Publicado 16/03/2021 06:00
O Brasil passa pela pior crise sanitária de sua História, com H maiúsculo. A junção da pandemia de coronavírus, que perdura há pouco mais de um ano, e políticas de enfrentamento equivocadas, faz o país contabilizar mais de 278 mil mortes por covid-19. No meio dessa pandemia, ao invés de estabilidade e aquisição e distribuição de vacinas, a dança das cadeiras continuou no Ministério da Saúde, que já teve três ministros e ontem anunciou o quarto chefe da pasta: o cardiologista Marcelo Queiroga, atual presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ele, segundo fontes, seria alinhado com a ala ideológica do governo, sendo apoiado pelo senador Flávio Bolsonaro.
O novo ministro da Saúde é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, tem especialização em cardiologia e doutorado em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto/Portugal.
Atualmente, ele dirige o departamento de hemodinâmica e cardiologia intervencionista (Cardiocenter) do Hospital Alberto Urquiza Wanderley (Unimed João Pessoa) e é médico cardiologista intervencionista no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, também na Paraíba. Integra ainda o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba como Conselheiro Titular.
Na chegada ao Palácio da Alvorada Bolsonaro informou a escolha: "Foi decidido agora à tarde a indicação do médico, doutor Marcelo Queiroga, para o Ministério da Saúde. Ele é presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A conversa foi excelente, já conhecia há alguns anos, então não é uma pessoa que tomei conhecimento há poucos dias. Tem tudo no meu entender para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento em tudo que o Pazuello fez até hoje".
Assim como a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, recebida no domingo por Bolsonaro, que alegou divergências com o presidente e recusou o convite para assumir a pasta, Queiroga defende o isolamento social como forma de combate à pandemia e vacinação em massa.
Ele também já se posicionou contrário ao "tratamento precoce" defendido por Bolsonaro à base de cloroquina, medicamento sem comprovação científica para covid-19.
'Faz parte', diz Bolsonaro
Em reunião-sabatina no domingo com Bolsonaro, em Brasília, Ludhmila informou que foi ameaçada de morte várias vezes desde que o nome foi cotado para a pasta e que houve tentativa de invasão no quarto de hotel onde estava hospedada e ameaças à sua família. O que o presidente fez? Soltou um 'faz parte'. "Eu recebi ataques, ameaças de morte que duraram a noite, recebi tentativa de invasão no hotel que eu estava, fui agredida, áudios e vídeos falsos com perfis, mas estou firme aqui e vou voltar para São Paulo para continuar a minha missão que é ser médica", disse. Em entrevista à GNews, Ludhmila prevê um impacto sombrio diante da pandemia, com 500/600 mil mortes.
Uma das diferenças da cardiologista Ludhmila Hajjar com Bolsonaro, por exemplo, é o "tratamento precoce" com cloroquina e ivermectina por não haver eficácia científica. "Muitos de nós já prescrevemos cloroquina, até que fomos lidando com resultados e estudos mostraram a não eficácia", afirmou a médica.
Ela advertiu que o Brasil errou no combate à pandemia do coronavírus. "Até o momento, o Brasil errou no combate à pandemia. Precisa de uma virada de entendimento, de ações. Hoje estamos pagando o preço. Correndo atrás de uma maneira tardia, com muita gente morrendo", afirmou. "O Brasil precisa de protocolos (de tratamento) e isso é pra ontem", disse Ludhmila.
(Com agências)
Pazuello diz que tem 562,9 milhões de doses compradas
Em coletiva, o ministro-general Eduardo Pazuello fez um balanço da sua gestão e admitiu que deixaria a pasta. Na apresentação, ele afirmou que governo federal já viabilizou a compra de vacinas de 10 fornecedores diferentes. Segundo os dados apresentados, o país contará com 562,9 milhões de doses até o final de 2021. Pazuello frisou, entretanto, que há chances de que nem todos os laboratórios cumpram os prazos estabelecidos.
Desse total, 138 milhões são doses das vacinas contra a covid-19 produzidas pelas farmacêuticas Pfizer/BioNTech e Janssen. Segundo ele, serão 100 milhões de doses da Pfizer, que já tem registro definitivo no Brasil. Outras 38 milhões serão da Janssen, vacina de dose única do grupo Johnson & Johnson que ainda não foi aprovada para uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
"Óbvio que tem mais vacina do que brasileiro, mas essas vacinas se mantêm na validade para 2022. E nós temos que ter estoque. E nós não podemos contar com 100% das entregas. Há oscilações," disse Pazuello.
O desafio, disse Pazuello, é o prazo e a concretização da entrega, sobretudo diante da demora no fechamento dos acordos. Nos balanços do governo, o Brasil recebeu quase 17 milhões de doses nos dois primeiros meses do ano. Apesar de os contratos indicarem a possibilidade de 38 milhões de doses serem entregues em março, esse número deve ficar entre 25 e 29 milhões. Agora a responsabilidade pela cobrança das vacinas e estratégia de imunização no país ficarão a cargo do novo ministro, o cardiologista Marcelo Queiroga.
Cronogramas
Pfizer
Abril - 1 milhão de doses
Maio - 2,5 milhões de doses
Junho - 10 milhões
Julho - 10 milhões
Agosto - 30 milhões
Setembro - 46,5 milhões
Janssen
3º trimestre - 16,9 milhões
4º trimestre - 21 milhões
Pfizer
Abril - 1 milhão de doses
Maio - 2,5 milhões de doses
Junho - 10 milhões
Julho - 10 milhões
Agosto - 30 milhões
Setembro - 46,5 milhões
Janssen
3º trimestre - 16,9 milhões
4º trimestre - 21 milhões
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