Ao menos quatro ministros do STF e o presidente da Câmara foram monitorados ilegalmenteReprodução
Publicado 11/07/2024 14:50 | Atualizado 11/07/2024 14:50
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Jair Bolsonaro (PL) monitorou ilegalmente, segundo a Polícia Federal (PF), ao menos quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), quatro deputados federais, quatro senadores, um ex-governador, dois servidores do Ibama, três auditores da Receita e quatro jornalistas.
Publicidade
A lista foi descoberta pelos investigadores da Operação Última Milha, que teve sua quarta fase aberta nesta quinta-feira, 11. Foram presos quatro auxiliares do ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem e integrantes do chamado 'gabinete do ódio'. 

Segundo a PF foram monitorados:

- Poder Judiciário: ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, todos do Supremo Tribunal Federal.

- Poder Legislativo: deputados Arthur Lira, presidente da Câmara, Rodrigo Maia (então presidente da Câmara), Kim Kataguiri e Joice Hasselmann; senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues.

- Poder Executivo: ex-governador de São Paulo, João Doria, servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges, auditores da Receita Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homem da Silva e José Pereira de Barros Neto.

- Jornalistas: Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.
'Abin paralela'
A Abin é o órgão principal do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e tem como função conceder informações estratégicas e confiáveis ao Palácio do Planalto. Os informes são enviados ao Poder Executivo por meio de relatórios, com a finalidade de evitar possíveis ameaças ao Estado Democrático de Direito e à soberania nacional.

De acordo com investigadores da Polícia Federal, no governo passado, foi instalada uma "Abin paralela" para monitorar pessoas consideradas adversárias de Bolsonaro e atuar por interesses políticos e pessoais do ex-presidente e de seus filhos.

O grupo instalado na Abin teria usado um "software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira" para rastrear celulares "reiteradas vezes". Os crimes teriam sido praticados sob o governo Bolsonaro. À época, o órgão era comandado por Alexandre Ramagem.

O sistema de monitoramento é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G. Para encontrar o alvo, basta digitar o número do seu contato telefônico no programa e acompanhar em um mapa a última posição

Desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint), o FirstMile se baseia em torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões para captar os dados de cada aparelho telefônico e, então, devolver o histórico de deslocamento do dono do celular.

Segundo reportagem do jornal O Globo, durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro, a Abin teria usado, sem qualquer protocolo oficial, a ferramenta FirstMile para monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses

Em janeiro, a investigação se desdobrou na Operação Vigilância Aproximada, que mirou o deputado federal Alexandre Ramagem, o vereador Carlos Bolsonaro, policiais federais cedidos à Abin no governo Bolsonaro e ex-superintendentes regionais da agência.

Ainda de acordo com o jornal, além do sistema de monitoramento, a Abin paralela utilizou equipamentos como microfones direcionais, câmeras escondidas, drones e malwares. Um servidor relatou em uma investigação interna da Abin que, em 2021, o órgão decidiu adquirir uma série de drones para operações de vigilância nas superintendências regionais.

O servidor relatou ainda que integrantes da Abin utilizavam "equipamentos sensíveis" sem cautela como microfones direcionais de "alcance de algumas centenas de metros", câmeras e outras ferramentas "para uso tático em campo".
Leia mais