachment há uma “ambição pelo parlamentarismo”, pois o sistema de votos proporcionais criaria “filtros” oligárquicos nas eleições. “O parlamento no Brasil é mais conservador que o Executivo.”
No sábado, o ex-presidente turco Abdullah Gul gerou polêmica ao declarar à “CNN” que “a Turquia não é um país da América Latina” para ter um golpe de Estado. “A Turquia não é um país da América Latina ... Eu estou me referindo àqueles que tentam derrubar o governo e voltar a seus quartéis”, disse Gul.
Ontem, Dilma aproveitou ainda para criticar o projeto de Temer que limita o aumento do gasto do governo federal à inflação por dez anos. Para ela, o teto de gasto vai fazer com que as despesas per capita caiam na educação e na saúde por causa da elevação anual do número de atendidos do sistema público em cada área.