A Avenida Niemeyer está fechada desde julho por decisão judicial
 - Ricardo Cassiano
A Avenida Niemeyer está fechada desde julho por decisão judicial Ricardo Cassiano
Por Luiz Fernando Santos Reis*
Rio - A população do Município do Rio de Janeiro assiste passivamente a uma disputa entre o Ministério Público e a prefeitura sobre a utilização da avenida Niemeyer, fechada desde o dia 28 de maio, fruto de decisão judicial atendendo solicitação do MP. É evidente que a preservação da vida e da segurança da população está acima de tudo, e entendemos que a atitude do MP e da Justiça tem o objetivo de defender o bem-estar público.

No entanto, o bem-estar envolve também a necessidade de a população poder se deslocar, com segurança e conforto, para executar suas obrigações diárias. Com o fechamento da Niemeyer e o desabamento ocorrido em um trecho do Túnel Acústico Rafael Mascarenhas, as pessoas que precisam se locomover entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca passaram a viver uma verdadeira via-crúsis e aumentaram enormemente o tempo que gastam diariamente em engarrafamentos.

Se o risco do uso da Niemeyer é tão iminente, a ponto de se impedir totalmente o tráfego de veículos, como permitem que ela seja usada como área de lazer? Como mostraram várias reportagens, ciclistas, skatistas, pedestres com cachorros, famílias e corredores circulam livremente sem serem incomodados pelos agentes da Guarda Municipal.

É interessante notar que, quando chove, a estrada das Canoas também deveria ser interditada, já que lá também ocorrem deslizamentos perigosos. Mas continua liberada para o tráfego de veículos dia e noite.

O município possui um dos mais modernos, se não o mais moderno da América Latina, equipamentos de monitoramento meteorológico. O Centro de Operações Rio (COR), inaugurado em 2013, é capaz de captar imagens, por meio do radar, que são extremamente importantes para detecção de chuvas e tempestades com antecedência e precisão. Localizado no Sumaré, ele envia imagens atualizadas a cada dois minutos, permitindo observar a localização, o deslocamento e a intensidade das chuvas.

Hoje, conseguimos prever com antecedência quando, em que quantidade e onde a cidade será assolada por chuvas. Além disso, muitas vezes registramos longos períodos de seca no Rio. Recentemente tivemos 21 dias seguidos sem chuva.

Por conta dessa precisão da informação que temos disponíveis com o COR, não seria lógico adotar, então, uma medida provisória para liberar a Niemeyer durante os dias secos e aliviar os congestionamentos? Principalmente considerando que, em períodos sem chuvas, os deslizamentos são raros ou inexistentes e que a solução definitiva por meio da realização das obras de contenção tem previsão apenas para novembro, isso se não faltarem recursos no meio do caminho?

Uma medida temporária possível seria a abertura da via entre 7h e 19h, ou entre 7h e 10h no sentido São Conrado – Leblon e entre 17 h e 19h no sentido inverso, em dias de tempo seco, mantendo o fechamento durante o período da noite, quando é mais difícil a adoção de ações para prevenir eventuais riscos.
Obviamente não é intenção sugerir uma solução que coloque a população em perigo, porém é impossível continuar assistindo ao caos e ao sofrimento diário de quem é obrigado de se movimentar pela região sem tentar encontrar saídas emergenciais.

Uma solução dessa natureza, se bem administrada, não apresenta riscos, mas requer coragem e capacidade de decisão de governantes e autoridades. Precisamos nos unir para analisar propostas que possam diminuir o sacrifício que a população passa.

*Presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj)