Prof. Dr.Babalawõ Ivanir dos SantosBrunno Rodrigues

Talvez, antes de ler os pontos que quero colocar, você possa estar se perguntando “o porquê” estou escrevendo essa breve reflexão sobre a data! Bom, como militante do movimento negros compreendo que o dia 25 de julho, é um dia de luta para toda a comunidade negra, e principalmente pelas mulheres negras. Pois são por elas que reavivamos as nossas resistências. A data celebra, que rememora o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, que aconteceu em Santo Domingo, na República Dominicana, na década de 1990, traz à tona as lutas das mulheres negras e periféricas, por visibilidade, igualdade e reconhecimento social e político.

E nos possibilita evidenciar todas as mazelas e opressões cotidianas que as mulheres negras ainda continuam passando em uma sociedade racista e sexista como o Brasil. Segundo os estudos apontando no Atlas da Violência 2018, a taxa de homicídios de mulheres negras ficou em 5,3 a cada 100 mil habitantes. Dentre as mulheres não negras, esse índice cai para 3,1 a cada 100 mil habitantes, uma diferença de 71%. A referida pesquisa, realizada realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), nós dá uma dimensão não só da vulnerabilidade social das mulheres negra no Brasil, mas também do tamanhos, descasos e da falta de um projeto que também possa promover uma inclusão social. Ainda segundo o Ipea, as mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que em outros grupos, enquanto o desemprego entre mulheres negras subiu 80% em relação ao período anterior à crise econômica. Já o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a condições precárias de trabalho.

Destarte, quando paramos para analisar as situações em que boa parte das mulheres vivem no nosso país percebemos que a situação ainda é preocupante e precisa ser levada e debatida também dentro das esperas públicas. Mulher negra ainda é a que mais morre, a que está na fila de desemprego, a que ganha menos no mercado de trabalho, a que está vivendo em situações de trabalhos análogas à escravidão. Uma situação que nos projeta para as análises históricas do pós-abolição em que nenhuma ação concreta de inclusão da população negra foi projetada. Ou por assim dizer, uma abolição inacabada que nos coloca sempre como objetos históricos e nunca como detentores das nossas próprias histórias.

Salve, Tereza de Benguelê, Maria, Joana, Sônia da Maurity, Claudia, Marielle... Salve todas as mulheres negras que fizeram de suas vidas um esteio de lutas e resistências.
*É doutor em História pela UFRJ