MonarkReprodução
Publicado 08/02/2022 15:55 | Atualizado 08/02/2022 18:23
São Paulo - Após a repercussão da fala do apresentador do podcast "Flow", Monark, que defendeu a existência de um partido nazista que fosse reconhecido por lei no Brasil, usuários das redes sociais pressionaram os patrocinadores para romper com o programa de rádio que pode ser ouvido pela internet. Entre as empresas que decidiram por um fim no apoio estão Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e Flash Benefícios.
Em nota, a Flash Benefícios, empresa de cartões para empresas, diz que discorda veemente das falas feitas
pelo apresentador e chamou os comentários de "inadmissíveis".

"A Flash Benefícios acredita em uma sociedade igualitária, sem qualquer tipo de discriminação. Não há sociedade livre quando há intolerância ou busca de legimitação de discursos odiosos, nazistas e racistas, tecidos a partir de uma suposta liberdade de expressão", afirmou.

A empresa afirmou que reforça que todo e qualquer tipo de opinião jamais pode ferir, ignorar ou questionar a existência de alguém ou de um grupo da sociedade. "Diante de absursos como esse, é preciso agir e, desta forma, solicitamos o encerramento formal e imediato de nossa relação contratual com os Estúdios Flow", disse.
A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) também decidiu acabar com o contrato com o podcast "Flow". "A Ferj defensora da igualdade, do respeito e contrária a qualquer tipo de preconceito, anuncia o rompimento do contrato com o Estúdios Flow, responsável pelo podcast Flow Sport Club que transmitia jogos do Campeonato Carioca de 2022, por apologia ao nazismo, regime cujos crimes contra a humanidade até os dias de hoje causam horror a qualquer um que preze pela vida", disse, em nota.
Além dessas empresas, outras se manifestaram afirmando que já não fazem parceria com o Estúdios "Flow". É o caso da Puma, que disse que discorda e repudia veementemente as declarações e ideias expressas durante o último Flow Podcast, transmitido nesta segunda-feira (7). "Elucidamos ainda que não somos patrocinadores do podcast, tendo feito no passado somente uma ação pontual e isolada", disse a empresa, em uma publicação no Twitter.
A empresa esportiva também disse: "Já havíamos pedido para nosso logo ser retirado como patrocinadores e reforçamos isso novamente". 
O Ifood afirmou que não mantém mais relação comercial com o Flow. "Nossa decisão de encerrar o patrocínio com o podcast foi tomada, de forma definitiva, em novembro de 2021. A marca do iFood já foi retirada dos materiais que constam no site do Flow Podcast", disse.
A Mondelez Brasil, detentora da marca BIS, afirma que repudia topo tipo de comentário e a manifestação nazista, além de qualquer outra forma de preconceito, racismo e discriminação.

"A empresa esclarece que patrocinou pontualmente apenas dois episódios do Flow Podcast veiculados em 2021 e que não tem contrato com o canal, já tendo solicitado, inclusive, da retirada do seu nome do pool de patrocinadores", disse.

A empresa reafirmou o compromisso com a liberdade e o respeito entre as comunidades e os consumidores e afirmou que não compactua com qualquer tipo de discriminação.
A marca de roupas Insider Store também se manifestou por meio de um vídeo publicado nas redes sociais. "Estamos suspendendo qualquer tipo de parceria com o podcast Flow e exigindo a saída do Monark do podcast. A gente acredita que mensagens de ódio não podem ser disseminadas", disse Yuri, co-fundador da marca.
A Finclass afirmou que repudia veementemente as declarações e ideias expressas durante o último Flow Podcast, transmitido nesta segunda-feira. "Esclarecemos ainda que a Finclass não é uma das patrocinadoras do podcast. Fizemos apenas uma ação pontual no passado, e pedimos para que nosso logo fosse retirado do mídia kit - um pedido que reforçamos aqui mais uma vez", disse a empresa.
Em nota, a Yuool disse que repudia as declarações expressas no último "Flow" Podcast. "O posicionamento dos participantes não condiz com os princípios defendidos pela marca. Nós não apoiamos qualquer discurso, ação ou prática de ódio", disse.

A empresa esclareceu que o contrato de patrocínio foi encerrado em dezembro e que, desde então, não temos contrato ativo com o mesmo. "Solicitamos a retirada da nossa marca do site do podcast e ficamos à disposição para maiores esclarecimentos", afirmou a empresa.
Discurso pró-nazismo
Em conversa com os deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB), Monark argumentou que a "esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical" e, por isso, as duas vertentes "tinham que ter espaço".
"A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião [...] Eu sou mais louco do que vocês. Eu acho que tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei", disse Monark.
Logo, o apresentador do "Flow" foi interrompido e rebatido por Tabata, que explicou como o nazismo traz riscos para a população judaica. "Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca a vida do outro em risco. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco", disse a parlamentar.
No entanto, insatisfeito com a avaliação da deputada federal, Monark insistiu e disse: "Se um cara quisesse ser anti-judeu, eu acho que ele tinha o direito de ser. Você vai matar quem é anti-judeu? […] Ele não está sendo anti-vida, ele não gosta dos ideais [dos judeus]".
O apresentador continuou e disse: "As pessoas não têm o direito de ser idiotas?", questionou o apresentador. Em seguida, ele questionou como o nazismo coloca os judeus em risco. "De que forma [isso acontece]? Quando [o nazismo] é uma minoria, não põe. Mas era [um risco] quando era uma maioria", afirmou.
Mais uma vez, Tabata rebateu e disse: "O judaísmo é uma identidade, uma religião, uma raça. A comunidade judaica até hoje tem que se preocupar com sua segurança porque recebe ameaça. O antissemitismo é uma coisa que tem ser combatida todos os dias", respondeu Tabata.
Para entrar na discussão durante o podcast, Kim usou uma suposta fala de um membro partidário do PCO para argumentar que os partidos com bandeiras ideológicas comunistas também não deveriam existir em razão das declarações que violam os direitos humanos. No entanto, o parlamentar não detalhou quais eram as circunstâncias na suposta declaração do membro partidário.
"Quando o Rui Costa, do PCO, fala em fuzilar burguês, por exemplo, aquilo está contemplado pela liberdade de expressão. Pelo menos no entendimento de hoje. E isso entra em contradição com violação de Direitos Humanos. Então, por essa definição, o partido comunista não deveria existir", disse Kim.
No Brasil, conforme o artigo 1º da Lei 7.716/89, é considerado crime fabricar, comercializar, distribuir, veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação do nazismo. Caso se caracterize o ato de divulgar ou comercializar materiais com ideologia nazista, a pena pode variar entre um a três anos de prisão e multa.
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