Publicado 18/05/2024 07:00 | Atualizado 18/05/2024 07:20
Rio – Desde que Gretchen compartilhou que seu marido, o músico Esdras de Souza, passou por um preenchimento peniano, muitas dúvidas foram levantadas sobre o novo procedimento, que é pouco conhecido. Para sanar estas questões, o DIA conversou com médicos urologistas para entender um pouco mais do assunto.
PublicidadeDe acordo com o coordenador do Departamento de Andrologia, Reprodução e Sexualidade da Sociedade Brasileira de Urologia, Fernando Facio, o preenchimento peniano é uma técnica usada para criar um aumento na circunferência do pênis. Apesar da mudança, segundo o médico, não é possível aumentar o tamanho do órgão.
"A gente não consegue fazer um crescimento do tamanho do pênis, porque não conseguimos aumentar a uretra, não dá para fazer esse estiramento. Mas o engrossamento, que alguns chamam de 'harmonização genital', é possível", explicou ele.
O procedimento, feito com ácido hialurônico, usado nas harmonizações faciais, pode ser realizado com anestesia local e, por isto, pode acontecer em clínicas especializadas, com todo o rigor na higiene, na instrumentação e no material utilizado. Para engrossar o pênis, são feitas injeções em toda sua extensão para poder criar uma área de preenchimento. Como o paciente fica anestesiado no local, não sente dor.
Urologista especialista em reconstrução genital, chefe da divisão de cirurgia urológica reconstrutora do Hospital da Universidade Federal da Bahia e professor Adjunto de Urologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Ubirajara Barroso conta mais detalhes. "[O preenchimento] fica entre o tecido externo, que é a pele, e o corpo do pênis, que é o tecido que de ereção o tecido erétil. Esse espaço é preenchido por esse material, de modo que aumenta espessura, de maneira muito similar a outros preenchimentos que são realizados em outras partes do corpo. O grande problema é que ele é absorvido. Em torno de um a dois anos, ou somente um a um ano e meio, vai ter que ser readministrado".
Embora muitos possam não se sentir satisfeitos com o órgão sexual, Fernando diz que o procedimento não é recomendado para todos. "Esse preenchimento deveria ser oferecido aos que realmente tivessem um dismorfismo, uma alteração morfológica anatômica no tamanho do pênis. Existem pacientes que têm um pênis muito fino e muito pequeno. Então há uma oferta para esses casos, para que tire aquela condição de ansiedade e preocupação, temor, medo de poder expor a genitália e ela ser tratada como uma piada, como uma condição que o coloca de inferioridade. Existe este tipo de harmonização para que você possa dar a esse paciente uma condição de qualidade de visualização de sua genitália mais próxima da normalidade", defende.
Para Ubirajara, o procedimento é até contraindicado para pacientes que tenham uma percepção errada sobre seus próprios órgãos. "Muitos chegam para mim com a queixas de que o pênis é pequeno, e, quando eu examino, noto que o pênis é normal. Muitos acham que o pênis é fino, mas o pênis não é fino. Então, a gente chega para o paciente e diz: 'olha, seu o pênis é completamente normal. Está dentro da média'", lembra.
"Boa parte, cerca de 5% da população, tem o que se chama de transtorno dismórfico peniano. Ou seja, tem uma impressão de que o pênis é pequeno e isso causa uma ansiedade muito grande. A pessoa tem um pênis normal, mas o vê e acha pequeno. Causa uma certa obsessão. E aí já passa a ser uma questão psiquiátrica. Indicamos se, de fato, a pessoa tem o pênis fino", explica.
Segundo Fernando, a harmonização peniana é feita em várias sessões, normalmente de duas a três, até que se tenha um resultado satisfatório para o paciente. Sobre o assunto, o médico alerta para que haja um consenso entre quem busca pelo procedimento e o médico que o realiza.
"Esse que é o grande problema. Qual é o limite do pensamento do paciente? Será que ele não se vê dismórfico? Será que ele não precisa ter uma alteração tão grande que preenche ao ponto de deixar o pênis sem característica de pênis? É isso que a gente não pode deixar acontecer. O profissional que faz isto é corresponsável pelo que ele está aplicando no paciente”, afirma.
Como todo procedimento invasivo, o preenchimento peniano também apresenta riscos para o paciente. São eles: hematoma, infecção e até mesmo alterações morfológicas. Embora tenha baixas taxas de erro, Ubirajara faz um alerta sobre as complicações, que podem ser permanentes.
"É um órgão muito sensível. Há complicações porque os vasos são ditos terminais, que uma vez entupidos não têm mais volta. Às vezes um órgão necrosa, uma parte. O pênis, se tiver um problema, pode ser definitivo. O procedimento tem baixa taxa de complicações, mas quando ocorrem podem ser sérias”, conta. O médico também fez um alerta sobre a escolha de profissionais que não sejam urologistas.
"É um procedimento estético, e é um entendimento entre o profissional que está fazendo e o paciente que está adquirido. O urologista é a melhor pessoa que tem as para fazer isto, já que ele conhece o pênis como anatomia e como função. Outras pessoas têm que levar em consideração que precisam conhecer o pênis como anatomia, função e mais do que isso, em caso de uma complicação saber como tratar", completa Fernando.
Como se trata de um procedimento que é feito em consultório, a recuperação do paciente é rápida, caso não tenha nenhuma intercorrência. Após o preenchimento, pode acontecer de aparecer acúmulos de ácido no pênis, que são modelados pelo próprio paciente. Além disso, é recomendado pelo menos um mês sem relações sexuais.
Caso o paciente não fique satisfeito com o preenchimento, é possível reverter. "Existe como se fosse um antídoto para modelar que é injetado em determinadas áreas. Então, o médico vai podendo diminuir um pouquinho o tamanho das áreas de circunferência que criou. Por isso que são várias sessões, para que possa ter um produto final bem próximo de um pênis com características normais que agrade o paciente e a parceria", diz Fernando.
Segundo o médico ainda não existem estudos concretos sobre a harmonização da genitália masculina. "Existem outros preenchimentos com gordura e silicone, que não tiveram nenhum resultado científico, foram fadados ao insucesso. Agora, esse preenchimento de ácido hialurônico que tem sido feito, mas deixo bem claro, ainda não está aprovado pela própria Sociedade Brasileira de Urologia nem pelo Conselho Federal de Medicina", analisa.
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