Mandetta falou que seu substituto, Nelson Teich, e ele mesmo tiveram “descompasso” com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tanto em relação ao uso da cloroquina para tratar a Covid-19 quanto ao isolamento social horizontal.
O ex-ministro informou que os impactos do novo coronavírus no mundo e nas sociedades ocidentais será “motivo para muita discussão científica durante muitos anos”. "E o Brasil vai ser muito questionado sobre isso, por trocar ministros, trocar equipe toda. Lógico que, quando você tem uma interrupção, você paga um preço", disse Mandetta.
Ao Programa Pânico, da Rádio Jovem Pan, o ex-ministro fez comentários sobre a escolha do ministro interino, Eduardo Pazuello, que atualmente está à frente da pasta. Mandetta afirmou que Bolsonaro estaria “mais confortável com uma equipe de militares que não são médicos”. O presidente já chegou a afirmar que Pazuello comandará a pasta por muito tempo.
"Eles ficam mais confortáveis em dar essa linha de tocar a economia, parar com o foco da saúde, parar de falar de doença, parar de falar de óbito e tocar outra agenda. Talvez, para ele, seja mais apropriado", disse.
Sobre as medidas de isolamento social, Mandetta disse que ele e sua equipe estavam indo ao caminho certo. "Os governantes que viram o estrago que o vírus fez em sistemas de saúde do primeiro mundo tomaram cautelas e pediram isolamento corretamente. Tenho convicção de que, se não tivéssemos feito isso, teríamos assistido a uma tragédia de proporções inimagináveis”, afirmou ao programa.
Não priorizar a vida para priorizar a economia é algo que Mandetta diz não concordar. O ex-ministro apoia que cada estado e município adote as medidas condizentes com sua capacidade de atendimento e nível de contágio vírus. Além disso, a reabertura precisa acontecer com cautela.
"Deve haver um conselho com todos os setores. Tem que estar o empresário, a imprensa, os representantes das igrejas, o Ministério Público. Porque tem que ser uma tomada de decisão em conjunto para ser referendada por todos. Não pode ter ninguém de fora, que seja apenas objeto dessa ação. Para que todo mundo seja representado", disse.
Mandetta voltou a defender o isolamento social e a forma como tentou aplicá-lo durante sua gestão. "Sabendo de tudo que estava acontecendo no mundo, como eu ia não tentar ampliar o sistema de saúde, não tentar construir uma estratégia para ter uma coisa básica, que é cidadania. Nós íamos só assistir? Iríamos tocar as vidas, abrir as empresas, tocar os campeonatos, todo mundo trabalhar e se morrer é um detalhe? Para mim, isso não serve", disse.
O ex-ministro foi impedido pelo Conselho de Ética da Presidência da República de falar publicamente sobre suas projeções para o novo coronavírus até o mês de outubro. No entanto, ele acredita que os números possam estar próximos de uma estabilização e a curva deve começar a descer em agosto.
Com isso, ele afirma esperar que a situação seja avaliada de maneira crítica e que sociedade aprenda com o cenário da pandemia.
"A gente vai ter que se olhar e se perguntar por que isso aconteceu. São anos e anos que estamos negligenciando a educação. Negligenciando moradia, muita gente mora em favela e acham isso normal, gente falando que o morro é algo cultural e não é. A gente tem que enfrentar aquilo. A gente tem que melhorar saneamento, organizar o sistema de saúde, amparar mais a ciência brasileira para a gente analisar nossos erros e nossos acertos", concluiu Mandetta.