O incentivo ao tratamento precoce é uma das linhas de investigação da CPI.AFP
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Publicado 19/06/2021 12:05 | Atualizado 19/06/2021 12:06
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sugeriu à Organização Mundial da Saúde (OMS) um diálogo sobre o tratamento precoce, método defendido pelo presidente Jair Bolsonaro mas sem eficácia comprovada contra a covid-19. A oferta de "convergência" em torno do tema foi citada por Queiroga em reunião no dia 3 de abril com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, por teleconferência, conforme documento enviado pelo Itamaraty à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Na mesma conversa, o chefe da pasta apresentou Bolsonaro como o "principal ativo" para o Brasil avançar no combate à pandemia.
O incentivo ao tratamento precoce é uma das linhas de investigação da CPI. O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), diz já ter provas para responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro pelo descontrole da pandemia no País, que se aproxima de 500 mil perdas pelo novo coronavírus. Além disso, ele justificou a oferta do tratamento precoce feita por Queiroga à OMS para incluir o atual ministro da Saúde como investigado na CPI. Em depoimento aos senadores, na semana passada, o ministro afirmou que o tratamento precoce não tem eficácia comprovada para covid.
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"O dr. Queiroga notou que é preciso seguir avançando na harmonização das relações no Brasil para maior êxito na luta contra a covid-19. Reiterando sua disposição para o diálogo, argumentou que a imprensa poderia ajudar a transmitir mensagens mais ponderadas ('não é hora de jogar gasolina na fogueira; é hora de apagar o incêndio'). Disse que a relação do Brasil com a OMS pode ser reforçada, mediante uma "colaboração forte" com o Ministério da Saúde. Sugeriu, inclusive, eventual diálogo da OMS e do Ministério com colegas médicos mesmo sobre áreas em que não haja convergência (momento em que mencionou o chamado 'tratamento precoce, sem eficácia comprovada')", diz o telegrama formulado pela Missão Permanente do Brasil em Genebra.
A reunião ocorreu menos de duas semanas após Queiroga assumir o Ministério da Saúde. Ele destacou ao diretor da OMS que estava se empenhando para dar exemplo quanto às medidas de saúde pública para enfrentar a pandemia. "Citou, nesse contexto, a importância de hábitos de higiene e de se evitar aglomerações fúteis", destaca o comunicado. No mesmo período, porém, Bolsonaro participou de eventos de inauguração promovendo aglomerações com apoiadores sem o uso de máscara.
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Ainda na reunião, Queiroga avaliou que buscou interlocução com parlamentares brasileiros e, com 10 dias no cargo, "já pudera notar uma diminuição na 'pressão' e um crescente ambiente para diálogo e entendimento." O ministro afirmou ao diretor da OMS que o presidente Jair Bolsonaro era um "grande patriota" com preocupação em relação às consequências sociais e econômicas da pandemia, sobretudo para os mais vulneráveis, citando o auxílio emergencial pago a trabalhadores informais e desempregados.
"Notou que o Presidente Bolsonaro compreendera a eficácia das medidas de saúde pública para evitar a necessidade de um 'lockdown'. Para o ministro da Saúde, o mandatário, como "líder da Nação", seria o principal ativo para o Brasil avançar na resposta à emergência sanitária."
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Na reunião, Queiroga reforçou o apelo para que o Brasil recebesse mais doses de vacinas. Sinalizou, ainda, a disposição para elevar o volume de doses do consórcio Covax Facility de 10% da população para 20%. No ano passado, porém, sob a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, o Brasil optou pelo porcentual mínimo, apesar de ter recebido uma oferta maior do consórcio.
O diretor da OMS, porém, ressaltou que vários países - e não só o Brasil - passavam por problemas para receber imunizantes devido à demanda global aos produtores. Tedros Ghebreyesus "reconheceu que as vacinas são parte importante da resposta, mas recordou que, segundo a OMS sempre sublinha, é preciso usar estratégia abrangente, com recurso a 'all measures'", citando medidas como distanciamento físico e uso de máscaras.
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Para o relator da CPI, Queiroga "mentiu muito" ao falar na comissão e precisa ser investigado. "Ele finge que é ministro, defende o uso de máscara e o presidente diz que ele estará obrigado a fazer um decreto minimizando o uso de máscara. Defende autonomia concorrente dos Estados e o presidente da República entra, com a participação dele, contra essa autonomia concorrente", afirmou Renan.
Na avaliação de Renan, Bolsonaro continua induzindo pessoas à morte com respaldo do ministro da Saúde. "Ele (Queiroga) vai ter que ser investigado para que ele entenda que precisa parar com essa loucura, que ele não pode continuar, a pretexto do cargo que ocupa, a fazer essas atrocidades ou concordar com as atrocidades que são feitas diariamente pelo presidente da República", criticou.
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