Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)
Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)Estefan Radovicz / Agência O Dia
Por Beatriz Perez e Carolina Freitas
Rio - Após o governador Cláudio Castro afirmar que pretende implementar no segundo semestre deste ano um projeto de ocupação nas favelas, o ex-capitão do Bope, Paulo Storani, elenca dois erros na gestão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), inauguradas no Morro Santa Marta em 2008, durante o governo de Sérgio Cabral. Segundo o antropólogo, faltaram estrutura e mais projetos dentro das comunidades, para além da presença da polícia.
"Você precisa estar controlando o território para pacificar. O controle advém da permanência em um território que está dominado pelo crime organizado. Você precisa ter estrutura mínima para isso. Isso foi um dos grandes erros no projeto", avalia. Ao falar em estrutura, Storani cita a estrutura física e segura, equipamento, armamento, e principalmente efetivo.
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"O lado positivo dos projetos das UPPs era o conceito da proximidade. A ideia era o policial militar ir para dentro da comunidade. Esse PM tinha um perfil apropriado, com uma formação para isso. Era um projeto bem-vindo em médio e longo-prazo", avalia o ex-Bope.
Outro erro do projeto das UPPs, segundo Storani, foi a falta de articulação de políticas públicas que oferecessem oportunidades aos jovens. "Se tivemos no Jacarezinho uma operação cuja justificativa era aliciamento de menores de idade para o tráfico, nada é feito para que se impeça isso. A polícia sozinha não vai resolver", critica o ex-instrutor do Bope.
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O projeto do Santa Marta, citado por Storani, surgiu com a ideia de acabar com anos de domínio de facções criminosas nas favelas e, enfim, "pacificar" o Rio de Janeiro.
Na época, o ex-governador Sérgio Cabral prometeu que iria levar as UPPs para outras comunidades. Alguns anos depois, no período de dezembro de 2008 a abril de 2014, o Rio contava com 37 unidades espalhadas pelo estado. Algumas foram extintas e tiveram seus efetivos incorporados aos batalhões dos bairros onde se localizavam. Outras se transformaram em companhias destacadas – unidades vinculadas a um batalhão que fica fora da comunidade.
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O DIA também entrou em contato com o fundador do jornal Voz das Comunidades, Rene Silva, de 27 anos, morador do Complexo do Alemão, na Zona Norte.
Para ele, o principal erro do Governo foi ter colocado a polícia dentro da favela sem ter construído qualquer tipo de relação com os moradores. Além disso, disse que os projetos sociais e culturais que foram implementados no início da UPP, além de não atingir nem 1% da população, não duraram sequer até às Olimpíadas.
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Para falar sobre o descaso do Governo com as comunidades, Rene citou os teleféricos do Alemão e da Providência, que estão parados há quase cinco anos. Além disso, disse que o novo projeto de Castro não deve vingar. 
"Acredito que pode ser sem sucesso mais uma vez, principalmente quando a gente olha pra um governador que não está para diálogo com a favela. A oportunidade de ouro para transformação social de uma favela que tiveram na última década, talvez nunca mais aconteça, porque o tempo não volta".
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Rene disse também que "já está mais que provado que só colocar a polícia no morro, não é solução. Não acaba com o tráfico, gera mais mortes de pessoas, inclusive dos próprios agentes da polícia que se colocam diariamente no risco ao ficar em vulnerabilidade dentro desses espaços sem nenhuma condição".
"Acredito que um trabalho a médio e longo prazo seja necessário para uma ação mais efetiva do Estado para contribuição da transformação social, que apesar de pouca esperança, não podemos deixar de acreditar que um dia ainda teremos um futuro melhor para as crianças que hoje não tem oportunidade e percepção de melhorias", finalizou o jovem.
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Ocupação do Morro do Alemão
Em junho de 2007, a Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal, além de homens do Exército, Marinha, Aeronáutica e Força Nacional de Segurança Pública, ocuparam o Complexo do Alemão. Esta foi a maior operação realizada no complexo desde que a polícia ocupou as favelas, no dia 2 de maio de 2007. 
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Cerca de 2.600 agentes participaram da ação. Ao todo, 19 pessoas morreram e diversas outras ficaram feridas. A ocupação aconteceu após criminosos que seriam do Alemão terem assassinado dois policiais, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte.
Na época, de acordo com uma nota publicada pela Ordem dos Advogados do Brasil, pelo menos 11 dos mortos não tinham relação alguma com o tráfico.