Brasília - O executivo Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, confirmou ter se encontrado com o presidente Michel Temer durante tratativas para a campanha eleitoral de 2014, mas negou ter acertado com o peemedebista um valor para a doação.
Ele informou que não houve um pedido direto pelo então vice-presidente da República para a doação de R$ 10 milhões ao PMDB. Segundo ele, tratativas para a doação foram feitas entre o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o executivo Cláudio Melo - e admite que parte dos pagamentos pode ter sido feita via caixa 2.
O depoimento foi colhido dentro da ação que investiga a campanha que elegeu a chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014. A suspeita é de que houve abuso de poder político e econômico na disputa presidencial. A ação, que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode gerar a cassação do mandato de Temer e a inelegibilidade dele e de Dilma.
Em anexo de delação premiada que vazou em dezembro, Melo, que é ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, mencionou o jantar no Palácio do Jaburu no qual Temer teria pedido pessoalmente "auxílio financeiro" a Marcelo, que se comprometeu com R$ 10 milhões.
Ao depor nesta quarta-feira para a Justiça Eleitoral, Marcelo Odebrecht disse que Temer não mencionou a doação de R$ 10 milhões.
O herdeiro do grupo baiano confirma que o jantar foi realizado no momento em que o grupo de Temer negociava uma doação da Odebrecht para apoiar candidatos do partido. Antes de o encontro ser agendado, ele recebeu de Cláudio Melo a notícia de que Paulo Skaf pedira R$ 6 milhões em doação para a campanha ao governo de São Paulo. A solução seria usar para parte do dinheiro que seria destinado ao grupo político de Temer para o candidato paulista.
O encontro no Jaburu serviria para selar o acordo de que R$ 6 milhões dos R$ 10 milhões ao grupo do PMDB de Temer seriam encaminhados para a campanha de Skaf. De acordo com Marcelo, só após a saída do vice-presidente do local, ele conversou com Padilha e com Melo sobre o tema. Ainda de acordo com ele, parte dos R$ 6 milhões não chegou a ser paga.
Marcelo Odebrecht disse ainda à Justiça Eleitoral que a interlocução com o PMDB era dispersa. Os executivos da empresa tinham relação com os Estados, enquanto Melo atuava dentro do Senado em contato com o atual presidente do partido, Romero Jucá (RR). Na Câmara, o contato era com Padilha - mas também mencionou o nome do deputado cassado Eduardo Cunha, que mantinha relação com o empresariado.