Jair Messias Bolsonaro (PL)AFP
Publicado 24/02/2022 13:11 | Atualizado 24/02/2022 16:29
Brasília - O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou, na manhã desta quinta-feira, 24, por cerca de 20 minutos durante um evento de inauguração do complexo viário na BR-153, em São José do Rio Preto (SP), mas não mencionou a invasão da Rússia à Ucrânia. Ele também conversou com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, antes de embarcar para São Paulo, mas não falou sobre o ataque russo, considerado o maior desde a Segunda Guerra Mundial. 
Ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, seu provável candidato ao governo de São Paulo, Bolsonaro também liderou uma "motociata". Bolsonaro chegou ao local do evento na carroceria de uma caminhonete, à frente de uma "motociata" com centenas de participantes, acompanhado pelo ministro Tarcísio. Durante 12 minutos, ele caminhou em meio aos apoiadores, distribuindo abraços, apertos de mão e posando para selfies.

Em coro, Bolsonaro era chamado de "mito" e Tarcísio de "governador". O ministro também deu autógrafos. O presidente fez um discurso político, no qual praticamente ignorou o motivo de sua ida à cidade, deixando de dar qualquer detalhe sobre a obra inaugurada. 

Durante a visita, que teve clima de campanha, o presidente evitou a imprensa e, sem citar a invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia, criticou o regime comunista. "Comunismo é um fracasso, socialismo é uma desgraça. Nós somos a maioria, nós vamos mudar o destino do Brasil", disse, em discurso a apoiadores.
Atacado por seus adversários por ter dificultado a vacinação e defendido a abertura das atividades durante a pandemia de covid-19, que já causou quase 650 mil mortes no país, ele defendeu as ações do seu governo e criticou os governadores. 
"Vimos e sentimos na pele protótipos de ditadores por todo o Brasil. E esses aprendizes de ditadores tomaram medidas que afetaram diretamente a nossas vidas. Tive e tenho poder de fechar todo o Brasil por decreto, jamais cogitei isso, porque a liberdade está em primeiro lugar. Quase todos os governadores obrigaram o povo a ficar em casa e não pensaram nas consequências."

Ele disse que, como esperava e previa, a situação está voltando à normalidade, o dólar está caindo e a moeda brasileira é uma das que mais valorizaram. "Ser líder não é estar ao lado do politicamente correto, ser líder é decidir. Em todos os momentos que vocês desejaram eu decidi. Decidi estar ao lado do povo. Não abandonei vocês em momento algum. No auge da pandemia estava no meio de vocês, visitando o Brasil e as periferias. Não me escondi no Palácio do Planalto, com tudo ao meu lado, enquanto vocês passavam necessidade."

Em recado aos seus eleitores, pediu que se orgulhassem do que fizeram em outubro de 2018, quando o elegeram presidente. "Hoje temos um presidente que acredita em Deus, que respeita seus militares, que defende a família e pede lealdade ao povo que são vocês. Quem dá o voto são vocês, os que decidem são vocês", disse.

Sem citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que aparece como seu principal adversário nas eleições deste ano, ele criticou os governos petistas. "Quero que vocês voltem a 2018 e pensem que, se aquela facada tivesse sido fatal, quem estaria no meu lugar? Como estaria o nosso Brasil, não apenas na questão da economia, mas de um bem maior, muito mais valioso do que a nossa própria vida, que é nossa liberdade."

O presidente participou da inauguração da obra de duplicação de um trecho da rodovia Transbrasiliana (BR-153), que corta a área urbana de Rio Preto. A cerimônia aconteceu no km 68,5 da rodovia, onde foi montada uma grande estrutura para receber os políticos e convidados.

Prefeitos da região levaram comitivas com bandeiras do Brasil e vestindo camisas com a estampa de Bolsonaro, dando um tom de campanha ao evento. Quando uma viatura do Batalhão de Ações Especiais (Baep) se aproximou, houve vaias e gritos de "fora polícia do Doria". A PM participou do esquema de segurança do presidente.

Ao ser anunciado, o prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (MDB), foi vaiado e xingado. Chamado para o discurso, o anfitrião do presidente quase não conseguiu ser ouvido sob um coro de vaias dos bolsonaristas e gritos de "fora". Bolsonaro não saiu em defesa do seu anfitrião.

O presidente inaugurou 18,5 km de pista dupla com 13 viadutos, uma ponte e oito passarelas de pedestres. A obra começou em 2013, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas sofreu vários atrasos. Bolsonaro inaugurou também uma base da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no km 69 da BR-153. Na companhia do ministro João Roma, da Cidadania, entregou ainda cartões do Auxílio Brasil para beneficiários da cidade.
Viagem à Rússia
O chefe do Executivo viajou à Rússia na semana passada e, na ocasião, disse ser solidário ao país. "Somos solidários à Rússia e queremos muito colaborar em várias áreas, defesa, petróleo e gás, agricultura. As reuniões estão acontecendo", disse Bolsonaro ao presidente russo, Vladimir Putin, no último dia 16, com a ajuda de um intérprete.
A manifestação gerou mal-estar diplomático por ser contrária à tradicional postura de neutralidade do Brasil em conflitos internacionais. Após o encontro com o presidente russo, Bolsonaro chegou a afirmar que "coincidência ou não" parte das tropas deixaram a fronteira com a Ucrânia - o que não aconteceu de fato, como mostram os ataques desta madrugada.
Após a declaração do mandatário brasileiro, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que o "Brasil parece estar do outro lado da comunidade global" em relação às tensões entre Rússia e Ucrânia. "Eu diria que a vasta maioria da comunidade global está unida em uma visão compartilhada, de que invadir um outro país, tentar tirar parte do seu território, e aterrorizar a população, certamente não está alinhado com valores globais e, então, acho que o Brasil parece estar do outro lado de onde está a maioria da comunidade global", opinou Psaki.
'Brasil não concorda com invasão'
Nesta quinta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o Brasil não concorda com a invasão da Rússia à Ucrânia. Mourão negou que o Brasil esteja adotando uma posição neutra no conflito e ainda afirmou que o país está se posicionando por meio da atuação na Organização das Nações Unidas (ONU).
"O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que ele respeita a soberania da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. Isso é uma realidade", declarou Mourão na chegada ao Palácio do Planalto.
Questionado sobre o posicionamento do governo, Mourão disse que o país está se manifestando dentro da ONU, respeitando os princípios básicos de direito internacional. "O Brasil tem tomado posicionamento dele dentro da ONU, respeitando os princípios básicos do direito internacional, de não intervenção, de assegurar a soberania. Mas por enquanto nós não temos nenhuma outra coisa a fazer além disso aí. Vamos ver o que vai emergir aí das reuniões do conselho de segurança da ONU, porque se não a ONU também perde sua razão de ser", afirmou o vice-presidente.
Invasão russa
A invasão russa começou nesta madrugada, com ataques aéreos em todo o país, incluindo na capital Kiev, e a entrada de forças terrestres ao norte, leste e sul, provocando dezenas de mortos, segundo as autoridades da Ucrânia. Dois dias depois de reconhecer a independência dos territórios separatistas ucranianos na região de Donbas, o Vladimir Putin, ordenou durante a madrugada a invasão do país vizinho.
Pouco depois da meia-noite começaram a ser ouvidas explosões em várias cidades ucranianas, da capital, Kiev, a Kharkiv, a segunda maior cidade do país na fronteira com a Rússia, mas também em Odessa e Mariupol, às margens do Mar Negro.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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