Para se comprovar um caso de reinfecção, é necessário seguir os protocolos estabelecidos pelo Ministério da SaúdeReprodução
Por Lucas Mathias*
Publicado 10/12/2020 16:31
Rio - O primeiro caso oficial de reinfecção pela covid-19 no mundo aconteceu em Hong Kong e foi publicado em revista científica ainda no final de agosto deste ano. Somente nesta quinta-feira (10), porém, o Ministério da Saúde confirmou a primeira vez em que isso aconteceu oficialmente no Brasil. A demora tem algumas razões, como a dificuldade de acompanhamento constante de pacientes já infectados e os complexos procedimentos necessários para se ter certeza de que se trata de uma segunda infecção. Para ajudar a clarear as dúvidas, O DIA conversou com especialistas das áreas de pesquisa e medicina.
Uma profissional de saúde, moradora da cidade de Natal (RN), que havia se infectado em junho, voltou a contrair a doença e manifestar sintomas em outubro. Após estudos genéticos nas amostras coletadas da paciente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou duas linhagens distintas do vírus SARS-CoV2, que provoca a covid-19. Com isso, a reinfecção foi oficialmente confirmada pelo Ministério da Saúde.
O Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) atua como Centro de Referência Nacional em vírus respiratórios junto ao Ministério da Saúde e como referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em Covid-19 nas Américas. A chefe deste centro, a pesquisadora e virologista Marilda Siqueira, reitera a complexidade de se confirmar uma reinfecção.
De acordo com ela, é necessário seguir os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Para ser considerado suspeito de reinfecção, o indivíduo deve ter dois resultados positivos por meio da técnica de RT-PCR em tempo real para o vírus SARS-CoV-2 (aquela em que é coletada amostra do nariz com uma espécie de cotonete). Os dois episódios de infecção respiratória devem ter, ainda, intervalo igual ou superior a 90 dias, independentemente da condição clínica observada.
“Após isso, a amostra precisa ser encaminhada para o nosso Laboratório, na Fiocruz, no Rio de Janeiro, para confirmação do caso. Aqui, o material foi novamente processado para identificação do novo coronavírus por meio da técnica de RT-PCR em tempo real e de positividade pelo teste de antígeno, capaz de detectar uma proteína específica do vírus. As análises foram positivas para o SARS-CoV-2. Em seguida, as amostras foram submetidas à técnica de sequenciamento genético”, explicou Siqueira, citando o procedimento realizado no primeiro caso comprovado no Brasil.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, por exemplo, ressalta que segue todos os protocolos do Ministério da Saúde. No momento, um caso suspeito de reinfecção está sendo investigado pelo órgão. Caso seja pertinente, será analisado por laboratório de referência. À nível estadual, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que não há nenhum caso confirmado. 
O Dr. Antonino Eduardo, gerente médico do Hospital Badim, acrescenta outra questão importante nessa comprovação:
"Poucos pacientes conseguem ser acompanhados o suficiente para que sejam elegíveis à detecção de uma nova infecção por um vírus diferente do primeiro. Outro motivo é que a reinfecção ou segunda infecção parece ser incomum. A maioria das pessoas que teve infecção assintomática ou a doença em si, provavelmente estará imune por, pelo menos, 3 a 5 meses, de acordo com os estudos que conhecemos", afirma.
Eduardo ressalta que os estudos ainda estão em andamento. Quando concluídos, responderão com maior precisão sobre o tempo que o paciente ficará imune após uma infecção pela covid-19. Ainda assim, alerta: “Mesmo as pessoas que já tiveram a doença devem continuar praticando as medidas de prevenção”.
Os cuidados devem ser maiores com pacientes que foram infectados mas permaneceram assintomáticos e também com quem teve a doença na forma mais branda. Estudos preliminares indicam que nesses casos, segundo o gerente médico do Hospital Badim, há mais susceptibilidade para uma segunda infecção. “No entanto, são necessários mais estudos para se entender os aspectos fisiopatológicos e epidemiológicos da probabilidade de segunda infecção”, pondera Antonino Eduardo. Ainda não se sabe com certeza, no entanto, se uma possível reinfecção pode ser mais agressiva ou mais branda que a primeira.
Mas e com o início da vacinação, o problema estará resolvido? A resposta ainda é incerta. Para a virologista Marilda Siqueira, a perspectiva é positiva: “Acreditamos que as vacinas em desenvolvimento serão eficazes contra as diferentes linhagens do novo coronavírus circulantes. No entanto, novos dados e estudos são necessários para responder essa questão com mais precisão”, afirma.
Segundo o Dr. Antonino Eduardo, a periodicidade dos imunizantes pode ser um fator importante após a conclusão das pesquisas: "É possível que uma pequena parcela das vacinas ainda possa estar suscetível à reinfecção, o que talvez promova uma perspectiva de vacinação periódica (anual, bianual, por exemplo)", projeta ele, que também está otimista com a vacinação.
*Estagiário sob supervisão de Gustavo Ribeiro
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