Publicado 27/04/2022 15:16
Rio - Integrantes das escolas de samba da Série Ouro e membros da Liga-RJ, entidade responsável pelo desfile do Grupo de Acesso, fizeram fortes críticas ao resultado da apuração, que aconteceu no início da noite desta terça-feira. A tradicional Império Serrano foi a campeã e vai integrar o Grupo Especial em 2023. Já a Acadêmicos do Cubango e a Acadêmicos de Santa Cruz foram rebaixadas e vão desfilar na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho.
Especialistas apontavam, antes do resultado da apuração, o favoritismo da Império Serrano, mas o resultado das escolas rebaixadas não era esperada pelos carnavalescos que analisaram todos os desfiles. Anderson Baltar, jornalista da Rádio Arquibancada, analisou que as escolas mais desfavorecidas foram a Unidos de Bangu, Unidos da Ponte e Em Cima da Hora. "Como Bangu e Ponte perderam décimos por atraso de tempo, são escolas que estão mais desfavorecidas, mas a Em Cima da Hora também fez um desfile muito cheio de problemas", disse.
Alberto João, editor executivo do site Carnavalesco, também cogitou um possível rebaixamento entre as três citadas anteriormente: "Acredito que a disputa para ficar na Série Ouro esteja entre Em Cima da Hora, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu. A Em Cima da Hora é a mais preocupante. Não vejo outras escolas diferentes dessas três neste bolo contra o rebaixamento".
No entanto, o resultado das rebaixadas levantou questionamentos sobre a administração da Liga-RJ e sua parcialidade. Cícero Costa, diretor de Carnaval da Unidos de Padre Miguel, usou as redes sociais, logo depois da apuração, para comunicar seu afastamento da Diretoria da Liga-RJ. O carnavalesco fez graves acusações sobre a estrutura administrativa do grupo.
"Após passarmos por problemas administrativos em anos anteriores, acreditei e confiei que o processo e toda estrutura administrativa desta nova liga seria diferente das demais, me enganei. Saio com a certeza de que não posso compactuar com todas as injustiças vistas em especial neste último carnaval. O carnaval que deveria ser da retomada, de alegria, terminou sendo de frustração para diversas agremiações que lutaram muito para apresentar um desfile digno na avenida", informa um trecho do comunicado.
A presidente da Cubango, Patrícia Cunha, também questionou o resultado e disse que vai buscar reparação. "Nossa escola não fez um desfile para esse resultado. Um absurdo que indigna o mundo do samba com tamanha injustiça! Ao conferir cada justificativa dos jurados, buscaremos reparar a injustiça cometida, tomando as medidas cabíveis, em todos os âmbitos, para a defesa da Acadêmicos do Cubango", disse.
Neste Carnaval, a Cubango contou a história da atriz Chica Xavier, que atuou em mais de 50 novelas na televisão e estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1956, na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes. Comandada pelo carnavalesco João Vitor Araújo, a escola de Niterói abordou o trabalho de Chica para a TV e os aspectos da vida religiosa da artista.
A Acadêmicos de Santa Cruz ainda não comentou sobre o resultado. A escola homenageou o ator e diretor Milton Gonçalves. O carnavalesco Cid Carvalho preparou uma festa do Catupé, dança das Minas Gerais, terra da infância do artista e escolheu entrelaçar diferentes orixás com as fases de vida do ator na Avenida.
A presidente da escola de samba Tradição, Raphaela Nascimento, também fez acusações sobre um possível "esquema de fraude" dentro da Liga-RJ. A Tradição não teve o seu acesso reconhecido pela Liga para desfilar na Série Ouro e o caso está em andamento no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
Raphaela se indignou com o resultado dos desfiles e disse que as escolas rebaixadas não foram as piores. "Não é sobre desfiles, quesitos, quem é a melhor escola e quem é a pior na pista. É sobre interesses pessoais, financeiros e brigas internas. Até quem não é do Carnaval já sabia há meses que o Império Serrano seria o campeão do Carnaval e a União da Ilha, que fez um brilhante Carnaval, ficou em terceiro lugar. A Unidos de Padre Miguel, impecável, em quinto lugar. Agora desceu a Cubango, que dentro da pista foi uma das melhores, e a Santa Cruz, que fez um grande Carnaval", escreveu em suas redes sociais.
A presidente também disse também que quem deveria ter sido rebaixada era a Em Cima da Hora. "Foi a pior escola e ainda teve a fatalidade de matar uma criança e não dar a mínima assistência para a família da menina. Fora a Bangu que teve vários problemas e a Vigário Geral que há tempos já tinha que ter voltado para a Intendente Magalhães".
Por fim, Raphaela cobrou um posicionamento da Prefeitura do Rio e da RioTur sobre uma intervenção na administração da Liga-RJ.
Procurada, a Liga-RJ disse que não iria comentar sobre nenhuma destas acusações citadas na matéria. O DIA também questionou se a Prefeitura do Rio e a RioTur estudam intervir na Liga-RJ, mas até o momento não houve resposta.
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