Arte Coluna do EmbaixadorArte: Paulo Márcio
Publicado 23/07/2021 03:00
O desaparecimento do Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima nos faz lembrar dos tempos em que o Brasil acumulou importante capital diplomático fruto de décadas de trabalho profissional em prol de uma chamada revolução conservadora.
Essa revolução conservadora imobilizou o Brasil no tabuleiro internacional e a percepção respeitosa que as nossas parcerias sempre tiveram com relação à política exterior desenvolvida pelo Itamaraty.
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A destruição ambiental na Amazônia e no Pantanal continua em ritmo acelerado assim como a desmontagem dos mecanismos de fiscalização ecológica.
A perda de prestígio se reflete também em nível interno com um orçamento reduzido ao menor nível desde 1985.
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Esses fatos não ocorrem por acaso, mas em função de uma estratégia deliberada do Planalto e da ‘filhocracia’ com o intuito de minar as bases tradicionais da chancelaria deixando a moral da casa de Rio Branco no mais baixo patamar da sua história.
Essa animosidade com a diplomacia nacional se insere nesse contexto da chamada revolução conservadora que nos vê como inimigos por resistir à barbárie em favor da civilização.
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Uma mudança real nesse quadro se afigura impossível enquanto os atuais ocupantes do Executivo federal estiverem no poder.
O próximo ano será, portanto, mais um ano diplomático perdido com o país dedicado às eleições e sem uma diplomacia presidencial atuante. Até porque, nenhuma nação terá interesse em aproximação com uma administração fraca e em final de mandato.
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A toxidade, que me referi em outro artigo, da pseudo revolução conservadora vai continuar em 2022 a contaminar a atuação internacional brasileira.
Palavras de baixo calão usadas rotineiramente pelo Chefe de Estado destroem qualquer possibilidade de respeito e honorabilidade internacionais.
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A chancelaria ficou marcada por uma ideologização religiosa em um Estado laico alinhando o Brasil a um grupo de países extremistas na área de direitos humanos.
O desmantelamento do Ministério das Relações Exteriores pelo bolsonarismo afetou o rendimento diplomático brasileiro a curto prazo, que pode ser recuperado em uma nova administração.
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Por exemplo, o jornal britânico “Financial Times” defendeu recentemente que setores financeiros internacionais pressionem e punam o Brasil por não parar o desmatamento na Amazônia e no Pantanal.
O texto conclama investidores e detentores de títulos a adotar posições mais firmes em relação ao governo brasileiro.
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O ativismo dos investidores vai ser cada vez mais uma força poderosa em defesa do meio ambiente. Os proprietários de ações e títulos vão pressionar empresas e governos para melhorar a governança global ecológica, reduzir as emissões de carbono, buscar equilíbrio de gênero e diversidade racial. Em todas essas áreas estamos marginalizados e execrados pelas atitudes e posições do atual governo brasileiro.
No ano passado, um grupo de gestores de ativos com valor de sete trilhões de dólares pressionou Brasília para reverter a sua política deliberada de destruição florestal.
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Apesar das pressões internacionais, o desmatamento brasileiro aumentou 17 por cento no primeiro semestre deste ano. O Código Florestal está se tornando letra-morta porque as agências que o aplicam tiveram seus orçamentos propositadamente reduzidos de maneira absurda.
No que resta de mandato a esta administração federal parece pouco provável uma mudança nesta postura de conivência com madeireiros, grileiros, garimpeiros e fazendeiros que fazem parte da base eleitoral do grupo no poder em Brasília.
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Nessas condições a destruição do capital diplomático brasileiro, na área do meio ambiente, vai continuar e correm ainda o risco de os investidores enviarem um sinal para o Brasil - de sete trilhões de dólares - de que, a menos que o desmatamento diminua, eles retirarão ativos do nosso país a curto prazo.
Algumas áreas da Amazônia já passaram a emitir mais dióxido de carbono do que absorver diariamente. Fatores como o desmatamento causado pelo homem e os efeitos das mudanças climáticas parecem ter influenciado a capacidade do bioma de atuar como um filtro de um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa.
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Segundo um estudo da Fundação Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo há grande risco de aumento de secas incluindo aumento das temperaturas da superfície, mudanças nos padrões de precipitação e elevação no número e intensidade de extremos climáticos no Brasil.
Essas variações nas características climáticas são precursoras do que pode estar por vir nas próximas décadas se a escalada, sem precedentes, nas emissões continuar na Amazônia e no Pantanal.
Desde 2019 a gestão desde governo tem sido alvo de críticas ambientais no Brasil e no exterior diante da explosão de queimadas e do desmatamento ecológico. Os últimos quatro meses foram de grande alta nos alertas de desmate do bioma.
É inconcebível que a administração de um país destrua propositadamente o seu próprio patrimônio natural cometendo crime de lesa-majestade contra os interesses nacionais.
O Brasil tem um enorme capital diplomático a explorar como na área do meio ambiente, mas no momento esse capital está imobilizado pelo apoio de Brasília aos destruidores da Amazônia e do Pantanal.
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