Publicado 22/04/2021 09:00
Os leitores já ouviram mil e uma histórias envolvendo Pedro Álvares Cabral e o “descobrimento” ou “encontro” com o Brasil.
Natural esse interesse acontecer, afinal a viagem foi uma epopeia para dar inveja em blockbuster: bandidos foram recrutados, naus desapareceram por causa de tormentas, ratos serviram como alimento e doenças apareceram aos montes, em especial o escorbuto.
Independente se Cabral errou o caminho rumo à Índia ou se estava realmente indo colonizar o que hoje conhecemos como Brasil, o fato é que aqueles 44 dias entre Lisboa e Porto Seguro não foram fáceis. A conquista merecia ter mais crédito.
Nome importante do período das Grandes Navegações, da expansão marítima portuguesa, Pedro Álvares Cabral não tem o reconhecimento preciso – nem no país mãe nem no país filho. Os restos mortais do também navegador Vasco da Gama, a título de comparação, estão enterrados no Mosteiro dos Jerônimos, construção imponente que nos leva ao melhor do estilo manuelino. Em contrapartida, o destino dos ossos de Cabral é um mistério que assombra até os dias de hoje.
Olha só que confusão:
Cabral faleceu em 1520, em Santarém, interior de Portugal. Triste, mas infelizmente natural.
Inicialmente ele foi sepultado em Santarém mesmo. Em seguida, o corpo foi para a Igreja de Nossa Senhora da Graça, na mesma cidade.
Ao contrário do que imaginamos, pelo peso do morto, não havia grandes informações de quem estava ali.
Não demorou para que a cidade natal dele, Belmonte, requeresse os restos mortais de Cabral.
Mais à frente na história, o Brasil também iria entrar na batalha, desejando homenagear de forma justa.
Os séculos se passaram e o ano de 1882 bateu no calendário. Foi feita uma exumação e descobriram que estavam enterrados juntos os ossos de uma mulher ( Isabel, esposa dele), dois homens ( pensavam que só um filho tinha sido enterrado) e até de um carneiro.
Há quem defenda que, com a invasão francesa em 1807, esse e outros túmulos foram saqueados, destruídos ou mexidos.
Sem tecnologia era impossível desvendar com precisão quais eram de Cabral. Quem é quem?, perguntavam com frequência.
Na virada do século XX, com o Brasil já no domínio da República, finalmente uma parte dos ossos do “descobridor” chegaram ao solo nacional. Não se tem certeza se todos são dele, evidentemente.
De qualquer modo, foram para a imponente Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no centro do Rio, em frente à praça XV.
No bem cuidado salão subterrâneo que guarda o túmulo do Cardeal Arcoverde, o primeiro da América Latina, está lá o caixão pequenininho com uma informação sobre o Cabral.
Por fim, aviso: é possível encontrar resquícios em Santarém e também em Belmonte.
Fiz um vídeo contando os detalhes dessa doideira:
Sob administração do Padre Silmar Fernandes, a Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé foi o espaço religioso do casamento (no Brasil) de Dom Pedro I e Leopoldina e Dom Pedro II e Teresa Cristina.
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