Por rodrigo.sampaio

Belo Horizonte - A Justiça de Minas Gerais arquivou uma denúncia de racismo feita por uma jovem ativista negra, em abril deste ano. Dandara Castro relatou, em seu perfil do Facebook, ter sofrido racismo durante uma festa de formatura, em Uberlândia, interior de Minas Gerais. Ela contou que teve seu turbante arrancado por outros jovens brancos, que também teriam jogado cerveja nela sem motivo aparente. Após o registro na polícia, o caso foi levado para o Ministério Público de Minas Gerais.

Dandara Tonantzin Castro ativistaReprodução/Facebook

Segundo o promotor Sylvio de Oliveira Neto, autor do pedido de arquivamento, os jovens acusados não praticaram atos racistas e que "o preconceito está inserido na alma da própria pessoa tida como vítima da expressão (racismo)".

"Quanto ao fato em si, injúria racial ou coisa semelhante, não cometeram nenhuma infração penal, mormente delito contra a honra. Apenas, devemos censurar, com veemência, a atitude de ambos, porque ao simples fato de sorrir para a vítima — uma mulher — em razão de sua indumentária e participar de uma "guera" de cerveja durante uma festa de formatura, caracterizou uma tremenda falta de respeito e educação com o semelhante, jamais os indiciados usaram das condutas com cunho exclusivamente racista", explica Neto.

O pedido de arquivamento foi acolhido pelo juiz Dimas Borges de Paula, em setembro deste. Na segunda-feira, Dandara publicou um vídeo no Facebook lamentando o arquivamento do caso.

"Nos depoimentos todos afirmam que me encontraram em algum momento. A Polícia Civil indiciou e o Promotor decidiu pelo Arquivamento, ele fala ainda da "ausência de procedibilidade" e que as ofensas foram "praticadas no auge do calor de uma discussão". O Juiz em 3 linhas concorda com o Promotor. A justiça brasileira não é cega, ela tem lado e não é o nosso!", escreveu a jovem.

Relembre o caso

Em abril deste ano, Dandara Castro publicou em seu perfil no Facebook um relato intitulado "A nossa presença incomoda", no qual descreve o episódio em que teve seu turbante arrancado durante uma festa de formatura do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 

De acordo com a publicação, Dandara afirma ter notado "olhares incomodados" misturado a alguns elogios pela escolha do acessório. Entretanto, no fim da festa, o ato racista teria acontecido: "Já do lado de fora, um cara branco puxou meu turbante, forte. Disse para ele soltar e saí. Quando passei por ele novamente, sozinha, ele puxou pela segunda vez, fiquei tão brava que gritei para ele não tocar no meu turbante", conta a ativista. 

Ainda no texto, a jovem diz que o agressor chamou outros rapazes para retirar o acessório. "Ele acenou para os amigos virem, quando juntaram em uma rodinha um deles puxou o turbante da minha cabeça e jogou no chão. Quando fui catar, incrédula do que estava acontecendo, jogaram cerveja em mim. Muita cerveja. Fiquei cega, sai desesperada para achar meus amigos. Sabia que se ficasse ali poderia até ter mais agressões físicas", afirma.  

A ativista também relatou que chamou a segurança para que expulsassem os rapazes que a perturbavam. "Meus amigos imediatamente chamaram a segurança (todos negros) que logo entenderam que se tratava de racismo e logo foram tira-los da festa. Um deles teve a cara de pau de falar ao segurança que não meu agrediu "só tirei aquele turbante da cabeça dela", escreveu Dandara. 

Ela finaliza o texto dizendo que "as lágrimas estão molhando muito a tela do celular, só de pensar que estes e tantos outros passaram impunes. Negros na formatura? Na limpeza, segurança ou servindo". 

Você pode gostar