Curitiba - Agraciado nesta segunda-feira, com um prêmio concedido pela Universidade de Notre Dame (EUA), o juiz federal Sérgio Moro disse que a ditadura militar no Brasil foi "um grande erro" e a "resposta aos males democráticos, como a corrupção, é o aprofundamento da democracia".
"Os cidadãos brasileiros recuperaram em 1985 todos os seus direitos e liberdades democráticas, depois de 20 anos de ditadura militar. As Forças Armadas tiveram um importante papel na história do Brasil", discursou Moro durante almoço no Hotel Fasano, em São Paulo. "Mas este período da ditadura militar foi, e não há dúvida disso, um grande erro."
Após o evento, questionado sobre as declarações recentes do general do Exército da ativa Antonio Hamilton Martins Mourão, que falou em possibilidade de intervenção diante da crise enfrentada pelo País, o juiz disse que o "aprofundamento da democracia" é "o caminho a ser perseguido". "Não creio que aquele comentário tinha esse propósito de anunciar uma coisa fora de uma preocupação com esses casos graves de corrupção", afirmou o magistrado.
No evento, Moro admitiu estar "cansado" e disse que em Curitiba a Lava Jato "está indo para o final". "É impossível dar uma previsão, apenas a única reflexão é assim que boa parte do trabalho tinha que ser feita foi feita", afirmou. "Até falei brincando outro dia que a gente estava ‘doido’ para voltar a julgar grandes traficantes de drogas. Dá menos trabalho." Ele, contudo, disse que "é impossível dar uma previsão" sobre o encerramento da operação na primeira instância.
'Não é da minha responsabilidade'
No evento, Moro também foi questionado sobre a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por ele, eventualmente poder se candidatar à Presidência em 2018, ao que respondeu não ser de sua responsabilidade.
"Eu sou um juiz fazendo o meu trabalho na Corte, julgando casos. E o que acontece fora da Corte não é da minha responsabilidade". Moro condenou Lula a uma pena de nove anos e seis meses de prisão no caso triplex, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro supostamente recebido da empreiteira OAS.
Nas mãos do juiz da Lava Jato estão em curso, ainda, outras duas ações penais contra o petista, que nega os ilícitos. Mesmo condenado a pena tão elevada, Lula apela em liberdade junto ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região - o tribunal da Lava Jato.
Se a Corte federal confirmar a pena imposta ao ex-presidente ele será incluído na Lei da Ficha Limpa, o que poderá impedi-lo de concorrer em 2018.
Com informações do Estadão Conteúdo