
Foram ouvidas 1.500 pessoas, entre os dias 29 de abril e 8 de maio, e a margem de erro é de 2,5 pontos percentuais. Os meios de transporte usados oferecem um retrato sobre as discussões que margeiam a mobilidade e seus avanços e desafios: os brasileiros usam, em média, três tipos de transportes e 70% andam a pé (distâncias maiores que 500m), 46% usam ônibus e 43% carro particular. Entre o extrato pesquisado, 4 entre 10 acham difícil ou muito difícil a forma de se locomover no Brasil.
Outro ponto que liga o tema é a desigualdade entre classes que compõem a sociedade. As classes C/D/E levam, em média, cerca de 2h10 para se locomover (ida e volta) por dia — o estudo computou que a média é de 1h20. As regiões ‘campeãs’ em demora no trânsito são a Sudeste (2h24) e Nordeste (2h12). Quando possui carro, o brasileiro de classe C gasta 4x mais com o veículo do que imagina. Os entrevistados declaram gastar por mês, cerca de R$ 1.400 em financiamento, seguro, IPVA, multas, gasolina, estacionamento e outros serviços. O número, segundo revisão do Ipsos, pode chegar a R$ 2.471,33. O tempo médio perdido no trânsito entre motoristas e usuários do transporte é praticamente o mesmo, a média nacional apontou 2h07. Entre 2014 e 2018, no entanto, o número de CNHs expedidas no Brasil, caiu em 30%.
"Vivemos em um momento de transformação e ampla discussão sobre a mobilidade. Precisamos colocar as pessoas no centro do debate, para que os planos saiam do papel e a diversidade de modais melhore a eficiência e a convivência nas cidades. Entender como o brasileiro percebe seus deslocamentos é fundamental para a elaboração de soluções que atendem aos anseios da população. Essas discussões, no meu entender, passam pelo debate entre as instituições públicas e privadas. O brasileiro pode ter informação para buscar a melhor combinação entre modais, desde tradicionais a emergentes, gerando economia de dinheiro e qualidade de vida” disse, Pâmela Vaiano, diretora de Relações Públicas da 99.
Para Eva Vider, engenheira de transportes da Escola Politécnica da UFRJ, a própria rede do Rio de Janeiro perpetua as dificuldades no trânsito. "Os dados do Plano Diretor apontam esses mesmos números da pesquisa. As pessoas usam menos carros e fazem muitas viagens a pé, porque essa caminhada complementa o trajeto delas. A dificuldade de locomoção depende do eixo, mas no Rio temos uma configuração geográfica específica, onde a cidade está espremida entre o mar e a montanha. As opções dos eixos estão sempre congestionadas e a oferta de transporte público é pequena, e está aquém da população. Muita gente passa tempo no trânsito por isso. Agora, não há mágica para quem trabalha no Centro e mora na Zona Oeste, como Campo Grande, Santa Cruz. São casos de 50km de distância. Mesmo quem anda de metrô demora de mais de uma hora nesse trajeto", aponta.