Por gabriela.mattos

Paraná - A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta sexta-feira a Operação Carne Fraca, que investiga o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Alguns dos principais grupos do setor do país estão na mira da operação, como o BRF (que detem as marcas Sadia e Perdigão) e o JBS (Seara, Swift, Friboi e Vigor).

A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das empresas investigadas. Segundo a PF, a Carne Fraca é, em números, a maior operação já realizada pela corporação no país. Cerca de 1.100 policiais federais cumprem 309 mandados judiciais em sete estados - 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão nas casas e escritórios dos investigados e em empresas que fariam parte do esquema.

São Paulo

Em São Paulo, estão sendo cumpridos oito mandados de busca e apreensão; duas empresas e seis residências estão no alvo da operação, sendo uma em Santo André e cinco na capital; três mandados de prisão preventiva (um em Santo André e dois em São Paulo); seis mandados de condução coercitiva; e um mandado de prisão temporária.

Até agora, dois homens e uma mulher foram presos em São Paulo e levados à sede da Superintendência da Polícia Federal paulista, de onde devem ser encaminhados para Curitiba para depor sobre o esquema de fraude envolvendo o comércio de carne.

O esquema de corrupção viabilizava a operação de frigoríficos em desacordo com as normas legais vigentes. Marcelo Camargo / Agência Brasil

Paraná, Minas Gerais e Goiás

Em quase dois anos de investigação foi descoberto que as superintendências regionais do Mapa nos estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger os grupos empresariais, em detrimento do interesse da coletividade.

De acordo com a apuração, os agentes públicos envolvidos no esquema se prevaleciam do poder fiscalizatório dos seus cargos e facilitavam a produção de alimentos adulterados, mediante pagamento de propina, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva. Uma das irregularidades detectadas foi a remoção de agentes públicos com desvio de finalidade para atender aos interesses dos grupos empresariais.

Assim, eram viabilizadas ações ilegais de frigoríficos e empresas do ramo alimentício, que operavam em total desrespeito à legislação vigente. As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba/PR e estão sendo cumpridas no Distrito Federal e em seis estados: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goias. 

Carnes vencidas, adição de produtos químicos cancerígenos e até papelão

?Entre as irregularidades, a Polícia Federal aponta a liberação da comercialização de carnes vencidas e produtos com adição de elementos químicos, ainda casos como a inserção de papelão em lotes de frango.

Chama atenção também o caso da empresa Peccin Agro Industrial, que adicionava ácido ascórbico, substância cancerígena, nos alimentos, de acordo com a investigação da PF. 

PP e PMDB envolvidos no esquema

Segundo o delegado federal, Maurício Moscardi Grillo, parte do dinheiro arrecadado pelo esquema de corrupção abastecia PP e PMDB. 

"Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Caracteristicamente, já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claros: o PP e o PMDB", afirmou.

"Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva", diz PF.

JBS nega prisão e ação na sede

Investigada no esquema de corrupão, a JBS emitiu uma nota alegando que até o momento não houve nenhuma medida judicial contra seus executivos e que a sede da empresa não foi alvo da operação. 

Sindicato demonstra apoio à operação

Ainda pela manhã, o indicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), emitiu uma nota apoiando a operação da Polícia Federal e reforçou que a denúncia das iregularidades, que consta de processo administrativo que tramita no Ministério da Agricultura desde 2010, partiu do próprio sindicato. 

"O Anffa Sindical entende que a operação está alinhada aos objetivos de auditores fiscais federais agropecuários no sentido de aprimorar a inspeção de produtos de origem animal no Brasil", diz o texto.

Com informações da Agência Brasil

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