Por lucas.cardoso

Brasília - O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário Marcelo Odebrecht prestaram depoimentos na tarde desta terça-feira, como testemunhas, no processo que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal contra o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Funaro, no âmbito da Operação Sépsis. A investigação trata de um suposto esquema de pagamento de propina para liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal.

O ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da SilvaMarcelo Camargo / Agência Brasil

Chamado pela defesa de Funaro, Marcelo Odebrecht - que está preso em Curitiba e depôs por videoconferência - disse não conhecer o doleiro, e afirmou se lembrar de apenas uma reunião com Eduardo Cunha na residência oficial da Câmara. Sobre influência de Cunha na Caixa, Odebrecht disse que "todo mundo dava como certo que Fabio Cleto (ex-vice presidente da Caixa) estava dentro da área de influência de Eduardo Cunha", no depoimento prestado ao juiz Vallisney de Souza Oliveira.

Apresentando mais um panorama geral do que detalhes sobre as investigações, o herdeiro do Grupo Odebrecht disse que nunca pagou diretamente propina a Cunha e que não tinha controle de pagamentos ao então deputado. Afirmou que os contatos de Cunha com o Grupo Odebrecht eram concentrados em três ex-executivos - também delatores -, Fernando Cunha Reis, Benedicto Júnior e Cláudio Melo Filho. E que eles é que poderiam dar mais informações.

O presidente da empreiteira Odebrecht, Marcelo Odebrecht Cicero Rodrigues/World Economic Forum

Odebrecht, no entanto, disse ter conhecimento de que o presidente Michel Temer fazia parte do grupo de Cunha e de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) na Câmara dos Deputados. "O Claudio Melo me disse da relação muito próxima entre Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. E me dizia que o presidente Michel Temer fazia parte desse grupo (de Cunha e Henrique Eduardo Alves na Câmara)", afirmou Marcelo Odebrecht. "Cláudio Melo é a pessoa que tem a informação direta, porque tudo que eu vim a falar é o que escutei dele", disse.

Presos, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves são alguns dos investigados no Supremo Tribunal Federal no inquérito que apura a formação de organização criminosa por parte de membros do PMDB da Câmara. No curso da investigação contra o presidente Temer no Supremo, a PGR pediu e o ministro Edson Fachin autorizou que sejam incluídas naquele inquérito do "quadrilhão" do PMDB na Câmara informações sobre participação de Temer nesta suposta organização criminosa.

Cunha tem mais de um mandado de prisão contra si, um deles na Justiça Federal do Paraná no caso que apura propina por uma obra na África e outro no curso da Operação Patmos. No caso de Henrique Alves, ele foi preso no início de junho em uma investigação que é desdobramento da Lava Jato e apura sobrepreço de R$ 77 milhões na construção da Arena das Dunas, no RN.

Sobre o Porto Maravilha, Marcelo Odebrecht disse não saber se houve tratativas ilícitas entre a Odebrecht e Cunha envolvendo os projetos relacionados, diante do questionamento feito pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira sobre se ele tinha conhecimento de uma reunião entre Cunha e Cleto e membros da Carioca Engenharia, Odebrecht e OAS - três construtoras envolvidas nas obras.

Em relação a Moreira Franco, que foi vice-presidente da Caixa, Marcelo Odebrecht disse que não conhecia tratativa ilícita em relação à Odebrecht. "Se houve, quem pode dizer era Claudio Melo Filho, que tinha relação com ele", disse. O herdeiro do grupo Odebrecht disse também que não sabia que Moreira Franco tinha um filho como diretor da Odebrecht Ambiental, Pedro Moreira Franco

Lula

Lula também depôs por videoconferência. Incluído pela defesa de Cunha como testemunha, o ex-presidente da República negou ter conhecimento sobre a influência de Eduardo Cunha na vice-presidência da Caixa Econômica Federal ou que ele tivesse exercido influência na indicação de Fabio Cleto como vice-presidente do banco.

Em relação à nomeação do atual ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) para a vice-presidência da Caixa, Lula disse não ter certeza de quem especificamente teria feito a indicação, mas que teria vindo da bancada do PDMB da Câmara. Sobre o FI-FGTS, o ex-presidente disse que "a ideia da criação do fundo era usar o fundo de garantia para alavancar o investimento em obras de infraestrutura do País".

Lula negou ter conhecimento de influência de Cunha em relação a projetos relacionados ao Porto Maravilha, na cidade do Rio de Janeiro, obra realizada no contexto da preparação para as Olimpíadas. Questionado sobre se o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PMDB) ou alguém mais teria feito qualquer pedido para ajudar no projeto da Olimpíada, Lula desconversou com ironia. "Eu lamentavelmente não fui nem convidado para ir à Olimpíada".

O ex-presidente disse, também, que não havia uma preferência pela Odebrecht, quando o Fundo de Investimento do FGTS foi criado, durante seu segundo mandato presidencial.

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