Ex-presidente Jair Bolsonaro e Luciano Hang, dono da HavanReprodução/AP Photo
Publicado 16/02/2024 09:12
A Polícia Federal (PF) obteve um áudio no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), indicando que empresários se reuniram com o então presidente da República, em novembro de 2022, para defender uma "posição mais radical" em relação ao resultado das eleições. Na época, Bolsonaro havia perdido a disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os empresários participaram de uma reunião com Bolsonaro no dia 7 para tratar do golpe de Estado. Entre eles estavam Luciano Hang (lojas Havan), Meyer Nigri (Tecnisa), Afrânio Barreira (Coco Bambu). Na conversa, Cid também lista o dono da rede Centauro, que a PF atribui como sendo "possivelmente Sebastião Bonfim".
"Na conversa que ele (Bolsonaro) teve depois com os empresários, ele estava, tava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri. É, estava o cara do Coco Bambu também, ele também. Tipo, quem falou, ó... o governo Lula vai cair de podre, né? Pessoal ficou um pouco de moral abaixo porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a pressionar o MD (Ministério da Defesa) a fazer um relatório, né, contundente, duro né? Pra virar jogo, aqueles negócios", diz Cid no áudio, enviado no dia 8 de novembro, de acordo com o relatório da Polícia Federal.
O áudio fazia parte de um diálogo entre Cid e o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. O ex-ajudante de Ordens mantinha o general Freire Gomes informado das articulações golpistas discutidas no Palácio da Alvorada.
O relatório citado na conversa é o documento elaborado pelas Forças Armadas após o resultado das eleições. Os militares fizeram parte do grupo responsável por fiscalizar os sistemas de votação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A investigação aponta que o relatório produzido pelo Ministério da Defesa era um dos elementos para sustentar uma trama golpista para tentar reverter o resultado das eleições.
Os empresários citados já haviam sido alvos de investigação por disseminarem mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp antes das eleições.
Segundo a PF, o diálogo do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro "revelou que os empresários Meyer Nigri e Luciano Hang, investigados (...) pela prática de atos antidemocráticos, com disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, teriam reiterado a prática de condutas ilícitas, instigando o então presidente para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório mais duro, contundente com o objetivo de 'virar o jogo'".
Em nota, Nigri afirma que o empresário "nunca tentou pressionar quem quer que seja, muito menos o ex-presidente para 'virar o jogo'" e que ele reconheceu a vitória do presidente Lula "tão logo vieram os resultados das eleições".
Já os advogados de Hang afirmam que não podem declarar nada sobre a investigação que tramita sob sigilo e que desconhecem o teor da mensagem. "Luciano jamais sugeriu ou pediu a quem quer que fosse a adoção de medida destinada a atentar contra o ordenamento jurídico e as instituições democráticas".
A reportagem também entrou em contato com Barreira e Bonfim, mas não teve retorno.
 
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