Publicado 16/06/2021 12:49 | Atualizado 16/06/2021 14:56
Durante depoimento na CPI da Covid, nesta quarta-feira, 16, o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, afirmou que seu processo de impeachment ocorreu de forma acelerada e sem garantia de direitos legais. Witzel também afirmou que teria sido vítima de “perseguição política” e que o processo de impeachment começou após investigações do caso Marielle Franco.
“Tudo isso começou porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quanto foram presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição contra mim foram inexoráveis”, afirmou o ex-governador.
“Tudo isso começou porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quanto foram presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição contra mim foram inexoráveis”, afirmou o ex-governador.
Witzel falou que enfrentou dificuldades para se comunicar com o governo federal após a acusação de que estaria interferindo na Polícia Civil do Rio para que o caso Marielle fosse adiante. "Ver o presidente da República acordar em Dubai para me atacar e dizer que estava manipulando a polícia do meu estado. Quantos crimes de responsabilidade vai cometer até que alguém pare ele?", indagou ele.
Em seguida, ele disse que após esse episódio não foi mais recebido no Palácio do Planalto para discutir sobre pandemia. “Depois desse evento, eu não fui mais recebido no Palácio do Planalto e nós tínhamos dificuldades de poder falar com os ministros para sermos atendidos. Governo e o presidente começaram a me retaliar. Eu encontrei com o ministro Guedes no avião, fui falar com ele, ele virou a cara e saiu correndo”, disse.
"A CPI pode deferir sob segredo de justiça, e aqui vai uma sugestão, com o Supremo Tribunal Federal, medidas cautelares de busca e apreensão de celular e documentos para sabermos quem está por trás do meu impeachment", reforçou ele.
Witzel falou que o seu impeachment foi o começo para uma perseguição contra governadores em todo o país. "Por trás do meu impeachment estão aqueles que se aliaram a esse discurso de perseguição aos governadores. É um governador que foi ilegitamente cassado por um tribunal de exceção. Isso não pode continuar. Espero que possa retornar a governar o meu estado para terminar meu mandato. Eu quero seguir na vida política desse país. Quem sabe o mandante do caso Marielle possa ser descoberto", pontuou ele.
'Corro risco de vida'
Após isso, Witzel falou sobre o risco de vida que corre com os milicianos ligados à saude. "Corro risco de vida, por causa da máfia da saúde no Rio de Janeiro e quem está envolvido por trás dela. Tenho certeza que tem miliciano envolvido por trás disso. Inclusive, manifestei minha vontade de vida de deixar o país para manter minha integridade física, minha e da minha família", disse Witzel.
Ele contou ainda sobre um episódio com ex-ministro da Justiça Sergio Moro no qual o ex-juiz federal teria passado um "recado" de Bolsonaro a Witzel. Segundo o relato do ex-governador, Moro disse a ele para "parar de falar que quer ser presidente", a pedido de Bolsonaro, a quem Moro chamava de "chefe". "Acho que papel de menino de recado não se espera de você que, como eu, é magistrado de carreira", afirmou Witzel sobre o que teria dito ao ex-ministro. Segundo o governador cassado, Moro relatou a ele que a reunião entre os dois não poderia se tornar pública.
"Há indícios de intervenção no RJ no caso Marielle e atos de perseguição contra mim", disse o ex-governador, segundo quem Bolsonaro o chamou de "estrume, ditador e leviano".
"Há indícios de intervenção no RJ no caso Marielle e atos de perseguição contra mim", disse o ex-governador, segundo quem Bolsonaro o chamou de "estrume, ditador e leviano".
Sergio Moro
Para mostrar o papel de Moro e mostrar a influência do presidente Bolsonaro e de Moro, Witzel lembrou de uma situação do porteiro de Bolsonaro sobre o caso Marielle. "Logo após o porteiro prestar depoimento para a Polícia Civil, o então ministro Moro requisita um inquérito para investigar crime de segurança nacional. Isso porque o porteiro disse que o executor da Marielle teria chegado no condomínio e teria mencionado o nome do presidente da República", disse ele.
O impeachment
O processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel foi votado no dia 30 de abril e todos os votos do Tribunal Especial Misto (TEM) foram a favor da cassação do mandato de Witzel. Formado com cinco deputados e cinco desembargadores, o júri considerou que o ex-governador culpado por crime de responsabilidade em contratos da Secretaria de Estado de Saúde durante o período de pandemia.
As denúncias contra ele seguem dois pontos principais. O primeiro se referem à requalificação da OS Unir, por decisão de Witzel, em 23 de março de 2020, após a organização social ter sido impedida de contratar com a administração pública e ter tido contratos rescindidos para a gestão de unidades de saúde no Rio, por irregularidades no contratos, em setembro de 2019.
Outro aspecto da denúncia se refere à contratação da OS Iabas por mais de R$ 800 milhões para construir e administrar os hospitais de campanha do Rio, sem que empresa tivesse condições de realizar o serviço. A denúncia apontou, ainda, que as organizações sociais Unir Saúde e Iabas pertencem ao empresário Mário Peixoto.
Outro aspecto da denúncia se refere à contratação da OS Iabas por mais de R$ 800 milhões para construir e administrar os hospitais de campanha do Rio, sem que empresa tivesse condições de realizar o serviço. A denúncia apontou, ainda, que as organizações sociais Unir Saúde e Iabas pertencem ao empresário Mário Peixoto.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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