Rio - Assim como você, após quase uma semana da operação da Polícia Federal denominada Carne Fraca, eu estou cheio de dúvidas e sem entender direito o que aconteceu, qual a extensão disso para a economia e como pode afetar a minha vida? Há riscos no consumo dos produtos das marcas denunciadas?
Esses questionamentos parecem dar razão aos que criticam a operação por ter sido midiática e espetaculosa, buscando os holofotes e chamando a atenção para eficiência da Polícia Federal (será que ainda é preciso?) no dia em que a operação Lava Jato completava três anos.
Se a investigação é antiga e foi planejada com dia e hora marcada para ressaltar a maior operação que a PF já fez em mobilização de agentes, o resultado parece ter sido muito mais negativo do que positivo.
Obviamente que todos defendemos a punição dos atos corruptos de empresários, funcionários de frigoríficos e agentes públicos envolvidos, mas será que efetivamente o problema é sistêmico ou se trata de falhas pontuais em alguns frigoríficos?
O que se pode afirmar é que houve exagero na apresentação dos fatos como algo muito maior do que realmente parece, com risco de provocar pânico na população, desinformação e perdas econômicas. Toda essa apresentação malfeita tira o brilho de uma investigação que ao que tudo indica foi séria e bem-feita, mas que deferia ter sido restrita a um universo bem menor do que acabou alcançando.
O episódio mostra também como os mercados globalizados funcionam. A informação truncada se propagou rapidamente e os principais compradores mundiais criaram restrições ou embargos à proteína exportada pelo Brasil. Há frigoríficos fechados e perda de prestígio de marcas famosas e preferidas pelos consumidores.
Por isso, os preços dos itens afetados devem cair nos supermercados por aqui no Brasil e quem pensa que não há risco pode aproveitar para estocar carne e frango no freezer. No meio disso tudo falta ao nosso governo esclarecer melhor o que houve à população.
Gilberto Braga é professor de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral