Publicado 08/10/2019 15:19 | Atualizado 08/10/2019 15:24
José David Breviglieri Xavier, aquele presidente afastado de um parque de diversões que ganhou o apelido de João de Deus nas mídias sociais por prática de assédio moral contra funcionários, era tido como um falso profeta.
Quem conviveu com ele lembra que sua gestão mais parecia uma tenda dos milagres. O curioso é que a maioria dos abençoados era apenas ele e as suas ovelhas. É como se apenas ele e os apóstolos pudessem desfrutar do seu “poder miraculoso”.
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Com um amor ao próximo maior do que o presidente da República, tão criticado por querer ungir um filho em embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o “Messias” nomeou durante a sua gestão a filha Victoria como gerente de marketing, o filho Thiago como supervisor de segurança, a nora Tainá como auxiliar contábil e o genro Danilo como gerente de manutenção.
Nepotismo? Bem, os parentes eram uma espécie de discípulos escolhidos a dedo, com laços de sangue ou não, para pregar a palavra do Senhor. Eram abençoados também com salários de executivos graduados. Mérito numa seita, como se sabe, é o que menos importa.
De acordo com relatos de funcionários não convertidos, José David não se limitava a repartir o pão de cada dia com os seus ungidos na santa ceia da companhia. Era mestre em fazer cortesia com chapéu alheio. O ex-executivo é acusado de cometer tantos pecados em sua administração que pagaria uma penitência severa se lavasse a alma no confessionário de uma igreja.
Em uma extravagante viagem internacional à terra do Mickey para participação de uma feira internacional do setor de parques temáticos, arrematou celulares de última geração para ele e os dois filhos queridos com dólares comprados pelo empreendimento que administrava. Os aparelhos não foram devolvidos após a sua retirada do parque determinada pela Justiça.
O aluguel de um flat de luxo em Campinas também foi bancado pelo parque para José David, neste caso sob a complacência do acionista José Abdalla, que previu a jabuticaba em contrato. Foram gastos R$ 72 mil na locação anual do “retiro espiritual” do ex-executivo.
A gestão profissional que assumiu a empresa há três meses acabou com a farra com dinheiro dos acionistas e varreu os vendilhões do templo do parque. Como diz o ditado, quando a esmola é demais o pobre desconfia.
Não para por aí. A nova administração do parque teve de registrar em 15 de junho um boletim de ocorrência na delegacia para reaver dois carros, um Gol (placa GCJ 0458) e uma caminhonete Triton (OHR 8946), confiscados pelo José David e filho que utilizavam os mesmos, a despeito do seu afastamento da presidência em maio. Os veículos, que desapareceram após o seu afastamento, só foram devolvidos em setembro após virar caso de polícia. Milagre, desta vez, da Justiça, é claro.
Outro sacrilégio cometido na antiga gestão do parque foi a compra de destilados. Se fosse apenas para o consumo de convidados vips em festas adultas do camarote do parque, vá lá, mas garrafas de uísque 12 anos e de vodka Absolut, de acordo com o depoimento de um dos convivas do ex-executivo, era para consumo da alta cúpula na calada da noite em um hotel próximo do parque, uma espécie de puxadinho de luxo de José David. O discurso para os funcionários e visitantes poderia ser moralista, quase abstêmio, mas água consumida pela ovelha negra desgarrada não era benta.
Era lá também no resort, que mantinha um elevado contrato de permuta com o parque, que ele distribuiu benesses a apaniguados e amotinou funcionários durante uma breve paralisação assim que foi afastado do cargo pela Justiça.
Mas talvez o maior dos pecados cometidos pelo antigo gestor foi quando mandou levar a “palavra” do Senhor muito longe do parque. Sem precisar fazer o serviço sujo e com as mãos limpas como se fosse Pôncio Pilatos, escalou um emissário graduado para deixar num centro de peças em Taboão da Serra uma singela contribuição a alguns fariseus.
O dízimo que carregava numa mochila pesada e valiosa desapareceu em minutos dentro do estabelecimento, mais adequado para o ramo automobilístico do que para filantropia. Segundo um guarda-costas de boa memória, a cena não era incomum. O ex-executivo acreditava que é dando que se recebe.
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