Rio - Os trabalhadores do Rio podem perder chances de emprego por causa da ineficiência do agendamento da emissão da Carteira de Trabalho pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A demora para conseguir uma vaga faz os cidadãos enfrentarem até meses de espera. Enquanto isso, despachantes informais cobram taxas para ajudar a furar a fila e divulgam o serviço ilegal na internet.
Os problemas foram divulgados pelo DIA em abril, mas ainda persistem. A estudante Yasmin de Assis Ribeiro, de 15 anos, participa de um projeto social que encaminha jovens ao mercado e começou a tentar tirar a carteira em janeiro pelo site do MTE. Ela levou oito meses até conseguir uma data. "Eu acessava três vezes por semana e não encontrava vagas nos locais desejados", disse Yasmin. Ela só agendou para 7 de agosto, no Méier, longe da Vila da Penha, onde mora.
O barbeiro Natanael Gomes Diniz, 36, de Mesquita, só conseguiu ontem agendar para o enteado de 17 anos, após tentar por 15 dias. E só em Copacabana. O rapaz quase perdeu um emprego. "Eu tentava durante o dia, à noite, de madrugada. Primeiro tentamos para Mesquita, depois Copacabana, Botafogo e Centro do Rio. Quando apareciam vagas, o sistema não concluía o processo", reclamou Natanael.
Nas redes sociais, criminosos prometem o agendamento da Carteira de Trabalho ou do seguro-desemprego em uma semana. Eles cobram taxa e pedem dados pessoais, um risco para os interessados, que colaboram com uma fraude e ainda podem ser vítimas de um golpe. "Cobro R$ 20 e agendo num posto perto da sua casa. Depois que eu agendar, te envio o comprovante e você faz um depósito na minha conta", publicou um homem, que se identifica como corretor Victor e solicita CPF e data de nascimento.
Outra página, com nomes de Ana Teresa e Ana Gabriella, oferece o mesmo. Simulando ser um interessado, a reportagem fez contato por WhatsApp, e Ana Teresa prometeu o mesmo prazo. O valor de R$ 150 precisa ser depositado em uma conta depois que ela enviar o comprovante do agendamento. São cobrados mais R$ 5 se o cliente pagar após a data.
Paulo Renato Fernandes da Silva, da Comissão de Direito do Trabalho do Instituto dos Advogados Brasileiros, diz que a prática é criminosa. "Esse serviço é público e a lei proíbe cobrança. Essas entidades não têm chancela do Estado e podem responder por estelionato", apontou. Ele entende que os clientes também participam de uma fraude que afeta terceiros. Silva orienta que o cidadão pode trabalhar até 30 dias sem Carteira, com contrato, e que denuncie o problema ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
Segundo o MTE, nesse caso o trabalhador que já possui vaga de emprego comprovada com carta do empregador deve ir até uma unidade emissora para ser atendido com encaixe, se possível no mesmo dia. O órgão disse ainda que alguns postos funcionam por ordem de chegada. Sobre os anúncios na internet, afirmou que combate a prática tão logo é identificada e não esclareceu se investiga o envolvimento de servidores. Procurado ontem à tarde, o MPT não se manifestou.