Doença é conhecida como 'varíola dos macacos'AFP
Publicado 15/08/2024 09:15
A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou o comitê de emergência nesta quarta-feira (14) e declarou a doença mpox como emergência global, devido principalmente à sua propagação na África.
Publicidade
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse que a pasta vai criar um Comitê de Operação de Emergência para adotar medidas de enfrentamento à disseminação da mpox, que vem preocupando autoridades internacionais.
"Já estávamos acompanhando, tivemos reunião de especialistas, há duas semanas, desde que começaram os casos, e essa possibilidade [de disseminação da doença], e vamos analisar as questões como vacina. Não há motivo de alarme, mas de alerta", afirmou a jornalistas, no Palácio do Planalto, após participar de um evento de anúncio de investimentos na indústria da saúde.

Entre as medidas que devem ser adotadas, segundo a ministra, estão a aquisição de testes de diagnóstico, alerta para viajantes e atualização do plano de contingências. Sobre vacinas, por enquanto, não há previsão de imunização em massa. No ano passado, a imunização contra a doença foi realizada em um momento de emergência em saúde pública de importância internacional, com o uso das doses liberadas pela Anvisa de forma provisória. Essas doses também foram usadas, segundo a ministra, para pesquisas científicas.

A avaliação da pasta é que a nova onda da doença apresenta risco baixo neste momento para o Brasil. Dados do ministério apontam que, em 2024, foram notificados 709 casos de mpox no Brasil e 16 óbitos, sendo o mais recente em abril do ano passado. Já em âmbito global, este ano, os casos já superam o total registrado em 2023 e somam mais de 14 mil, além de 524 mortes.
O que é a Mpox?
É uma zoonose viral, uma doença infecciosa que passa de animais para humanos, causada pelo vírus de mesmo nome (varíola dos macacos). Este vírus é membro da família de Orthopoxvirus, a mesma do vírus da varíola, doença já erradicada entre os seres humanos.
Como surgiu?

A doença foi registrada pela primeira vez em 1958, na Dinamarca. O primeiro caso em humanos foi registrado apenas em 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, a doença foi relatada em pessoas em outros países da África Ocidental e Central, onde agora é considerada endêmica.

Quais são os sintomas?

Os sintomas podem ser leves ou graves. De forma geral, os sintomas iniciais incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, calafrios e exaustão, além de lesões na pele, similares às da catapora, que se iniciam no rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo os genitais.
Em geral, de 1 a 5 dias após o início da febre, aparecem as lesões cutâneas (na pele), que são chamadas de exantema ou rash cutâneo (manchas vermelhas). Essas lesões aparecem inicialmente na face, espalhando para outras partes do corpo.

Elas vêm acompanhadas de prurido (coceira) e aumento dos gânglios cervicais, inguinais e uma erupção formada por pápulas (calombos), que mudam e evoluem para diferentes estágios: vesículas, pústulas, úlcera, lesão madura com casca e lesão sem casca com pele, completando o processo de cicatrização. Vale ressaltar que uma pessoa é contagiosa até que todas as cascas caiam —as casquinhas contêm material viral infeccioso— e que a pele esteja completamente cicatrizada.
Os casos atuais têm apresentado alguns elementos atípicos, como a ausência dos sintomas de mal-estar iniciando o quadro clínico, e também manifestações como edema peniano e dor intensa na região do reto.
Em caso de suspeita de contágio, o Ministério da Saúde recomenda que o paciente procure uma unidade de saúde para avaliação médica
Transmissão
O contato íntimo — que inclui relações sexuais —, de pele com pele, com lesões de pessoas contaminadas, é apontado como a principal forma de transmissão. Beijar, abraçar e, principalmente, ter relações sexuais com pessoas com diagnóstico positivo são consideradas atividades de risco e devem ser evitadas.

Porém, medidas como uso de máscaras e preservativos, higienização de mãos e o não compartilhamento dos chamados fômites (objetos capazes de transportar patógenos, como lençóis e toalhas) também podem ajudar a evitar a contaminação. Isso porque outras formas de transmissão são conhecidas ou estão sendo estudadas.

Crianças com menos de oito anos, gestantes e imunodeprimidos — pessoas que passaram por transplante, em tratamento oncológico ou que tiveram diagnóstico positivo para HIV, por exemplo — devem ter cuidados redobrados, uma vez que são mais suscetíveis a quadros graves da doença. Alguns especialistas indicam que homens que fazem sexo com homens (HSH) também precisam estar atentos, visto o risco de exposição. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), eles representam 98% dos casos.

Como funciona o teste para diagnosticar a doença?

Testar casos suspeitos e obter diagnósticos com agilidade é crucial para controlar a doença. Só deve buscar testagem, orientam especialistas, pessoas que apresentem erupções cutâneas. O único teste disponível é de biologia molecular — mesmo método do teste PCR para o coronavírus — e depende de secreções dessas lesões, coletadas com swab (bastão), para análise.

O melhor momento para testar é quando as vesículas (lesões na pele) se formam, porque há maior presença de vírus nas secreções. Mas isso não significa que a detecção seja impossível no início da doença, por exemplo. E na cicatrização, inclusive, a casquinha também é encaminhada para o laboratório.
Qual o tratamento para a mpox?
A mpox tende a ser leve e, geralmente, os pacientes se recuperam em algumas semanas sem tratamento específico, apenas com repouso, muita hidratação oral, medicações para diminuir o prurido e controle de sintomas como febre ou dor.
Existem medicamentos antivirais, como o tecovirimat e o cidofovir, que podem ser usados em pessoas sob risco de complicações, mas que não são facilmente disponíveis comercialmente.
Até quando a pessoa transmite a doença?
O período de maior transmissão se dá quando surgem as lesões de pele. As feridas podem levar até 40 dias para secarem completamente e, depois disso, da cicatrização total, a pessoa deixa de transmitir.
Mpox pode matar?
Pode, mas o risco é baixo. Existem dois grupos distintos do vírus da mpox circulando no mundo, agrupados com base em suas características genéticas: um predominantemente em países da África Central — com taxa de fatalidade de cerca de 10% —, e outro circulando na África Ocidental, com taxa bem menor, de 1%. A vigilância genômica ainda incipiente mostra que o vírus em circulação fora do continente africano é o menos letal.

Complicações podem ocorrer, principalmente infecções bacterianas secundárias da pele ou dos pulmões, que podem evoluir para sepse e morte ou disseminação do vírus para o sistema nervoso central, gerando um quadro de inflamação cerebral grave chamado encefalite, que pode ter sequelas sérias ou levar ao óbito.
Além disso, como toda doença viral aguda, a depender do estado imunológico do paciente e das condições e acesso à assistência médica adequada, alguns casos podem levar à morte.
Leia mais