Publicado 06/11/2024 14:25
Um simples tropeço em uma escada pode representar um grande perigo aos idosos, mesmo dentro de casa. O risco de quedas no ambiente doméstico, como no caso do cantor e apresentador Agnaldo Rayol, que morreu na última segunda-feira (4) aos 86 anos, repercutiu no país. Ele caiu dentro do seu apartamento, em São Paulo, e foi encaminhado para o Hospital HSANP ainda lúcido, mas não resistiu. O artista manifestava sintomas de depressão desde 2017 e em 2020, foi submetido a uma cirurgia para remover um coágulo da coluna. Especialistas ouvidos pelo DIA alertam para a necessidade de cuidados especiais com pessoas de 60 anos ou mais, apontando as causas destes problemas e formas de preveni-los.
PublicidadeSegundo o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, a estimativa é que 40% das pessoas com 80 anos ou mais sofram quedas todos os anos no país. Além disso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, cerca de 1 milhão de idosos no mundo fraturam o fêmur, sendo 600 mil destes somente no Brasil. Destes casos, 90% são causados por tombos.
Causas e prevenções
Conforme a médica Fernanda Damiani, geriatra da São Bernardo Samp, em São Paulo, as perdas de equilíbrio e força muscular, a fragilidade óssea e a recuperação mais lenta explicam o motivo pela qual esse tipo de acidente acontece com frequência.
"Com o envelhecimento, ocorre uma perda gradual de massa muscular e equilíbrio, tornando os idosos mais propensos a quedas. A densidade óssea tende a diminuir, resultando em maior fragilidade e maior risco de fraturas, especialmente no quadril, coluna e punhos. E, por outro lado, o processo de cicatrização e recuperação é geralmente mais lento, o que pode prolongar a imobilidade e aumentar o risco de complicações associadas ao repouso prolongado, como pneumonia e trombose venosa profunda", explica a geriatra.
A fisioterapeuta Caroline Saladini, especialista em gerontologia e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), afirma que pessoas idosas mais ativas e com mobilidade reduzida são mais suscetíveis à possibilidade de cair, sendo a mais comum no banheiro. Ela ressalta quais alterações ambientais podem representar perigo aos mais velhos. "Superfície escorregadia ou irregular, pouca luminosidade, objetos soltos pela casa, móveis baixos e alterações comportamentais, quando a pessoa se coloca em risco ao andar de meias, usar escadas sem apoio no corrimão ou subir em bancos", pondera.
Caroline também observa que não há uma "idade certa" para iniciar a prevenção pelas quedas, mas ressalta que a família deve estar atenta ao processo de envelhecimento. Neste período, segundo ela, há uma maior prevalência de cair ou de desenvolver comorbidades, como a sarcopenia, a osteoporose e a osteoartrose.
"Melhorar a iluminação e deixar o ambiente livre são boas medidas, assim como evitar deixar objetos, fios e tapetes soltos pela casa. Também é válido fazer ajustes para facilitar a mobilidade, tal como elevar a altura do vaso sanitário e do sofá, e colocar uma barra de apoio no banheiro", afirma a fisioterapeuta.
O médico Raphael Figueiredo, diretor-geral do Hospital Casa São Bernardo e Hospital Casa Santa Cruz, alerta, também, para um risco elevado por conta do consumo sem acompanhamento de remédios dopantes.
"Chamamos atenção para o uso de benzodiazepínicos, como o famoso Rivotril. As pessoas já começam jovens, e entram na terceira idade fazendo esse uso crônico. Esses medicamentos são sedativos, e acabam sendo um dos grandes causadores de fraturas de fêmur em idosos e quedas na noite, porque eles vão ao banheiro ainda meio sonolentos, por conta do remédio, que utilizam erradamente para dormir. Isso acaba impactando em queda."
Cuidado ao subir em bancos
A professora de inglês Amélia Carvalho, de 66 anos, sofreu um acidente em casa há dois anos. Ela subiu em uma cadeira para colocar uma mala do seu filho na parte superior de um armário da residência, quando acabou caindo e bateu a cabeça em um rodapé. Agora, avisa o ocorrido para que outras pessoas não façam o mesmo.
"Felizmente, eu não desmaiei nem nada. Aí, levantei, peguei gelo, liguei para o meu filho, ele teve que voltar correndo do trabalho. Fomos para o hospital, mas graças a Deus, não teve nenhum traumatismo, foi só um corte. Sangrou muito, eu tive que levar seis pontos e tomar medicação", conta Amélia. "Até em escada, eu fico meio apreensiva. Eu sempre procuro que tenha alguém perto, para ficar perto de mim, porque eu caí do banco, mas poderia ter sido bem mais grave", diz.
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