Publicado 09/07/2021 03:00
Em razão de uma miopia ideológica e de interesses políticos de curto prazo o Executivo federal insiste na desmontagem progressiva do Estado, adotando a teoria do Estado mínimo.
Assim tem sido durante a crise sanitária, marcada, desde o início, por uma preocupação reduzida com a vida das pessoas, mas crescente com os obstáculos que podem dificultar a reeleição.
Pouco importa dar prioridade à saúde, educação, meio-ambiente, segurança pública e alimentos visto que são considerados por Brasília temas irrelevantes diante da importância da reeleição e, por isso, relegados a segundo plano.
O desmantelamento de órgãos do Governo federal não é um acaso ou descuido, mas parte de um projeto deliberado de retirar o apoio do Estado dos mais desfavorecidos na sociedade brasileira.
Corrupção, prevaricação e favorecimentos indevidos constam no receituário desse projeto para alimentar em 2022 a campanha pela reeleição.
Cada vez mais acuado com as investigações, o Governo federal se encontra fragilizado interna e externamente com a suspeita de que teria feito vistas grossas às denúncias de negociação atípica na compra de vacinas da indiana Covaxin.
Os efeitos desastrosos da política ambiental com a desmontagem dos mecanismos de fiscalização resultaram no pedido de 29 grandes fundos de investimento, que administram 4,1 trilhões de dólares para que o Brasil pare com o desmatamento amazônico e no Pantanal.
Os gestores desses fundos acusaram o Brasil de usar a crise sanitária para pressionar pela desregulamentação ambiental.
O afrouxamento da fiscalização ambiental multiplicou os danos aumentando a falta de chuvas e a crise hídrica com um prejuízo de 5,7 bilhões de reais por ano até 2050.
O desmonte da Polícia Federal também se inscreve nesse quadro de Estado mínimo com prejuízos evidentes para o combate à corrupção, prevaricação e favorecimentos ilegais.
Até o agronegócio acordou para os prejuízos causados pelo Estado mínimo e para uma política ambiental de relação entre custo e benefício negativa.
No momento em que a administração de Joe Biden retorna ao Estado de bem-estar social, o atual governo brasileiro caminha na direção oposta.
A política ambiental é prioridade nos Estados Unidos, Europa e China, mas o Governo Federal prefere a militarização do sistema ambiental ao sancionar a nova operação de garantia da lei e da ordem na Amazônia.
A primeira operação batizada de Verde Brasil terminou em abril último, consumindo, em duas fases, mais de 530 milhões de reais e apresentando poucos resultados. Essa quantia representa oito vezes o orçamento do Ibama para conter crimes ambientais em um ano inteiro e poderia permitir o contrato de cinco mil fiscais para o órgão que hoje possui apenas cerca de 500 fiscais.
Na teoria desse Estado mínimo se inclui não só a redução de atividades essenciais mas também a substituição progressiva de quadros civis por militares.
O uso das estruturas estatais para beneficiar financeiramente os militares que apoiam o governo está se intensificando com a aproximação das eleições de 2022. A desmontagem do aparelho estatal produz mais pobreza, mais criminalidade e desespero na população brasileira. Mas esse tipo de preocupação não existe para a atual administração em Brasília, insensível a temas de desigualdade e de justiça social.
O aumento da miséria, da fome, da inflação e do desemprego provoca um desalento crescente no país com o risco de racionamento de energia cuja conta será paga pela população e por diversos setores econômicos afetando o comércio, a indústria e a agricultura.
Mas essa situação não aflige os atuais donos do poder, que preferem concentrar todos os seus esforços com o dinheiro dos contribuintes nos planos de reeleição.
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